24 maio 2010

Inato? Talvez! Ou talvez não...

José Mourinho é o Homem do momento!

A forma como um só Homem se conseguiu sobrepôr a dois grandes clubes da europa, a uma grande competição e a um jogo que é visto por mais de 200 milhões de pessoas, é um fenomeno assombroso.
De facto, nas duas semanas que antecederam a final da Champions League, apenas se falou de José Mourinho e a sua possível transferência para o todo poderoso Real Madrid.
Mourinho, estrategicamente, chamou a si todas as atenções. Sabia que com isso iria retirar pressão dos jogadores, lhes garantiria a tranquilidade necessária para trabalharem e prepararem a final das suas vidas.
Mas com a sua exposição abafou tudo o resto, num processo que tem tanto de surpreendente como, de forma quase contraditória, de natural, abafou o adversário. Van Gaal viu-se obrigado a falar de Mourinho, os jogadores de ambas as equipas falaram de...Mourinho, e de repente um dos maiores eventos do desporto mundial, passou a estar na sombra, na sombra de um fenomeno, de um case study, José Mourinho!

Tal como se previa, o Inter venceu, Mourinho venceu.
Como o próprio havia dito: “as finais não se jogam, ganham-se”! Mais uma vez provou isso mesmo.
Mas mais do que me centrar na vitória e na caminhada triunfal e convicta que Mourinho tem feito até ao patamar de melhor treinador da História do Futebol, caminhada que estou certo que chegará ao seu destino, a mim interessa-me mais compreender o Homem por detrás da personagem.
A liderança de Mourinho gera discussão, estudo, intriga, curiosidade. A sua personalidade também.
Arrogante, some say, confiante dizem outros, capacidade inata dizem alguns especialistas.
Na minha opinião a liderança tem um pouco de inato mas sobretudo tem muito de estudo, aprendizagem, conhecimento e posteriormente prática.

Quem tem a oportunidade de privar com José Mourinho sabe que o homem é diferente da “personagem”.
Afável, muito divertido, cómico, “boa onda”! Este é Mourinho na intimidade, este é José Mourinho, Homem.
Muitos perguntar-se-ão, mas os seus comportamentos públicos não fazem transparecer esse José. Pois não, mas um Homem não é os seus comportamentos. Esta convicção, de qualquer bom Coach (por exemplo), permite-nos acreditar que cada Homem pode melhorar, pode alterar os seus comportamentos. Mas é uma convicção que também permite perceber que podemos enveredar por determinados comportamentos porque queremos atingir determinados resultados e como tal apoiamo-nos na flexibilidade para os obter.

José Mourinho, o treinador, não é mais do que isso.
Um Homem de quadrante 2, ou seja prático-racional, que se centra sobretudo nos seus objectivos, no entregar resultados. Tudo o que diz ou faz tem em vista a obtenção de resultados, o atingir objectivos, sobretudo os seus, algo que é muitas vezes encarado como egocentrismo.
Contudo, e porque tem bem delineados os seus objectivos, revela a flexibilidade necessária para os atingir. De repente invade o quadrante 4, revela uma faceta colectiva, de grupo, de eu por eles, como forma de “agarrar” um balneário e garantir que todos remam para o mesmo lado.
Parece fácil, mas não é! A flexibilidade é muito difícil de atingir, requer muito treino e muita auto-confiança.

Por outro lado, questionamos o segredo do sucesso da sua liderança.
Fala-se muito em capacidade inata mas esquecemo-nos que para atingir o nível de Mourinho foi preciso muito treino, a obtenção de ferramentas para se atingir o topo.
O jogador treina e procura potenciar as suas capacidades para ser melhor. O treinador tem que fazer o mesmo.
Mas mais do que a obsessão pelo treino, pela táctica, pela estratégia, o treinador deve ter sempre em mente: “o treinador que apenas de futebol sabe, de futebol nada sabe”.
É, de facto, uma verdade irrefutável.
Para atingir o topo Mourinho foi exigente consigo mesmo. Procura incessantemente informação, ferramentas.
Começou a sua actividade muito cedo, ainda criança diria, apostou na sua formação académica. Enquanto nos centramos na “ciência do treino”, Mourinho alargou horizontes, tornando-se a primeira pessoa em Portugal a certificar-se em programação neurolinguística.

E é dessa forma que chego a esta conclusão..
Muitos defendem-se com o inatismo da questão para se auto-justificarem do porqué de não atingirem o patamar de muitos outros.
Para mim, e com a experiência e informação que vou recolhendo, mais do que a questão do inato, o conhecimento é fundamental!
E Mourinho, meus caros, é o maior exemplo disso mesmo!

