27 outubro 2006

Factor Medo!

Por vezes, assistimos a uma ligeira confusão de conceitos por parte dos opinion makers da nossa “praça”. Referem-se a alguns treinadores como sendo defensivos ou excessivamente pragmaticos, mas sem analisarem a fundo o porqué dessas suas afirmações.
O caso mais em voga e mais explícito deste tipo de opinião, são algumas opiniões que lemos acerca do treinador José Mourinho.

Para muitos comentaristas nacionais José Mourinho é um treinador defensivo e pouco espectacular.
Isto leva á seguinte questão: mas afinal o que é ser defensivo? Racionalizar a colocação das peças (leia-se jogadores) em conformidade com o espaço? Procurar “abafar” os espaços livres, em plena transiçao defensiva, para não deixar o adversário construir jogo pensado, rápido e desiquilibrante?
Ou será que operacionalizar uma equipa como um só bloco..sempre unido e articulado é ser defensivo??

Bom, como podem reparar, eu discordo totalmente desses opinion makers e acho que fazem uma total confusão em relação ao factor defensivo e portanto ,em parte, em relação também ao factor medo.
Nunca encarei o realismo dos treinadores menores, ao adoptar uma postura mais espectante em jogos contra clubes ditos “maiores”, como “medo”. Claro está, que essa postura espectante não pode ser traduzida no campo em 10 homens a defender perto da área..e tentativas de transições ofensivas (em contra-ataque por exemplo) 0. No entanto, acredito que pela diferença de capacidade individual dos atletas dos dois tipos de equipa em questão, há que haver uma maior racionalização e preenchimento do espaço defensivo, como forma de tentar equilibrar a balança, sem contudo perder ambição em procurar situações ofensivas bem trabalhadas e “repentistas”.
Aqui, não prevalece mais uma vez o factor medo mas sim um certo realismo e uma certa ponderação em relação a diferentes valias nos diversos critérios de análise á qualidade dos dois tipo de equipa (menores e maiores).


No entanto, o factor medo é patente, quando um treinador num clube apetrechado com atletas de boa qualidade, abdica de princípios ofensivos (o que não invalida o equilibrio) e de uma postura ganhadora.
Tomo como exemplo Jesualdo Ferreira.
Jesualdo é amplamente considerado pela crítica, um treinador realista, sóbrio. Prepara as equipas de forma a existir um equilibrio muito grande entre processos defensivos e processos ofensivos, não denotando características marcadamente ofensivas ou “espectaculares”.
Na sua passagem pelo Sport Lisboa e Benfica, verificamos um jogo que marcou o técnico e que o auto-catalogou de defensivo. Um célebre Porto-Benfica, em que o Benfica se viu em vantagem no marcador e a jogar contra um Porto reduzido a 10, ainda antes do final do primeiro tempo. Nessa altura, todos esperavam um Benfica confiante e dominador na 2ª parte, ou pelo menos uma equipa consciente, sóbria que tentasse pelo menos controlar os espaços, a bola ....o jogo.
A verdade é que o Porto venceu por 2-1, numa 2ª parte extremamente ofensiva e dominadora, perante um Benfica encolhido nas imediações da sua área..procurando de todas as formas tapar os caminhos da baliza. Não mais os adeptos se esqueceram, não mais Jesualdo conseguiu fugir do rótulo de defensivo.


Anos mais tarde, Jesualdo Ferreira chega a um clube com uma filosofia de vitória muito forte, fruto dos anos dourados pelos quais o clube tem passado.
Para trás fica um excelente trabalho no Braga, marcado por seriedade, profissionalismo e sobretudo pela aposta num realismo táctico extraordinário, sempre com o objectivo na obtenção de pontos, mesmo que tal factor significasse um empate.
Para um clube como o Braga, a filosofia adoptada foi acertiva, e as excelentes classificações na tabela assim o comprovam, sem querer de modo algum “camuflar” o dedo mais que visível de um Presidente super competente.

