24 maio 2010

Inato? Talvez! Ou talvez não...

José Mourinho é o Homem do momento!

A forma como um só Homem se conseguiu sobrepôr a dois grandes clubes da europa, a uma grande competição e a um jogo que é visto por mais de 200 milhões de pessoas, é um fenomeno assombroso.
De facto, nas duas semanas que antecederam a final da Champions League, apenas se falou de José Mourinho e a sua possível transferência para o todo poderoso Real Madrid.
Mourinho, estrategicamente, chamou a si todas as atenções. Sabia que com isso iria retirar pressão dos jogadores, lhes garantiria a tranquilidade necessária para trabalharem e prepararem a final das suas vidas.
Mas com a sua exposição abafou tudo o resto, num processo que tem tanto de surpreendente como, de forma quase contraditória, de natural, abafou o adversário. Van Gaal viu-se obrigado a falar de Mourinho, os jogadores de ambas as equipas falaram de...Mourinho, e de repente um dos maiores eventos do desporto mundial, passou a estar na sombra, na sombra de um fenomeno, de um case study, José Mourinho!

Tal como se previa, o Inter venceu, Mourinho venceu.
Como o próprio havia dito: “as finais não se jogam, ganham-se”! Mais uma vez provou isso mesmo.
Mas mais do que me centrar na vitória e na caminhada triunfal e convicta que Mourinho tem feito até ao patamar de melhor treinador da História do Futebol, caminhada que estou certo que chegará ao seu destino, a mim interessa-me mais compreender o Homem por detrás da personagem.
A liderança de Mourinho gera discussão, estudo, intriga, curiosidade. A sua personalidade também.
Arrogante, some say, confiante dizem outros, capacidade inata dizem alguns especialistas.
Na minha opinião a liderança tem um pouco de inato mas sobretudo tem muito de estudo, aprendizagem, conhecimento e posteriormente prática.

Quem tem a oportunidade de privar com José Mourinho sabe que o homem é diferente da “personagem”.
Afável, muito divertido, cómico, “boa onda”! Este é Mourinho na intimidade, este é José Mourinho, Homem.
Muitos perguntar-se-ão, mas os seus comportamentos públicos não fazem transparecer esse José. Pois não, mas um Homem não é os seus comportamentos. Esta convicção, de qualquer bom Coach (por exemplo), permite-nos acreditar que cada Homem pode melhorar, pode alterar os seus comportamentos. Mas é uma convicção que também permite perceber que podemos enveredar por determinados comportamentos porque queremos atingir determinados resultados e como tal apoiamo-nos na flexibilidade para os obter.

José Mourinho, o treinador, não é mais do que isso.
Um Homem de quadrante 2, ou seja prático-racional, que se centra sobretudo nos seus objectivos, no entregar resultados. Tudo o que diz ou faz tem em vista a obtenção de resultados, o atingir objectivos, sobretudo os seus, algo que é muitas vezes encarado como egocentrismo.
Contudo, e porque tem bem delineados os seus objectivos, revela a flexibilidade necessária para os atingir. De repente invade o quadrante 4, revela uma faceta colectiva, de grupo, de eu por eles, como forma de “agarrar” um balneário e garantir que todos remam para o mesmo lado.
Parece fácil, mas não é! A flexibilidade é muito difícil de atingir, requer muito treino e muita auto-confiança.

Por outro lado, questionamos o segredo do sucesso da sua liderança.
Fala-se muito em capacidade inata mas esquecemo-nos que para atingir o nível de Mourinho foi preciso muito treino, a obtenção de ferramentas para se atingir o topo.
O jogador treina e procura potenciar as suas capacidades para ser melhor. O treinador tem que fazer o mesmo.
Mas mais do que a obsessão pelo treino, pela táctica, pela estratégia, o treinador deve ter sempre em mente: “o treinador que apenas de futebol sabe, de futebol nada sabe”.
É, de facto, uma verdade irrefutável.
Para atingir o topo Mourinho foi exigente consigo mesmo. Procura incessantemente informação, ferramentas.
Começou a sua actividade muito cedo, ainda criança diria, apostou na sua formação académica. Enquanto nos centramos na “ciência do treino”, Mourinho alargou horizontes, tornando-se a primeira pessoa em Portugal a certificar-se em programação neurolinguística.

