Chegamos ao fim!
O mundo do Futebol, despede-se da Alemanha, com um Arriverdeci.
Depois de um mês de muito futebol, muitas discussões, polémicas, e emoções é tempo de fazer um balanço e de procurar encontrar o que de mais positivo e negativo se constatou no Mundial.
Campioni
Este balanço não poderia começar sem falarmos dos campeões.
A Itália sagrou-se campeã Mundial, num jogo muito sofrido, que acabou resolvido através da marcação de penalties.
Após uma avaliação criteriosa ás 32 selecções e á forma como actuaram no Alemanha 2006, penso que será unânime considerar a Itália uma justa vencedora, muito embora, a forma como a França foi crescendo ao longo da prova, poderia também justificar o 1º lugar.
Os Italianos apresentaram-se fortes mentalmente, fortes fisicamente e unidos colectivamente. 3 factores chave para o sucesso em qualquer desporto colectivo.
Se é verdade que chegaram ao Mundial, arrasados pelo CálcioCaos, com suspeitas de corrupção a recaírem sobre alguns jogadores, seleccionador e outros tantos jogadores com o futuro por resolver, face á iminência de descida de 3 ou 4 das principais equipas Italianas, a verdade é que a Itália nunca acusou qualquer tipo de debilidade e foram á procura da felicidade.
Para tal muito contribuiu a prestação do seleccionador Lippi, que abandonou o típico Cattenaccio, optando por um futebol mais afoito, mais ofensivo, mas mantendo o pragmatismo e a forma letal e silenciosa como os Italianos resolvem os jogos.
Para além da boa organização colectiva, teremos ainda que referir algumas prestações individuais de jogadores Italianos que acabaram por ser decisivas: Buffon, Cannavaro, Zambrotta ou Pirlo.
O título é da Itália!!
O palco de todas as emoçõesA Alemanha foi seleccionada como país organizador da prova.
Poucos duvidavam da capacidade organizativa dos alemães, mas a verdade é que poucos esperavam um Mundial tão bem preparado e organizado.
Terá sido, provavelmente, o melhor Mundial de sempre, contando com Estádios cheios, pouca violência e extrema organização.
Beckenbauer e os alemães estão de parabéns!
No entanto, o sentimento geral dos adeptos, é o de que foi um Mundial de poucas emoções nas ruas.
Portugal, teve em 2004, um folclore futebolístico diário nas ruas, com festas de manha á noite e com alegria e contacto entre povos de diferentes pontos da Europa.
Na Alemanha, o Futebol foi vivido de forma mais fria e menos intensa. As razões não são fáceis de encontrar, mas provavelmente a personalidade fria e séria dos alemães terá contribuído decisivamente.
Em termos de organização, penso ,ainda, que será justo salientar a excelente qualidade dos Estádios.
Fomos brindados com Estádios de grandes dimensões, bastante estéticos e com muita qualidade. Quando assim é, o Futebol e os espectadores saem claramente a ganhar.
O FutebolO Mundial 2006, brindou-nos com um Futebol realista, pragmático e algo fechado. Poucos foram os grandes espectáculos, poucas foram as selecções marcadamente ofensivas e poucos foram os seleccionadores audaciosos.
Os jogos foram algo enfadonhos, com poucas oportunidades de golo e em termos tácticos poucas ou nenhumas inovações foram dignas de registo, embora nesse campo específico pouco se estaria á espera.
Concluímos portanto, que não foi um Mundial do espectáculo, mas sim o Mundial das equipas realistas e compactas.
Primeiras surpresas e desilusões
Com o termino da fase de grupos, deparamo-nos com algumas surpresas e desilusões.
No lote das desilusões temos a Republica Checa, que chegou ao Mundial rotulada de possível outsider para o título. Sérvia, Croácia também desiludiram e não representaram da melhor forma os países balcânicos. Por outro lado, os Estados Unidos, prepararam-se durante meses, e acabaram por “tombar” facilmente.
Em termos de primeiras surpresas, penso que Africa foi muito bem representada neste Mundial.
A Costa do Marfim mostrou muito bom futebol, audácia e capacidade técnica dos seus jogadores. Angola de quem não se esperava nada conseguiu 2 pontos. O Gana, brilhantemente atingiu os oitavos de final, apresentado um futebol ofensivo, audaz, e sobretudo muito bem orientado. E só o Togo, não conseguiu disfarçar a ingenuidade característica das selecções Africanas.
Por outro lado, a Austrália, muito bem orientada por Gus Hiddink, demonstrou a raça e o querer típicos de campeões, e acabaram por voltar a casa, devido a um penalty fantasma.
A JuventudeMuito se esperava de talentos como Messi, Cristiano Ronaldo ou Rooney.
A verdade é que nesse campo, não há grandes destaques a fazer, pois os jovens Mundialistas acabaram por registar participações algo irregulares e modestas, em termos gerais.
Messi nunca foi aposta, Rooney acabou por manchar o seu Mundial depois de uma expulsão justa, entre outros que nunca se chegaram a afirmar.
Como destaques positivos, salientam-se Valência do Ecuador, Cristiano Ronaldo de Portugal e Podolski e Schweinsteiger da Alemanha.
Destaques positivosDepois de salientar alguns destaques positivos como as selecções Africanas teremos que falar de algumas outras.
PortugalA selecção lusa, apesar de grangear alguma popularidade no panorama Internacional, partia para a Alemanha com o objectivo de atingir os quartos de final.
A verdade é que atingiram as meias finais, deixaram pelo caminho grandes selecções, e no âmbito do marasmo futebolístico que se assistiu na Alemanha 2006, Portugal acabou por ser uma das mais empolgantes selecções.