Contudo, o Braga não é o FC Porto, como tal teria que existir uma ponderação numa nova filosofia baseada na já citada dinâmica de vitoria do clube da cidade do Porto.
No Braga, Jesualdo sentiu algum descontentamente de alguns adeptos e simpatizantes, por nos momentos decisivos a equipa mostrar pouca audácia, pouco atrevimento para conseguir mais. Parecia injusto para quem não acompanhou a realidade do clube, mas a verdade é que Jesualdo, no FC Porto, tem dado razão aos críticos que lhe apontaram esses predicados.
O FC Porto, tem neste momento a falange de apoio mais exigente de Portugal. Não só se exigem títulos, como 100% de vitorias em casa e bom futebol. Para tal facto, muito contribuiu os anos dourados de Mourinho que elevou a exigencia dos adeptos a um patamar nunca antes visto. Os adeptos exigem dos jogadores esforço, sacrifício e inspiração a 100%, caso contrário as boas prestações em jogos anteriores são esquecidas (veja-se o caso do Quaresma).
E é baseado neste espírito que o balneário portista absorve a cultura vencedora, e interioriza que nada menos que a vitória interessa. Se é verdade que em termos externos, terá que haver uma “mentalização” que o Porto não será sempre dominador, como foi á poucos anos atrás, em termos internos, o clube tem a obrigação de assumir-se sempre como principal favorito, e como tal, jogar para ganhar em todas as partidas.

E creio que é aqui que Jesualdo peca.
Jesualdo, embora mereça credito por estar á pouco tempo no clube, e todos sabemos que incutir um modelo de jogo, e todos os seus princípios e sub-princípios, não se faz em semanas, ainda não interiorizou a mentalidade exigente e ganhadora dos seus adeptos.
É verdade que o discurso adoptado por Jesualdo, é um discurso positivo, ganhador, diria á dragão, contudo na prática ,ou seja ,no campo, não é isso que se tem verificado, e a verdade é que o descontentamento dos adeptos do clube nortenho aumenta a cada dia que passa, mesmo com o clube a liderar o campeonato (e aqui se ve a exigência reinante nas Antas).
No fundo, um treinador ao adoptar um modelo de jogo, tem de o fazer, não só de acordo com as suas filosofias e ideias, mas também tendo em conta o subsistema cultural do clube que orienta. Obviamente que este subsistema cultura é composto por um conjunto alargado de factores, no entanto, existe um que é importantíssimo manter, quando de facto, ele existe – a cultura de vitória. Esta cultura de vitória exprime-se em campo, num grande ímpeto ao longo das partidas, na capacidade de sacrifício, e numa mentalidade de ambicionar sempre mais.O empate ou a derrota numa exibição que até foi favorável, não é aceitável no ambito desta cultura.
Ora se Jesualdo encontrou esta cultura no FC Porto, tem de a saber manter. Não basta um discurso positivo, coerente e ganhador. É certo que o discurso de Jesualdo é importante, pois todos têm consciência da importância vital do aspecto psicologico no futebol. A mentalidade ganhadora e o sucesso de uma equipa estará sempre dependente da forma como se trabalha a vertente psicológica dos atletas e da forma como se consegue manter uma motivação alta e uma galvanização extrema.
Jesualdo, através do seu discurso, contribui para essa tal motivação, mas hoje em dia, o jogador “tipo” é mais consciente e “inteligente”. Sente os sinais que são passados pelo treinador quer através do seu discurso quer através da estratégia tactica que o treinador “passa” para os atletas.
“ Diz-me como jogas, dir-te-ei como és”, é uma frase que se pode aplicar ao extremo nesta situação.

Mas para perceber ainda mais facilmente as lacunas de Jesualdo Ferreira, vamos a exemplos:
Jogo Arsenal – FC Porto.
Jesualdo na conferência de imprensa adopta uma postura firme e convicta, afirmando que o Porto não iria mudar face ao adversário que iria defrontar, e que seria um jogo onde o Porto procuraria a vitória. Ora, face a uma situação de vitória em todos os jogos realizados por Jesualdo, não se esperaria um certo “abdicar” dos princípios que até aí tinham sido aplicados.
A verdade é que Jesualdo apareceu em Londres, com Cech no meio campo, Ricardo Costa a lateral esquerdo e numa variante do 4-4-2, actuando Quaresma na frente de ataque. Todas estas alterações, e todo este receio de Jesualdo em relação ao adversário, bem patente nas alterações que promovou no onze e no figurino tactico, “passou” para os jogadores um sentimento de receio, de “medo”. A verdade é que todas estas alterações tiveram consequencias nefastas na equipa portista, e viu-se um Porto muito nervoso e receoso (principalmente nos primeiros 25m), encolhendo-se no meio campo defensivo e optando por um postura espectante, permitindo ao Arsenal um “cerco” á area Portista.
Conclusão: derrota portista.