E é dessa forma que chego a esta conclusão..
Muitos defendem-se com o inatismo da questão para se auto-justificarem do porqué de não atingirem o patamar de muitos outros.
Para mim, e com a experiência e informação que vou recolhendo, mais do que a questão do inato, o conhecimento é fundamental!
E Mourinho, meus caros, é o maior exemplo disso mesmo!

Parabéns “Special One”!!

14 maio 2010

A minha forma de estar no Futebol

Na Vida, e em particular no Futebol, percebi que a vida dá muitas voltas.

Por essa razão, por um conjunto de valores e crenças que estruturam a minha pessoa e por acredito que devemos ser sempre verdadeiros e transparentes e gratos a quem nos estende a mão ou nos trata com respeito e consideração.

Esse tem sido o meu lema.
Sei que em determinados momentos tudo parece apontar para ser mais benéfico comportar-me, agir de uma forma diferente, quiça menos "verdadeiro". Sei que em alguns momentos da vida fica a "ilusão" que são esses os que vencem na vida, que conseguem atingir mais rapidamente os seus objectivos.
Contudo, norteio-me por valores. E tenho uma crença enorme nos mesmos. Como tal, prefiro ir devagar, devagarinho mas sem pisar ninguém e sempre consciente de qual o meu espaço.


O busílis da questão é que aquilo que hoje é verdade amanha pode ser mentira e portanto prefiro garantir que as pessoas me olhem com respeito e consideração por quem sou e não por quem tento passar ser.

Acredito que essa seja a maneira mais correcta de estar na Vida e em particular no Futebol.
E a cada dia que passa vou tendo a prova que esse é o caminho!

10 maio 2010

Sempre em busca de um ponto B!

Olá a todos,

Decidi reativar este espaço.
No fundo, decidi dar continuação a um espaço que me é muito querido, de um espaço que um dia prometi nunca abandonar.

Para quem não me conhece nem acompanhou este espaço, foi exactamente um espaço como este blog, onde se teoriza, desabafa, analisa ou se expõe, que acabou por estar na origem da minha carreira no mundo do futebol.
No início este espaço era apenas um aderir “á moda”, um ceder ao fascínio de possuir um espaço público onde tivesse a oportunidade de me dar a conhecer aos outros.
Fui divagando, fui sendo verdadeiro comigo e convosco. Disse também muitas asneiras.
Parece estranho não é? Admitir que disse muitas asneiras...
Mas é verdade, acredito que nos encontramos em constante evolução e que a realidade não é igual para cada um de nós. Cada qual tem uma representação da realidade que é diferente da realidade do parceiro do lado.
E um dos pontos essenciais que estão na construção dessa realidade é o conhecimento.
A nossa realidade deriva de certa form do nosso conhecimento. Quando não o possuimos vivemos certamente uma realidade diferente daquela que viveriamos se possuissemos mais conhecimento.
Mas adiante...

Para reinício de actividade deste blog, julgo que o mais lógico passa por retomar do ponto onde o blog terminou.
Este blog terminou, sensivelmente, no ponto em que passei a ocupar-me profissionalmente em futebol.
Ou seja, iniciei a actividade deste blog como mero adepto, dei-lhe seguimento encontrando-me nos primeiros passos da minha carreira e abandonei-o quando a carreira tornou-se mais séria, mais profissional.
Vou então retomar a partir daí, fazer uma restrospectiva do que foi e é hoje a minha actividade no Futebol.