Parabéns “Special One”!!

14 maio 2010

A minha forma de estar no Futebol

Na Vida, e em particular no Futebol, percebi que a vida dá muitas voltas.

Por essa razão, por um conjunto de valores e crenças que estruturam a minha pessoa e por acredito que devemos ser sempre verdadeiros e transparentes e gratos a quem nos estende a mão ou nos trata com respeito e consideração.

Esse tem sido o meu lema.
Sei que em determinados momentos tudo parece apontar para ser mais benéfico comportar-me, agir de uma forma diferente, quiça menos "verdadeiro". Sei que em alguns momentos da vida fica a "ilusão" que são esses os que vencem na vida, que conseguem atingir mais rapidamente os seus objectivos.
Contudo, norteio-me por valores. E tenho uma crença enorme nos mesmos. Como tal, prefiro ir devagar, devagarinho mas sem pisar ninguém e sempre consciente de qual o meu espaço.


O busílis da questão é que aquilo que hoje é verdade amanha pode ser mentira e portanto prefiro garantir que as pessoas me olhem com respeito e consideração por quem sou e não por quem tento passar ser.

Acredito que essa seja a maneira mais correcta de estar na Vida e em particular no Futebol.
E a cada dia que passa vou tendo a prova que esse é o caminho!

10 maio 2010

Sempre em busca de um ponto B!

Olá a todos,

Decidi reativar este espaço.
No fundo, decidi dar continuação a um espaço que me é muito querido, de um espaço que um dia prometi nunca abandonar.

Para quem não me conhece nem acompanhou este espaço, foi exactamente um espaço como este blog, onde se teoriza, desabafa, analisa ou se expõe, que acabou por estar na origem da minha carreira no mundo do futebol.
No início este espaço era apenas um aderir “á moda”, um ceder ao fascínio de possuir um espaço público onde tivesse a oportunidade de me dar a conhecer aos outros.
Fui divagando, fui sendo verdadeiro comigo e convosco. Disse também muitas asneiras.
Parece estranho não é? Admitir que disse muitas asneiras...
Mas é verdade, acredito que nos encontramos em constante evolução e que a realidade não é igual para cada um de nós. Cada qual tem uma representação da realidade que é diferente da realidade do parceiro do lado.
E um dos pontos essenciais que estão na construção dessa realidade é o conhecimento.
A nossa realidade deriva de certa form do nosso conhecimento. Quando não o possuimos vivemos certamente uma realidade diferente daquela que viveriamos se possuissemos mais conhecimento.
Mas adiante...

Para reinício de actividade deste blog, julgo que o mais lógico passa por retomar do ponto onde o blog terminou.
Este blog terminou, sensivelmente, no ponto em que passei a ocupar-me profissionalmente em futebol.
Ou seja, iniciei a actividade deste blog como mero adepto, dei-lhe seguimento encontrando-me nos primeiros passos da minha carreira e abandonei-o quando a carreira tornou-se mais séria, mais profissional.
Vou então retomar a partir daí, fazer uma restrospectiva do que foi e é hoje a minha actividade no Futebol.


Começo por aquilo que me parece mais importante, a “ironia”.
A normalidade diz-nos que um qq individuo prepara-se para o profissionalismo começando pela formação (académica e não só) e depois aplica os seus conhecimentos na prática, algo que lhe garante a experiencia necessária para ir evoluindo e para formar novas ideias, etc.
A minha carreira começou de forma diferente. Comecei pela experiencia e só nos últimos anos procurei a formação.
Ou seja, ao contrário do que seria natural..não sou formado academicamente em Desporto. Sou formado em Relações Internacionais e também nunca fui um praticamente de referência ou sequer um praticante regular do desporto federado. Era sim um grande apaixonado não só pela prática mas sobretudo por todo o fenómeno, por compreender o jogo, os porques, etc.
E foi esse fascínio que me levou, desde criança, a procurar e devorar informação, a procurar evoluir, a construir ideias, a tecer análises.
Algumas dessas ideias e análises foram expostas neste blog e pelos vistos eram de alguma forma válidas, pois do nada surgiu-me um convite para integrar, ainda que de forma amadora, um departamento de prospecção de um grande clube nacional.
Se até então havia “decidido” interiormente que nunca teria hipótese de garantir o meu espaço no futebol (hoje percebo que era apenas o medo de sair da minha zona de conforto e ir atrás do meu sonho, quiça o medo de me dizerem não, de me fecharem portas), de repente a oportunidade que me deram (e a quem me deu a oportunidade estarei eternamente grato) foi o click que eu precisava, a motivação que eu precisava para deixar de lado o receio e lutar para ser cada vez melhor e garantir o meu espaço.
Por espaço peço que o compreendam como a possibilidade de fazer o que gosto, no desporto que amo, de uma forma profissional. Mas nunca, nunca, pensei em garantir o espaço por algum motivo de ordem financeira, aliás porque o futebol é incerto, sinto que por vezes me sacrifico em termos materiais de forma a continuar o meu “quest”, o meu caminho.