Seguiu-se outro jogo teoricamente complicado.
Jogo Braga-FC Porto
Jesualdo mais uma vez “passou” para os atletas um discurso positivo e convicto na vitória, mas em termos puramento tácticos resolveu lançar para o Municipal de Braga, uma equipa a defender muito recuada, abdicando da pressão, permitindo ao Braga imenso espaço para jogar. Os jogadores demonstraram mais uma vez nervosismo e ansiedade e o Porto voltou a perder.

Numa ultima deslocação complicada, até ao momento, mais 1 prova que Jesualdo se deixa levar pelo “factor medo”.
Jogo Sporting-Porto
Anderson de fora, é lançado P Assunção, numa estratégia que se entende e que até se ajusta ao que teoricamente deveria ser feito.
No entanto, viu-se um Porto novamente espectante (que até se pode entender..pois jogava em casa de um rival directo, que contava já com uma mecanização táctica que passava da época transacta, devido á continuidade do treinador), mas demasiadamente defensiva. 7, 8 jogadores nas imediações da área, abdicando de qualquer tipo de pressão para provocar perdas de posse de bola adversária, permitindo rápidos contra-ataques explorando a velocidade e fantasia dos elementos do ataque portista.
O Porto sacudiu a pressão despejando bolas para a frente, mas como a postura era demasiadamente espectante...não havia homens na frente para ganhar a posse de bola, como tal, em segundos a bola estava novamente na posse do Sporting.
O jogo foi sistematicamente isto, e mesmo quando o Porto (raras foram as vezes) conseguia efectuar transições ofensivas com alguma tranquilidade e alguma estratégia, na hora de alvejar a baliza, nao se encontrava um único elemento para ganhar as chamadas “segundas bolas”.

A verdade é que o Porto de Jesualdo acabou por conseguir um resultado positivo em Alvalade, mas denotou uma total descaracterização daquilo que sempre marcou o Porto e que sempre originou o respeito e o receio do adversário, o que acabava por traduzir em maior domínio e mais vitórias.
É verdade que Jesualdo chegou á pouco tempo, é verdade que é um treinador que opta pelo realismo e pela consistência defensiva, mas toda esta postura contrária ao subsistema cultural do clube, poderá ter consequencias danosas e poderá romper com aquilo que tem sido a cultura de vitória do passado recente do clube.
Com ou sem tempo para a aplicação do seu modelo de jogo, o técnico terá de entender aquilo que é o clube e aquilo que sempre o marcou.

Ao FC Porto exige-se pressão, atitude e uma veia claramente ofensiva. Exige-se que os adversários sejam “abafadas” para que a posse de bola esteja mais tempo do lado Portista, permitindo-lhes assim maior domínio do jogo e encostar os adversários á sua defensiva.
O factor medo não é permitido no Dragão, e os adeptos ,cada vez mais, exigirão outro tipo de atitude.

25 outubro 2006

Futebol de Formação - revisão semanal

Cada vez mais, assistimos a uma consciencialização da importância do Futebol de Formação no futuro, quer desportivo quer financeiro, dos clubes.
A aposta do Sporting é clara, o SL Benfica vai no 2º ano do seu Projecto Geração Benfica e o FC Porto acaba de apresentar o seu projecto – “Visão 611”.
Estes são sinais claros do que nos espera no futuro, e sinais claros que a própria classe dirigente se está a mentalizar para uma nova era no Futebol Português.
Assim, parece-me de todo pertinente iniciar ,doravante, uma revisão semanal daquilo que se vai passando nos campeonatos nacionais do Futebol de formação, de forma a que também os adeptos, se consciencializem da importância da formação, e passem a dispender um pouco mais de atenção á mesma, principalmente com apoio e incentivo “in loco” nos jogos dos “mais pequenos”.