Começo por aquilo que me parece mais importante, a “ironia”.
A normalidade diz-nos que um qq individuo prepara-se para o profissionalismo começando pela formação (académica e não só) e depois aplica os seus conhecimentos na prática, algo que lhe garante a experiencia necessária para ir evoluindo e para formar novas ideias, etc.
A minha carreira começou de forma diferente. Comecei pela experiencia e só nos últimos anos procurei a formação.
Ou seja, ao contrário do que seria natural..não sou formado academicamente em Desporto. Sou formado em Relações Internacionais e também nunca fui um praticamente de referência ou sequer um praticante regular do desporto federado. Era sim um grande apaixonado não só pela prática mas sobretudo por todo o fenómeno, por compreender o jogo, os porques, etc.
E foi esse fascínio que me levou, desde criança, a procurar e devorar informação, a procurar evoluir, a construir ideias, a tecer análises.
Algumas dessas ideias e análises foram expostas neste blog e pelos vistos eram de alguma forma válidas, pois do nada surgiu-me um convite para integrar, ainda que de forma amadora, um departamento de prospecção de um grande clube nacional.
Se até então havia “decidido” interiormente que nunca teria hipótese de garantir o meu espaço no futebol (hoje percebo que era apenas o medo de sair da minha zona de conforto e ir atrás do meu sonho, quiça o medo de me dizerem não, de me fecharem portas), de repente a oportunidade que me deram (e a quem me deu a oportunidade estarei eternamente grato) foi o click que eu precisava, a motivação que eu precisava para deixar de lado o receio e lutar para ser cada vez melhor e garantir o meu espaço.
Por espaço peço que o compreendam como a possibilidade de fazer o que gosto, no desporto que amo, de uma forma profissional. Mas nunca, nunca, pensei em garantir o espaço por algum motivo de ordem financeira, aliás porque o futebol é incerto, sinto que por vezes me sacrifico em termos materiais de forma a continuar o meu “quest”, o meu caminho.

E foi a experiencia em prospecção e a vontade de provar a mim mesmo e aos outros que reunia o que é necessário para ter sucesso e apresentar resultados, que me levou a uma busca incessante de informação, me levou a um processo de formação que julgo que nunca terminará.
Comecei a tentar dominar as realidades da minha actividade. Contudo pelo meio surgiu uma nova oportunidade, a de estar ligada ao treino, ao liderar uma equipa de competição.
Essa oportunidade veio-me trazer plena realização, porque é realmente o que amo, mas também teve o efeito de aguçar ainda mais o meu “apetite” pelo conhecimento.
O querer ser cada vez melhor, o querer compreender todos os pormenores, o querer atingir objectivos cada vez mais ambiciosos, levam-me a ler dezenas de livros, dezenas de monografias e teses de doutoramente, a inscrever-me em dezenas de seminários e a procurar formações na área desportiva.
Em mim existe uma espécie de “fome”. É uma sensação de insaciablidade, quero mais e mais.
Da experiência do treino tenho aprendido muito, tenho aplicado, questionado, confrontado e depois chego a conclusões. Tenho por hábito questionar permanentemente o meu trabalho e os resultados que resultam do meu trabalho. Acredito que o questionar nos leva a evoluir e a procurar ser melhores.

A estas duas actividades, prospecção e treino, juntou-se a de colunista futebolístico.
Ou seja, cumpri o sonho de criança de ter um espaço meu numa publicação nacional para falar de temas que me interessam muito: o futebol de formação.
Este conjunto de experiencias que a escrita me proporcionou, assim como a possibilidade de entrevistar os treinadores de renome, contribuiram ainda mais para a minha busca do conhecimento.

Por último e porque acredito que se espalharmos muitas sementes hoje, e isso consegue-se com provas inequívocas perante os outros de trabalho, vontade, eficácia, resultados, vamos colher fruto amanha, uma dessas sementes deu resultados e surgiu a oportunidade de trabalhar na Liga Vitalis, na área específica de análise de adversários.
Pode parecer uma área monótona, mas é certamente uma área muito enriquecedora.
Obriga-nos a analisar ao detalhe, a dedicar tempo aos detalhes, ao questionar a nossa própria concepção de jogo, etc.

Ou seja, em 5,6 anos, tenho vivido um pouco de tudo.
E em jeito de conclusão, julgo que a multidisciplinaridade é fundamental.
Mais curioso é perceber que actividades aparentemente diferentes (embora tendo por base a mesma área) se complementam e são mais valias umas nas outras.
A minha formação académica, que não está relacionada com Futebol, permite-me, de alguma forma, encarar o fenómeno Futebolístico com um olhar menos “absorvido pelo sistema”. Ou seja, permite-me “avaliar” de outra forma, sem estar condicionado por “verdades absolutas” típicas do mundo futebolístico. Ao mesmo tempo garantiu-me maior preparação em áreas tão diferentes mas que podem ser extremamente úteis como a diplomacia, a comunicação, a gestão, etc, todas elas áreas que podem ser extremamente úteis, pois como já ficou célebre a expressão: o treinador que apenas de futebol sabe, de futebol nada sabe.
O trabalho em prospecção de talentos permitiu-me garantir conhecimentos e experiências muito úteis. Permitiu-me aprofundar a análise de jogadores, o que procurar num jogador, a margem que os jovens atletas têm ou não, o tipo de características que parecem ser mais “importantes”, por assim dizer, para quem um atleta chegue a top, garanta rendimento, sucesso.
Por outro lado garante-me conhecimento de mercado, fez-me ganhar uma enorme rede de contactos (um dos bens mais valiosos na sociedade de hoje).
Tem sido uma experiência fantástica, até porque como se trata de servir uma Instituição de topo, também nos exige diariamente um trabalho e resultados de topo.