E foi a experiencia em prospecção e a vontade de provar a mim mesmo e aos outros que reunia o que é necessário para ter sucesso e apresentar resultados, que me levou a uma busca incessante de informação, me levou a um processo de formação que julgo que nunca terminará.
Comecei a tentar dominar as realidades da minha actividade. Contudo pelo meio surgiu uma nova oportunidade, a de estar ligada ao treino, ao liderar uma equipa de competição.
Essa oportunidade veio-me trazer plena realização, porque é realmente o que amo, mas também teve o efeito de aguçar ainda mais o meu “apetite” pelo conhecimento.
O querer ser cada vez melhor, o querer compreender todos os pormenores, o querer atingir objectivos cada vez mais ambiciosos, levam-me a ler dezenas de livros, dezenas de monografias e teses de doutoramente, a inscrever-me em dezenas de seminários e a procurar formações na área desportiva.
Em mim existe uma espécie de “fome”. É uma sensação de insaciablidade, quero mais e mais.
Da experiência do treino tenho aprendido muito, tenho aplicado, questionado, confrontado e depois chego a conclusões. Tenho por hábito questionar permanentemente o meu trabalho e os resultados que resultam do meu trabalho. Acredito que o questionar nos leva a evoluir e a procurar ser melhores.

A estas duas actividades, prospecção e treino, juntou-se a de colunista futebolístico.
Ou seja, cumpri o sonho de criança de ter um espaço meu numa publicação nacional para falar de temas que me interessam muito: o futebol de formação.
Este conjunto de experiencias que a escrita me proporcionou, assim como a possibilidade de entrevistar os treinadores de renome, contribuiram ainda mais para a minha busca do conhecimento.

Por último e porque acredito que se espalharmos muitas sementes hoje, e isso consegue-se com provas inequívocas perante os outros de trabalho, vontade, eficácia, resultados, vamos colher fruto amanha, uma dessas sementes deu resultados e surgiu a oportunidade de trabalhar na Liga Vitalis, na área específica de análise de adversários.
Pode parecer uma área monótona, mas é certamente uma área muito enriquecedora.
Obriga-nos a analisar ao detalhe, a dedicar tempo aos detalhes, ao questionar a nossa própria concepção de jogo, etc.

Ou seja, em 5,6 anos, tenho vivido um pouco de tudo.
E em jeito de conclusão, julgo que a multidisciplinaridade é fundamental.
Mais curioso é perceber que actividades aparentemente diferentes (embora tendo por base a mesma área) se complementam e são mais valias umas nas outras.
A minha formação académica, que não está relacionada com Futebol, permite-me, de alguma forma, encarar o fenómeno Futebolístico com um olhar menos “absorvido pelo sistema”. Ou seja, permite-me “avaliar” de outra forma, sem estar condicionado por “verdades absolutas” típicas do mundo futebolístico. Ao mesmo tempo garantiu-me maior preparação em áreas tão diferentes mas que podem ser extremamente úteis como a diplomacia, a comunicação, a gestão, etc, todas elas áreas que podem ser extremamente úteis, pois como já ficou célebre a expressão: o treinador que apenas de futebol sabe, de futebol nada sabe.
O trabalho em prospecção de talentos permitiu-me garantir conhecimentos e experiências muito úteis. Permitiu-me aprofundar a análise de jogadores, o que procurar num jogador, a margem que os jovens atletas têm ou não, o tipo de características que parecem ser mais “importantes”, por assim dizer, para quem um atleta chegue a top, garanta rendimento, sucesso.
Por outro lado garante-me conhecimento de mercado, fez-me ganhar uma enorme rede de contactos (um dos bens mais valiosos na sociedade de hoje).
Tem sido uma experiência fantástica, até porque como se trata de servir uma Instituição de topo, também nos exige diariamente um trabalho e resultados de topo.