Campeonato Nacional de Juniores A


Este fim de semana não assistimos a grandes surpresas no campeonato.
Na zona Norte, o FC Porto mantém-se isolado na frente, depois de obter uma goleada em casa frente ao Vizela e de assistir ao empate da surpreendente equipa do Candal e da derrota do Vitoria de Guimarães.
Por outro lado o Boavista ,depois de um início comprometedor, parece estar de volta á boa forma, conseguindo uma vitória expressiva (8-1) frente á União de Coimbra.

A nota de destaque deste campeonato vai efectivamente para o Candal, clube gaiense.
O Candal tem feito uma forte aposta no futebol de formação e dois factores me parecem vitais para este sucesso aparente da política do clube.
Em primeiro lugar, as excelentes infra-estruturas que dispõe, contando com um belo complexo desportivo, onde os atletas dispõe de todas as condições para evoluírem.
Em segundo, os protocolos de colaboração que o clube tem assinado com clubes ditos “maiores”. A época passada, a equipa apostou numa ligação ao Boavista, contando nas suas fileiras com alguns jogadores axadrezados bastante promissores. Este ano, o apoio surge do FC Porto.

Resultados relevantes:

Boavista 8-1 U. Coimbra
FC Porto 7-2 Vizela
Guimarães 1-2 Rio Ave
Académica 2-2 Candal


Na zona Sul, a competitividade é enorme, mas também não se registaram surpresas.
A equipa sensação da Amadora, continua em 1º lugar, relegando para lugares inferiores Sporting, Belenenses e SL Benfica.
Nesta jornada, o Estrela venceu ,fora de casa, o Belenenses, conseguindo dessa forma mais um grande resultado.
O Benfica deslocou-se a Oeiras e sem dificuldades bateu a equipa local (destaque para o central encarnado Miguel Vitor que apontou 2 golos), ao passo que o Sporting recebeu e venceu o Real.
De referir ainda, que o Setúbal continua numa maré de “crise”, voltando a perder, desta feita na casa dos Pescadores, vendo-se assim “relegados” para o penúltimo lugar.

Resultados relevantes:

Belenenses 1-2 Estrela
Oeiras 0-2 Benfica
Sporting 1-0 Real
Casa Pia 1-0 Lusit. VRSA



Campeonato Nacional de Juniores B

O campeonato Nacionail de juvenis encontra-se parado, devido a compromissos da selecção Nacional de Sub 17, que se encontra na Bélgica para um Torneio Internacional.


Selecções Nacionais

Ficam aqui as duas últimas convocatórias das selecções de sub16 e sub18.

Sub-18
Belenenses: Filipe Godinho
Benfica: André Carvalhas, Miguel Rosa, Miguel Vítor e Romeu Ribeiro
Boavista: Alexandre Sá, Pedro Moreira, Raul Babo e Ricardo Neves
Candal: Valter Fernandes
FC Porto : André Pinto, António Graça, Marco Aurélio e Tiago Cintra
Leixões: André Simões
Rio Ave: Faria
Sp. Braga: Stélvio Cruz
Sporting: André Martins, Adrien Silva, Bruno Matias, Jorge Abreu, Rui Lopes, Tiago Pedrosa e Vivaldo
União Lamas: Filipe Melo
V. Setúbal: Sérgio Martins

Sub-16
Barcelona: Alexander Zahavi
Barreirense: Pedro Costa
Benfica: André Jesus, Artur Lourenço, Nelson, Oliveira e Ricardo Semedo
Boavista: Fábio Costa e Nuno Soares
FC Brussels: Davide Rodrigues
FC Porto: Alexandre Freitas
Marinha: João Guerra
Padroense: Filipe Espincho, João Garcia, Pedro Branco, Ricardo Dias e Rui Caetano
Pasteleira: Manuel Batista
Sporting: Cédric Soares, Luís Almeida, Mário Rui, Nuno Reis, Ricardo Alves e Ruben Luis
Sp. Braga: Nuno Valente e Tiago Gomes
V. Guimarães: Claudio Ramos, Fernando Alves e Rafael



Análise da semana

O FC Porto recebeu e bateu sem apelo nem agrado, no escalão de Juniores A, o Vizela por 7-2. Mais 1 vez, o FC Porto tem demonstrado ser um dos grandes candidatos a atingir a fase final e portanto torna-se oportuno analisar o seu onze titular e a forma como os jogadores se dispões tacticamente em campo.