Depois veio, á uns anos, o início da experiencia como treinador.
No fundo, abriu-se a porta da minha paixão e daquilo que quero fazer profissionalmente na minha vida.
A paixão pelo treino é cada vez mais intensa. O crescente conhecimento em relação á área do treino cria-me, ao contrário até do que esperava, cada vez mais fascínio e paixão por esta actividade.
Julguei que o sentido seria inverso. Tal como acontece muitas vezes na vida, aquilo que poderia começar como uma grande paixão, poderia tornar-se numa relação estável mas sem chama.
A verdade é que a chama é intensa e parece ser cada vez mais forte.
Aliei ao conhecimento teórico a experiência prática.
O futebol vive de resultados, desportivos e não só. Todos os anos tenho objectivos para cumprir, felizmente todos os anos os tenho alcançado.
Mas sou-vos sincero, muitos dos resultados que afirmo ter alcançado são resultados que derivam do “falhanço”. Parece contraditório mas não é!
É verdade que me encontro satisfeito com os resultados desportivos alcançados, é verdade que estou contente com o futebol que as minhas equipas praticam, mas também é verdade que o hábito de questionar diariamente o que faço, me tem levado a concluir que errei muitas vezes e através desses erros procuro evoluir para patamares superiores.
A minha vida hoje em dia é isso mesmo. Buscar informação, criação de ideias próprias tendo por base teoria e experiencia prática, tirar conclusões, questionar o que foi feito e concluir que determinadas coisas foram acertadas e portanto o objectivo será mante-las, mas determinadas coisas estavam erradas e portanto alterar para conseguir o resultado pretendido.
É fascinante, caros amigos! É uma luta interna muito saudável!

A experiencia do “jornalismo” fez-me perceber e compreender o fenómeno pelo lado da imprensa.
Percebo e relativizo as questões típicas do jornalista a um profissional de futebol, relativizo algumas das afirmações que são feitas, entendo o que a imprensa espera ouvir e como contornar situações delicadas, como gerir a informação que é passada, etc.
Deu-me alguma preparação naquilo que é hoje fundamental no fenómeno futebolístico: a comunicação para o exterior.

Por fim, a observação e análise de adversários.
A mesma permite-me ter uma realidade muito sustentada dos tipos de futebol que se praticam, das ideias que se defendem, das acções que se tomam em determinadas alturas.
No fundo permite-me estabelecer padrões. E são esses padrões que me poderão ser muito úteis na competição.
Baseado nas minhas convicções, nas minhas ideias, procuro perceber de que forma posso tirar proveito dos padrões que registei, de que forma isso me pode garantir resultados!
É muito interessante, enriquecedor e uma experiencia que complementa todas as outras.


Ou seja, esta multidisciplinaridade que vos falo, será, segundo a minha crença, aquilo que me irá permitir ter sucesso, que me irá permitir ser superior em termos de resultados (pq só os resultados poderão ser de alguma forma palpáveis) aos outros.
E de repente todas estas experiencias profissionais e vivencias que a elas estão associadas, me tornaram mais completo e se complementam tornando-me um profissional mais versátil mas também mais preparado para os desafios do futuro.

É neste patamar que me encontro hoje.
Sinto-me realizado na minha actividade, mas quero sempre mais. Ambiciono lutar por objectivos cada vez maiores e nunca caio no erro de me contentar com o que tenho hoje.
Existe sempre um ponto A, o ponto onde estou agora, e um ponto B, o ponto para onde quero ir.
Chegar ao B depende apenas da minha vontade de deixar a minha zona de conforto e aceitar entrar em zonas de desconforto, até em zonas de pânico, para atingir o objectivo seguinte.
E quando chegar ao ponto B, certamente que irei querer atingir o ponto C, é essa busca incessante por mais e mais que nos fazem manter a motivação para sermos cada vez melhores naquilo que fazemos.