Depois veio, á uns anos, o início da experiencia como treinador.
No fundo, abriu-se a porta da minha paixão e daquilo que quero fazer profissionalmente na minha vida.
A paixão pelo treino é cada vez mais intensa. O crescente conhecimento em relação á área do treino cria-me, ao contrário até do que esperava, cada vez mais fascínio e paixão por esta actividade.
Julguei que o sentido seria inverso. Tal como acontece muitas vezes na vida, aquilo que poderia começar como uma grande paixão, poderia tornar-se numa relação estável mas sem chama.
A verdade é que a chama é intensa e parece ser cada vez mais forte.
Aliei ao conhecimento teórico a experiência prática.
O futebol vive de resultados, desportivos e não só. Todos os anos tenho objectivos para cumprir, felizmente todos os anos os tenho alcançado.
Mas sou-vos sincero, muitos dos resultados que afirmo ter alcançado são resultados que derivam do “falhanço”. Parece contraditório mas não é!
É verdade que me encontro satisfeito com os resultados desportivos alcançados, é verdade que estou contente com o futebol que as minhas equipas praticam, mas também é verdade que o hábito de questionar diariamente o que faço, me tem levado a concluir que errei muitas vezes e através desses erros procuro evoluir para patamares superiores.
A minha vida hoje em dia é isso mesmo. Buscar informação, criação de ideias próprias tendo por base teoria e experiencia prática, tirar conclusões, questionar o que foi feito e concluir que determinadas coisas foram acertadas e portanto o objectivo será mante-las, mas determinadas coisas estavam erradas e portanto alterar para conseguir o resultado pretendido.
É fascinante, caros amigos! É uma luta interna muito saudável!

A experiencia do “jornalismo” fez-me perceber e compreender o fenómeno pelo lado da imprensa.
Percebo e relativizo as questões típicas do jornalista a um profissional de futebol, relativizo algumas das afirmações que são feitas, entendo o que a imprensa espera ouvir e como contornar situações delicadas, como gerir a informação que é passada, etc.
Deu-me alguma preparação naquilo que é hoje fundamental no fenómeno futebolístico: a comunicação para o exterior.

Por fim, a observação e análise de adversários.
A mesma permite-me ter uma realidade muito sustentada dos tipos de futebol que se praticam, das ideias que se defendem, das acções que se tomam em determinadas alturas.
No fundo permite-me estabelecer padrões. E são esses padrões que me poderão ser muito úteis na competição.
Baseado nas minhas convicções, nas minhas ideias, procuro perceber de que forma posso tirar proveito dos padrões que registei, de que forma isso me pode garantir resultados!
É muito interessante, enriquecedor e uma experiencia que complementa todas as outras.


Ou seja, esta multidisciplinaridade que vos falo, será, segundo a minha crença, aquilo que me irá permitir ter sucesso, que me irá permitir ser superior em termos de resultados (pq só os resultados poderão ser de alguma forma palpáveis) aos outros.
E de repente todas estas experiencias profissionais e vivencias que a elas estão associadas, me tornaram mais completo e se complementam tornando-me um profissional mais versátil mas também mais preparado para os desafios do futuro.

É neste patamar que me encontro hoje.
Sinto-me realizado na minha actividade, mas quero sempre mais. Ambiciono lutar por objectivos cada vez maiores e nunca caio no erro de me contentar com o que tenho hoje.
Existe sempre um ponto A, o ponto onde estou agora, e um ponto B, o ponto para onde quero ir.
Chegar ao B depende apenas da minha vontade de deixar a minha zona de conforto e aceitar entrar em zonas de desconforto, até em zonas de pânico, para atingir o objectivo seguinte.
E quando chegar ao ponto B, certamente que irei querer atingir o ponto C, é essa busca incessante por mais e mais que nos fazem manter a motivação para sermos cada vez melhores naquilo que fazemos.

Portanto realização é apenas um ponto de partida, pois acredito que mesmo estando bem posso estar sempre melhor e independentemente dos obstáculos, estarei preparado para lutar por aquilo que quero, pelo meu sonho, trabalhar no desporto que amo, o Futebol.
E como ser melhor? Acumulando incessantemente conhecimento, experimentando na prática, recolhendo vivencias próprias e dos outros, acumulando no fundo...experiência.

É sobre estes novos objectivos que vos irei falar com alguma regularidade neste espaço.
E a título de exemplo, é com um sorriso nos lábios que perdi algumas horas a ler este espaço e entendi que muitas das minhas crenças da altura, da tal minha realidade do passado, hoje em dia são crenças completamente distintas e o conhecimento e a experiencia que adquiri entrentato faz-me “viver” numa realidade bem diferente!
Um abraço e bem vindos de volta a esta "humilde casa"!