O FC Porto jogou no 4-3-3 que se transformou várias vezes no claro 4-2-4. Rui Pedro, o vértice ofensivo do meio campo Portista gozou de enorme liberdade, aparecendo diversas vezes como 2º ponta de lança, denotando um grande entrosamento com o ponta de lança Marcelo. Por outro lado, os alas ,quase sempre solicitados em passes longos do central Bura (excelente capacidade de passe) ou do médio incansável Castro, procuraram ganhar as costas da defensiva em diagonais em velocidade e rápidos cruzamentos para a área.
As notas de destaque vão claramente para inteligência de movimentos do “criativo” Rui Pedro (que também é goleador) e para a capacidade de trabalho e de luta do médio Castro, que devido á forma como encara cada partida e cada lance, atingirá certamente o patamar do Futebol Profissional (ficando no entanto algumas dúvidas..se o conseguirá no Porto). Por ultimo, destaco Bura, um central bastante alto e possante e com uma capacidade de passe longo acima da média.

nota: a vermelho os passes "tipo" do FC Porto



Assim me despeço.
Até para a semana e lembrem-se: Apoiem o Futebol de formação

11 outubro 2006

Desilusão

Noite desastrosa!
Portugal deslocou-se á Polónia para defrontar a selecção local, e acabou batida sem apelo nem agrado, numa pálida exibição.

Scolari dizia antes da partida que um ponto seria bom.
A verdade é que as palavras de Scolari parecem ter afectado de forma nefasta a selecção nacional, que entrou nervosa e receosa.
Mesmo com uma Polónia inicialmente permissiva, Portugal não procurou controlar o jogo e no primeiro erro defensivo acaba por sofrer um golo. A partir daqui foi uma espécie de efeito de bola de neve, pois os jogadores precipitaram-se, o futebol colectivo não saiu e num segundo erro defensivo, novo golo Polaco.

Na 2ª parte, Portugal foi assumindo ,aos poucos, o jogo, mas com uma Polónia a consentir a posse de bola aos portugueses, procurando explorar com perigo o contra-ataque.
O golo de Nuno Gomes não apaga a péssima imagem que Portugal deixou no jogo.




Dinâmica de Portugal

Portugal entrou na partida assente num 4x3x3.
A defensiva foi composta por: Ricardo na baliza, Miguel e Nuno Valente nas laterais e R Carvalho e R Rocha na zona central. Com a inclusão de Petit como interior direito, Miguel parecia gozar de mais liberdade para subir, a verdade é que nunca o conseguiu fazer. Por outro lado, Nuno Valente pareceu sempre algo estático e muito lento.

No meio campo, á partida poderíamos estar perante uma selecção nacional com 2 pivots defensivos, mas não foi o que aconteceu.
Costinha jogou perto dos centrais (esteve francamente mal o numero 6 da selecção), com Petit e Deco a formarem a base de um triângulo. Petit apareceu com a missão de dar equilíbrio nas transições defensivas, apoiando nas dobras e auxiliando Costinha, sem contudo aparecer no terreno excessivamente recuado. No entanto, Petit não é um médio de transição e mais uma vez ficou bem patente a incompatibilidade com Costinha, uma vez que a equipa ficou “vazia” de ideias, sem qualquer capacidade de transição, obrigando Deco a jogar demasiadamente longe de Nuno Gomes, e com o luso-brasileiro a ter um grande desgaste na procura excessiva da bola em terrenos muito recuados.
O “mágico” Português, á partida, teria como função a organização do Futebol ofensivo Portugues, apoiando Nuno Gomes ou em alternativa arrastando as marcações para a ala esquerda abrindo espaço para o médio de transição aparecer vindo de trás, algo que Petit nunca conseguiu.

Na frente, Nuno Gomes apareceu sempre demasiadamente sozinho, perdendo-se no meio da defensiva polaca. Apesar das constantes movimentações e procura de bola, Nuno Gomes viu-se muito desapoiado ..o que lhe impossibilitou de fazer aquilo que melhor sabe, jogar em tabelas de costas para a baliza, e aparecer no espaço.
Simão na ala esquerda também não teve grande sucesso, tendo sido anulado com alguma facilidade pelo lateral polaco.
Na direita, Ronaldo foi uma sombra de si mesmo. Cabia-lhe a função de procurar desiquilibrios, quer aparecendo mais no apoio a Nuno Gomes, quer na procura de flanquear o jogo. A verdade é que o jogo não saiu bem ao jovem talento portugues, e a equipa nacional ressentiu-se de isso mesmo.