Portanto realização é apenas um ponto de partida, pois acredito que mesmo estando bem posso estar sempre melhor e independentemente dos obstáculos, estarei preparado para lutar por aquilo que quero, pelo meu sonho, trabalhar no desporto que amo, o Futebol.
E como ser melhor? Acumulando incessantemente conhecimento, experimentando na prática, recolhendo vivencias próprias e dos outros, acumulando no fundo...experiência.

É sobre estes novos objectivos que vos irei falar com alguma regularidade neste espaço.
E a título de exemplo, é com um sorriso nos lábios que perdi algumas horas a ler este espaço e entendi que muitas das minhas crenças da altura, da tal minha realidade do passado, hoje em dia são crenças completamente distintas e o conhecimento e a experiencia que adquiri entrentato faz-me “viver” numa realidade bem diferente!
Um abraço e bem vindos de volta a esta "humilde casa"!

25 novembro 2008

Novo projecto

Caros amigos,

Como devem ter percebido o tempo para actualizar este meu espaço é cada vez menor.
É neste sentido que procurei arranjar uma solução, uma vez que como havia dito nunca iria deixar de escrever na blogosfera, pois foi através da mesma que a oportunidade de iniciar carreira no Futebol apareceu.

Consciente que é difícil cativar leitores se não tiver o blog com actualizações constantes, decidi, juntamente com outros colegas de profissão, criar um blog conjunto.
Dessa forma será mais fácil garantir uma actualização de conteúdos constante, uma vez que com um pequeno contributo de todos conseguiremos certamente ter vários conteúdos novos por semana.

Este blog manter-se-á online e quiça voltarei a escrever no mesmo, mas para já peço-vos que conheçam o www.geracaofutebol.blogspot.com
É um blog pensado nos mesmos moldes desta mas mais democrático uma vez que serão mais pessoas a escrever e a transmitir as suas ideias.

Espero que gostem, até breve
Nelson Oliveira

26 junho 2008

Considerações sobre o Euro 2008 (2)

Cá estou eu para mais algumas considerações e/ou notas sobre o Euro 2008.


Contra todas as previsões
Contra todas as previsões este Euro fica marcado pelo bom número de golos marcados. Fica marcado também pelo sucesso de equipas ofensivas e pela “falência” de equipas que abordaram a prova de forma mais cínica.
Portugal, Holanda, Russia e Espanha foram/são as equipas que revelam mais futebol. Estilos diferentes mas uma filosofia comum: um futebol ofensivo, vistoso.
Por outro lado temos a ultra defensiva Grécia, o cinismo Italiano, uma equipa a jogar na espectativa como a França ou uma Suecia de calculadora na mão. Todas elas falharam, todas elas deixaram o Euro sem glória.

Aposta comum
Poucas são as equipas neste Euro que optaram por pressionar através de um bloco alto. Tem sido ponto comum os blocos médios/baixos e a aposta nas transições defesa-ataque rápidas.

Uma dor de cabeça chamada 4-3-3
Por outro lado temos assistido de certa forma ao declínio do 4-3-3. Apesar do bom futebol praticado por Portugal ou Holanda (exemplos), as selecções que apostaram declaradamente num 4-3-3 bem delineado acabaram por sentir dificuldades e acabaram por cair.
Em provas a eliminar, em competições marcadas pelo detalhe, competitividade,equilíbrio parece-me complicado alcançar o sucesso em 4-3-3 declarado. É visível neste Euro, é visível nas competições Europeias de clubes.

Quem aparece primeiro cai
Outro dado curioso e falado por algumas personalidades como Beckenbauer: as selecções que apareceram na prova cedo acabaram por cair.
Portugal, Holanda, Croacia assumiram-se como favoritas logo no final do 1º jogo. Apresentaram um jogo agradável e eficaz (mais a Holanda do que Portugal, a Cróacia convenceu a partir do 2º), mas chegados aos jogos a eliminar cairam.
Por outro lado a Alemanha que mesclou o bom com o menos bom, a Turquia e a Russia não convenceram nos seus primeiros jogos mas registaram uma franca evolução (mais a Turquia e a Russia do que a Alemanha).