EspanhaSelecção habituada a fracassar nas grandes competições, a Espanha apresentou bom futebol, excelentes valores individuais e muitas “ganas” de vencer.
Eliminados pela França dignificaram o Futebol Espanhol até ao fim.
AlemanhaA manchaft era vista com bastante cepticismo pelos adeptos alemães. Klinsmann era um treinador sobre pressão, e previa-se a desilusão total.
A verdade é que a Alemanha ultrapassou a “crise do libero”, implementou um novo sistema de jogo e novos princípios, e fruto da versatilidade do seu meio campo e a audácia do seu lateral Lahm, foram uma das selecções mais consistentes de todo o Mundial.
Klinsmann e os seus jogadores estão de parabéns.
ArgentinaPekerman procurava o título. Contava com um lote de 23 jogadores de enorme talento.
A Argentina conseguiu seduzir os adeptos em determinados jogos, mas a inconsistência do seu jogo foi-se revelando á medida que o cansaço dos jogadores foi aumentado.
A Argentina veio para casa cedo, mas deixou na Alemanha uma imagem de futebol ofensivo e audaz que em poucas selecções se viu.
Destaques negativosBrasilOs adeptos brasileiros partiram para este Mundial certos que iriam vencer novamente a “Copa”.
Parreira decidiu criar um sistema de forma a colocar em campo todas as suas estrelas.
Mas o futebol actual não é feito de individualidades mas sim de força colectiva, e a verdade é que o Brasil desiludiu desde o primeiro minuto. Jogadores em posições contra-natura, lacunas defensivas, dificuldade nas transições, enfim um enorme numero de erros que custará a cabeça de Parreira.
O Brasil despediu-se da Alemanha sem glória e mais uma vez passando a imagem que a palavra “galácticos” não se traduz em vitórias.
InglaterraA Inglaterra apostava tudo neste Mundial.
Dotada de uma forte defesa e meio campo, foram á procura da glória.
Mas cedo se percebeu que apesar da coesão defensiva, os golos não iriam abundar e os Ingleses conhecidos pelo elevado número de golos que se marca nos seus campeonatos, passaram a imagem de uma equipa incapaz nos processos ofensivos.
Também eles se despediram da Alemanha sem convencer.
O AdeusAu Revoir Zidane
Zizou, um dos mais brilhantes jogadores de todos os tempos, acabou por se despedir do Futebol da pior maneira, após agredir um adversário.
Mas para a história fica a forma estóica e valente como liderou a França á final do Campeonato do Mundo, maravilhando o Mundo com toques de genialidade e de maestria, e a forma fria e calculista como liderou (como se de Napoleão se tratasse) todo o colectivo francês.
A Arbitragem
A FIFA estabeleceu critérios demasiado rígidos, e quando os jogos ganharam emotividade e luta (nos jogos já a eliminar) sentiu-se claramente os excessos dos árbitros, que no entanto, se limitavam a cumprir aquilo que lhes foi pedido.
É descabido e cobarde, que posteriormente o Presidente da Fifa critique os árbitros por estes cumprirem apenas e só o que o próprio Presidente e seus compinchas lhes exigiram.
Salienta-se também, a diferença nos critérios disciplinares pré jogo Portugal – Holanda e pós esse jogo.
Como balanço final, creio que a arbitragem foi regular.
Paradigma Futebol Defensivo/EquilíbrioA opinião sobre o Futebol defensivo praticado no Mundial (em cima referido) é unânime.
No entanto, alguns críticos questionaram se a verdadeira razão para um futebol tão equilibrado, estratégico e zeloso não se deveria a uma questão de equilíbrio entre as 32 selecções do Mundial, ou uma grande parte delas.
A verdade é que vimos neste Mundial, selecções debutantes a demonstrar bom futebol e competitivo, selecções menores com grande espírito de luta. E entre os eternos candidatos, o equilíbrio foi também dominante.
Não se tratará de uma questão de equilíbrio? Penso que este será o grande paradigma deste Mundial.
As estrelas
Guarda Redes: Buffon, Ricardo, Lehmann ou Cech, foram gigantes.
Defesas: Miguel, Zambrotta, R Carvalho, Thuram, Cannavaro, Lúcio, Gallas, Lahm ou Grosso, foram garantias de solidez defensiva.
Médios: Vieira, Zidane, Makelele, Pirlo, Maniche, Maxi Rodriguez, Frings, Zé Roberto, foram maestria e solidez
Avançados: Klose, Wanchope, Podolski, Robben, Torres, foram fantasia e golos.
E nomes como Valência, Tymoschiuk, Salcido entre outros, deram-se a conhecer verdadeiramente neste Mundial.
O Mundo despediu-se de mais uma Copa do Mundo. Só daqui a 4 anos, teremos de volta a competição mais fascinante do Mundo, a seguir ,talvez, aos Jogos Olímpicos.
Assistimos, a jogos de garra e empenho, a um equilíbrio notório, e um Futebol cada vez mais cínico, zeloso, estratégico e “alérgico” ao risco.
Não fomos brindados com grandes novidades tácticas, mas assistimos a alterações históricas na forma de jogar da Itália ou da Alemanha.
Novos treinadores nasceram para o estrelato (Klinsmann), outros sucubumbiram ás trevas (Parreira), outros são já ídolos (Scolari).
Novos jogadores se fizeram notar, outros partiram das competições de selecções. Desilusões foram várias, mas a verdade é que o Futebol continua a ter aquilo que o faz especial: a imprevisibilidade.
Adeus Alemanha, que venha de lá a Africa do Sul