As mexidas

Scolari demorou a mexer na equipa.
A perder por 1-0 não seria lógica mudanças imediatas, mas logo a seguir ao segundo golo polaco exigia-se mexidas e acertos ..algo que Scolari nunca fez.
Demorou a analisar o jogo, e só ao intervalo procurou mudar.

E a primeira alteração demonstra de forma clara o arrependimento do seleccionador nacional em apostar em 2 jogadores (no miolo) de características quase exclusivamente defensivas.
Retirou o apagado e fora de forma Costinha, lançando Tiago.
Ora Petit recuou para trinco, com Tiago a aparecer como médio de transição, permitindo a Deco jogar mais á frente, num maior apoio ao ponta de lança e procurando as segundas bolas. Contudo salienta-se ,mais uma vez, a colocação de Deco. Pareceu sempre excessivamente posicionado á esquerda do meio campo nacional.
Por outro lado, Scolari pediu a Ronaldo um posicionamento mais interior de forma a aparecer como segundo ponta de lança sempre que possível.

Aos 67m a substituição esperada, natural..mas demasiadamente retardada.
Nani entra para o lugar de Petit, ocupando a ala direita.
Scolari altera o sistema táctico, apostando num 4x4x2 que se desdobrou diversas vezes num 4x2x4. Com Nani e Simão nas alas, Ronaldo junta-se a Nuno Gomes no centro do ataque, com Deco e Tiago a repartirem tarefas no meio campo.
Mas onde estão as rotinas de jogo neste sistema táctico? Onde estão as rotinas do plano B?

Aos 82 minutos, sai o fatigado e algo desinspirado Deco para dar lugar a Maniche. Foi a tentativa de refrescar o meio campo, sem grandes alterações estruturais significativas.


Conclusões

O discurso pouco ambicioso de Scolari ,antes da partida, acabou por se reflectir na forma como abordou o jogo.
Uma equipa receosa, com dificuldades nas transições ofensivas e sem qualquer tipo de ligação ao ponta de lança.
A falta de soluções também foi evidente, e fica patente o erro de Scolari em não ter chamado logo á partida um outro ala, e na ausência de Hugo Almeida por lesão …um outro avançado. É inconcebível Scolari contar apenas com uma solução ofensiva no banco de suplentes.
Por outro lado, as alterações tardaram e não foram as mais indicadas.

De qualquer forma, a “culpa não morre solteira”, uma vez que foi notório o sub rendimento de alguns atletas da selecção e a grande dependência da selecção na capacidade de transição de Maniche, que estranhamento foi apenas utilizado durante 10 minutos.


Portugal sai derrotado sem apelo nem agrado, e adivinha-se uma campanha de qualificação complicada.
8 anos depois, a selecção das quinas perde numa fase de qualificação.

Sub21 á lá Couceiro

Portugal conseguiu ontem uma reviravolta histórica vencendo sem apelo nem agrado os Russos, por 3-0, resultado mínimo necessário para dar a volta á eliminatória.
No fundo, fez-se justiça pois a selecção das quinas mostrou sempre ter mais qualidade e mais condições para estar presente no Europeu.
Ainda em clima de festa, é tempo de balanço e na minha opinião o balanço é muito pouco positivo.

Os adeptos Portugueses estão habituados nos últimos anos a verem grandes jogadores evoluírem na selecção sub21.
A verdade é que a selecção nacional era apontada como um candidato “crónico” ás vitórias nas competições Internacionais, no entanto com esta selecção não creio que se passe o mesmo.

Á primeira vista a selecção apresenta diversas lacunas e algum défice de qualidade.
Vejamos:

Guarda Redes
Na baliza aparece Paulo Ribeiro como dono da baliza. Paulo Ribeiro tem demonstrado ser um guardião pouco seguro e sobretudo muito intranquilo. Não dá garantias de estabilidade e a “tremideira” poderá vir ao de cima numa competição internacional.
Para o banco, Couceiro chamou Ricardo Baptista, um ilustre desconhecido, pois actua em Inglaterra e os adeptos Portugueses ainda não tiveram a hipótese de o ver em competição.