Descansar ou não descansar?
Antes do jogo com a Suiça dizia a pessoas amigas que não concordava com a rotação quase total do onze apenas e só porque já estavamos apurados.
Numa prova de curta duração, de grande intensidade, não me parece a melhor opção quebrar a competição e rotinas aos jogadores.
Li Tomaz Morais a defender o mesmo e a verdade é que contra factos não há argumentos: Portugal, Holanda e Croácia descansaram e cairam no jogo seguinte. Apenas a Espanha se salvou.
Pergunto: Portugal apesar de contar com 7,8 jogadores com mais 5,6,7 dias de descanso que os jogadores Alemães...demonstrou mais frescura física? Assumiu o jogo como seria expectável?

O que esperar da Espanha frente á Russia?
Uma equipa que opta pela posse de bola na procura de forçar espaços entre linhas para que os médios recebam a bola em boas condições e a coloquem nos 2 avançados extremamente móveis que são as referências da equipa (Villa e Torres), preferindo a profundidade á largura.
Silva e Iniesta são dois “alas” extremamente interiores mas que poderão ter que abrir mais do que o habitual face ao estilo de jogo Russo que se baseia em transições defesa-ataque apoiadas extremamente rápidas .
O grande handicap Espanhol?
O possível desgaste. Os Russos, muitos deles a actuar no campeonato local, encontram-se neste momento a meio da época desportiva. Os Espanhóis chegam ao Euro após uma desgastante época desportiva na qual vários jogadores estiveram envolvidos em várias competições.
A importância de Senna no esquema de Aragones
Muitos adeptos nem dão por ele. Um espectador menos atento possivelmente menospreza a importância deste jogador no jogo Espanhol.
Senna é o equilíbrio, é ele que permite a harmonização da equipa e é um jogador fundamental nas transições ataque-defesa, pois tem um fantástico sentido posicional, fecha bem espaços, lê mt bem o jogo.
Baixo mas atlético, Senna assemelha-se a um jogador que funcionou como pilar para o sucesso do Porto nos últimos 2,3 anos – P Assunção.

Nomes a salientar
Deixo-vos alguns nomes: Luka Modric, Codrea, Zhirkov, Arshavin, Pavlyuchenko, Zyrianov, Senna, Silva.
Talvez medos mediáticos á partida para este Euro mas todos eles jogadores com qualidade.

23 junho 2008

Considerações sobre o Euro 2008 (1)

Férias! Finalmente...
Com as férias surge o tempo para descansar, para ler todos aqueles livros que ainda não tive oportunidade de ler, surge o tempo para escrever neste meu espaço que vai sendo abandonado por períodos incertos de tempo.

Com as férias surgiu também o Euro, competição que tenho acompanhado com particular atenção e como tal deixo algumas considerações.

Considerações sobre o Euro

No arraque da prova decidi (como já vem sendo hábito) fazer umas apostas entre amigos.
Estabeleci favoritos, deixando-me levar pelas escolhas que á partida seriam mais “seguras”: França, Italia, Alemanha e Portugal.
Contudo na hora de definir resultados, eliminatórias, etc, fiz um estudo das equipas e tirei algumas conclusões prévias:

Grupo A
No grupo de Portugal, a Rep Checa não era tão forte como se dizia na imprensa desportiva. A falta de criativos (ausências de Nedved e Rosicky), os anos a pesar em Koller e um meio campo que iria ter dificuldades em fazer a ligação com o ataque, pareciam-me pontos difíceis de ultrapassar.
Por seu turno Portugal suscitava-me algumas dúvidas e deixei-me mesmo invadir por uma onda de pessimismo, mesmo colocando Portugal nas meias finais. A falta de jogo colectivo assustava-me.

Grupo B
A Alemanha parecia-me a grande favorita. Uma equipa experiente, forte fisicamente, de processos simples mas muito fria e calculista.
Olhava para a Croácia como uma selecção para dar nas vistas. Um meio campo jovem, irrequieto, dinâmico e criativo assente na segurança defensiva e experiência de Kovac.

Grupo C
O grupo da morte. Não quis constatar o óbvio: o excesso de veterania Francesa e as invulgares debilidades na defensiva Italiana. Assumi estas duas equipas como as grandes favoritas.
A Holanda não me inspirava confiança. Qualidade ofensiva mas uma equipa algo jovem e com nomes pouco consensuais na defensiva.

Grupo D
Uma Espanha favorita mas que possivelmente iria falhar nos jogos a eliminar, sobretudo por ser uma equipa baixa e sem grande qualidade defensiva.
As restantes equipas deixaram-me na dúvida. Não conseguia assumir um favorito tendo optado pela Suécia embora o meu instinto e o nome Hiddink apontassem para a Russia.

Estas foram as minhas apostas.
Contudo o Euro reservou-nos alguma surpresas positivas outras negativas.
Deixo então algumas notas soltas:

Portugal
Começo pela nossa selecção.
O primeiro jogo de Portugal criou uma onda de euforia enorme. Bom Futebol, frescura física, o influente Deco a aparecer em grande forma. Logo ali assumimo-nos como favoritos.
Tinhamos uma defesa sólida e rápida, um meio campo dinâmico (a grande 2ª parte de Moutinho), um ataque imprevisível e a ligação entre sectores parecia estar a resultar.
Contudo, e ao contrário da maioria, o 2º jogo de Portugal satisfez-me mas não me convenceu. Portugal não dominou, teve até dificuldade em impor o seu jogo perante uma Rep Checa bem organizada defensivamente. A vitoria apareceu, Portugal fez uma exibição qb mas ficaram claras as dificuldades que poderiamos ter perante uma equipa bem organizada defensivamente que soubesse explorar bem o contra-ataque, algo que a Rep. Checa nunca soube faze-lo.
Depois veio a traição de Scolari (não se pode exigir aos jogadores que pensem em contratos depois do Euro..quando ele próprio assumiu um compromisso que foi tornado público durante a competição), o jogo com a Suiça que não permitia tirar conclusões.
O grande desafio de Portugal chamava-se Alemanha.
A pressão exercida a Ricardo antes do jogo deixava-me arrepiado, pois Ricardo nunca soube lidar com pressão e sobretudo com críticas. Contudo e pela excelência técnica do nosso Futebol acreditava na vitória.
Com os primeiros 15,20 minutos de jogo abateu-se sobre mim uma profunda desilusão. Ao contrário do que seria de esperar, Portugal não estudou da melhor forma a equipa alemã (mesmo tendo em conta as alterações no seu sistema táctico) e como tal não estava a procurar explorar as suas debilidades.
Poderiamos e deveriamos ter convidado a Alemanha a sair com a bola pelos centrais e logo ali..uma forte pressão levaria a erros e perdas de bola. Os centrais alemães não são mais do que dois calmeirões lentos e com pouca qualidade técnica, estava ali a primeira oportunidade para explorar as debilidades Germânicas. Por outro lado a asa esquerda Alemã apresentava dinamismo mas muito espaço nas costas o que também deveria ser aproveitado mas apenas o foi de forma tímida.
Ao invês procuramos encaixes no meio campo sem grandes riscos. Encaixes esses excessivos que permitiam, por exemplo, as subidas de Metzelder no terreno ao bom estilo de R Carvalho ou Pepe. A Alemanha estudou Portugal, fechou os espaços centrais impedindo uma posse de bola racional e segura, encostou Friedrich a Ronaldo e esperou pelo erro.
É verdade que dominamos, tivemos mais posse, mais oportunidades. Mas não será sempre esse o nosso discurso no momento da derrota nas grandes competições?
De uma vez por todas temos que perceber que o jogar bem não se limita a posse de bola e 1x1. Existem equipas que abdicam da posse, abdicam de um jogo mais técnico mas pela forma como se organizam, como exploram os erros adversários, como interpretam o seu modelo de jogo, jogam bem, são fortes e são sobretudo eficazes.
Caimos perante a Alemanha, afirmamos pela imprensa superioridade, estética, colocamos em causa a justiça perante uma decisão de arbitragem.
Mas em momento algum referimos que uma selecção de top não comete 3 erros infantis, não cede 3 golos que surgem de 3 erros básicos.

Conclusão: A Alemanha venceu sem encantar. Era um adversário á nossa altura. Mas acima de tudo souberam explorar fraquezas, souberam admitir alguma inferioridade e apostar na organização e paciência para vencer.
Scolari falhou. Parece injusto, parece fácil atacar agora o seleccionador, mas é a minha opinião.
Perante as suas fragilidades, Low alterou o figurino da sua selecção, apostou num plano B.
Portugal optou por jogar da mesma forma como vinha jogando e quando alterou, alterou pouco e mal.
Mas sobretudo o que falhou foi o pouco conhecimento da equipa Alemã que nos levou a desperdiçar a possibilidade de explorar as suas debilidades que durante a prova tinham ficado á vista de todos, falhou as bolas paradas que nos tramam sempre e falhou o plano B que pareceu um plano pouco pensado, desesperado.
Optar por marcação Homem a Homem contra uma equipa bem mais alta que a nossa, nunca em 5 anos ter sido pensada outra forma de defender as bolas paradas que já tinham feito mossa no Euro 2004 e, por último, apostar num plano B com jogadores desposicionados, com adaptações pouco razoáveis... levou-nos á derrota.