Laterais
Nas faixas laterais aparece o primeiro grande problema de Portugal.
João Pereira e Filipe Oliveira são as soluções para a lateral direita, deixando bem patente o défice de qualidade que temos. 2 jogadores que sabem subir no terreno mas demasiadamente irregulares no processo defensivo.
Na esquerda a falta de soluções é bem patente. Miguel Veloso, atleta que tem feito uma excelente temporada como trinco no Sporting, e que se foi impondo nas camadas jovens como central, aparece como lateral esquerdo adaptado. Não podemos negar que vai cumprindo, mas a verdade é que parece claramente desaproveitado nesta adaptação e em termos de profundidade ofensiva não consegue fazer a diferença.

Centrais
Manuel da Costa parece ser garantia de qualidade, no entanto, Amoreirinha tem muita coisa a provar e é conhecido por perder a cabeça nas situações de maior tensão. A alternativa a estes 2 elementos chama-se Rolando, mais um central com algum défice de qualidade.

Meio campo
No meio campo aparecem duas grandes figuras. Paulo Machado e sobretudo Moutinho. São dois elementos com muito pulmão, com boa visão de jogo e com qualidade para liderarem o jogo Português. A eles juntam-se Ruben Amorim, “um afilhado” de Couceiro, que tem alguma qualidade mas que dificilmente fará a diferença. Por outro lado, Organista será o garante defensiva da equipa. É um jogador inteligente e com boa capacidade atlética. Não é um grande jogador, mas é um jogador de colectivo. Ainda poderemos integrar neste lote Antunes. Antunes poderá desempenhar as funções de defesa esquerdo e de interior esquerdo, mas será que este atleta continuará a integrar as convocatórias?

Alas
É nas alas que reside a força de Portugal.
Nani, apesar de integrar a selecção principal, poderá ser uma arma a utilizar no Euro Sub21. É um jogador de inegável talento e um desiquilibrador nato. Vieirinha é outro elemento que poderá fazer a diferença, quer pela velocidade quer pela qualidade no drible e no remate. Surgem ainda os nomes de Diogo Valente, esquerdino de grande raça, e Hélder Barbosa, um benjamim que incute uma velocidade e uma capacidade de drible estonteantes. Será que o Hélder irá ser utilizado em competições distintas (sub21 e sub20?)?

Avançados
Na frente, Portugal deixa de contar com um elemento mais estático como o Hugo Almeida, apostando em atletas mais móveis e versáteis, como são os casos de Varela, João Moreira, Djaló e Vaz Té.
Djaló é um jogador de explosão e poderá ser uma peça importante. Varela pela qualidade técnica e pela capacidade atlética é sem dúvida um nome a ter em conta. Vaz Té, precisa ainda de crescer muito como jogador para conseguir uma plena afirmação, contudo é o jogador com maior “killer instinct” com que Portugal conta. Por fim, João Moreira tem desiludido…mas vamos ver.


Conclusão:
Portugal apresenta desiquilibrios e défices de qualidade em diversas posições do terreno. Por outro lado, o modelo de jogo pretendido por Couceiro parece, ainda, pouco interiorizado e o tempo vai-se esgotando.

Em termos de sistema táctico Portugal poderá apresentar-se quer num 4x3x3 quer num 4x4x2, embora as características dos jogadores apontem para um 4x3x3, com 2 alas bem abertos.
Couceiro tentará incutir dinamismo e velocidade no ataque, apostando na fantasia dos alas, e por outro lado procurando retirar de Machado e Moutinho uma natural capacidade de pegar no jogo.
Será ,contudo, necessário rever os processos defensivos, pois Portugal apresenta lacunas várias no sector, e o factor de actuar com alas bastante ofensivas..retirará alguma coesão defensiva ao bloco.

O Europeu está á porta, e a verdade é que Portugal não parece ter a equipa ideal para lutar por um lugar cimeiro.
Couceiro terá que saber gerir muito bem este grupo e terá que retirar da “cartola” estratégias para tapar as lacunas sérias e patentes na equipa Nacional. Mas será Couceiro o treinador ideal para isso??