Scolari sai. Nunca fui seu fan mas reconheço um trabalho de fundo muito importante que fez por nós.
Acabaram-se os lobbies clubísticos na selecção, os Portugueses uniram-se em torno de uma bandeira.
Como pontos negativos alguns discursos pouco inteligentes, a falta de visão no banco e sobretudo a teimosia. Desde 2003 que dispomos de uma geração de jogadores talentosos, experientes a nível internacional, habituados a ganhar e á pressão. Não materializamos numa grande conquista, é pena.

Agora espero por Pekerman.
Zico ainda não provou nada. Queiroz e Mourinho não me parecem acessíveis. Manuel José nunca me convenceu. Pekerman é um estudioso, alguém que procura apostar nos jovens (temos cantera para isso), um treinador que aposta num futebol coerente mas vistoso.
Dos nomes falados seria a minha opção...


As considerações sobre o Euro continuam brevemente...................

05 maio 2008

De treinador para jogadores - factor motivação (4)

Meninos,

Hoje deixo-vos mais um relato de alguém com muitos anos no Futebol e que treinou muito dos melhores jogadores do Mundo.
Falo-vos do Carlos Queiroz, responsável por conquistar o Campeonato do Mundo de Sub20 com a Geração de Ouro Portuguesa e treinador experiente com passagens por Sporting, New York MetroStars, Real Madrid, Manchester United, etc.

Aqui ficam as suas palavras, leiam-nas com atenção:
"Depois de 30 anos como treinador, Queiroz sente-se feliz por ter tido a sorte de treinar alguns dos melhores jogadores do Mundo. «Conheci grandes jogadores, mas nem todos conseguiram ser campeões. Consigo dizer-lhes o que separa ser um grande campeão de ser só um grande jogador», afirmou, falando depois da entrega de Cristiano Ronaldo: «Todos os dias treina como nunca vi até hoje um jogador treinar, com todo o respeito pelos jogadores que encontrei ao longo da carreira. Treinei grandes jogadores que nunca punham horas extraordinárias na contabilidade, mas ele treina antes, durante e depois. Às vezes tenho de o mandar embora do relvado. O Pelé disse um dia que a prática é tudo. Não sei se o Cristiano leu as palavras do Pelé, mas que as sabe de cor, sabe."

Como vêm o segredo para o sucesso do Cristiano Ronaldo não se resume apenas a talento.
O Cristiano é o melhor porque sempre acreditou nas suas potencialidades, sempre foi humilde e sempre se aplicou até ao limite das suas forças para ser melhor.
Com 14,15 anos olhava para os séniores do Sporting e ambicionava jogar com a mesma qualidade e ter a mesma capacidade física deles.
O Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do Mundo, passava horas sozinho no relvado a aperfeiçoar fintas, remates. Passava horas no ginásio para ganhar a capacidade física que hoje faz dele quase um Super Homem. Chegou a ser apanhado no ginásio de Alcochete ás 5,6 da manha a trabalhar.

Como vêm o talento não basta.
É preciso sacrifício, trabalho e paciência. É preciso, sobretudo, humildade!

Antigamente dizia-se que para se ser um grande jogador era preciso 70% de talento e 30% de esforço e dedicação.
Contudo hoje em dia vivemos num Mundo cada vez mais competitivo. Para se ser um grande jogador, um grande médico, um grande engenheiro, um grande economista é preciso 30% de talento e 70% de árduo trabalho.
Só assim conseguirão vencer na vida!

Aquilo que vos peço enquanto treinador e amigo é que trabalhem com afinco. Na escola ou no campo apliquem-se, acreditem no vosso talento e não tenham medo de perseguir os vossos sonhos.
Não esperem que as coisas vos caiam do céu, não se contentem com aquilo que são agora. Sejam ambiciosos, procurem sempre mais e melhor.

Eu acredito em voces!





Assinado: Mister Nelson