20 agosto 2006

Os dilemas do Professor!



No regresso á escrita, creio que será um bom exercício falarmos dos futuros dilemas de Jesualdo Ferreira.

Depois de uma conturbada saída do Boavista, Jesualdo será anunciado amanha como treinador do FC Porto, sucedendo ao demissionário Adriaanse.
A verdade é que recebe uma herança pesada e sobretudo difícil: tem apenas uma semana para preparar a equipa para o campeonato, passa a orientar uma equipa campeã, vencedora da Taça e Supertaça, os adeptos exigem uma boa campanha na Champions e por último recebe uma equipa moldada em 3x3x4 ou 3x4x3, modelo de jogo pouco usual em Portugal.


Jesualdo parece-me uma escolha acertada.
Num espaço tão curto que antecede o início do campeonato, o Porto recorre a um técnico Português, que conhece o campeonato, o clube e os jogadores bastante bem, o que lhe permitirá uma avaliação daquilo que terá que ser feito mais rápida e possivelmente com menor “taxa” de erro.
No entanto, a implantação de um novo modelo e portanto de um novo sistema táctico e novas filosofias não se adivinha fácil.

É verdade que o FC Porto possui um plantel com diversas opções de qualidade, plantel esse bastante versátil e capaz de se “ajustar” ,pelo menos em termos de número de opções por posição, aos diferentes figurinos tácticos.
No entanto, o azar bateu á porta do plantel portista e as primeiras dores de cabeça de Jesualdo serão na defesa.
Com a chegada de Jesualdo, a possibilidade de continuar a jogar com 3 defesas parece esfumar-se. Assim sendo, o Porto voltará a actuar de uma forma mais tradicional, ou seja, com 2 laterais e 2 centrais. E é aqui que tudo se complica.
Para a lateral direita, o clube possui apenas Bosingwa (jovem com talento mas ainda com muito para crescer). É verdade que Ricardo Costa ou até Pepe podem ocupar essa posição, mas aqui chegamos ao problema dois: a falta de soluções para o centro da defesa portista.
João Paulo e Pedro Emanuel estão lesionados, sobrando apenas Pepe, Ricardo Costa e Bruno Alves, sendo que este último não me parece uma solução credível para a defesa portista. Assim, o Porto conta com Bosingwa, Pepe e Ricardo Costa como soluções únicas para 3 vagas da defesa. É francamente pouco, e poderá causar grandes dificuldades ao técnico portista.
Em relação á posição de lateral esquerdo, o leque de opções é maior, estando Cech na “polé” para a titularidade ficando Ezequias á espreita (ele que poderá ser utilizado como central…numa opção de recurso).


No meio campo, novos dilemas surgem para Jesualdo.
Tudo indica que o Porto não actue com 4 médios mas sim com 3, num 4x3x3 ou uma sua variante.
Assim sendo, Jesualdo terá Raul Meireles, Paulo Assunção, Ibson, Lucho, Jorginho e Anderson para 3 vagas. E se tivermos em conta a grande pré-temporada de Ibson e a explosão de Anderson, percebemos que Jesualdo terá uma dor de cabeça saudável no que toca a escolhas.
Á primeira vista, P Assunção, Lucho e Anderson parecem sair em vantagem, mas Ibson e Raul Meireles estão á espreita, e as prestações recentes destes 2 atletas mereciam ser recompensadas com a titularidade.

Mas então, se neste leque vários jogadores merecem a titularidade, porque não jogar em 4x4x2 em losango? Seria uma opção credível, mas o Porto parte para esta época com várias soluções nas alas, algo que não acontecia no passado. E se é verdade que nenhuma das opções á excepção de Quaresma, tem a titularidade garantida, como encaixar o “Harry Potter” no 4x4x2? A única opção seria dar-lhe liberdade atacante actuando como 2º avançado, algo que não me parece credível.
Conclusão, Jesualdo terá sempre que optar por jogar com alas, de forma a encaixar Quaresma (uma das grandes mais valias da equipa) e um outro ala, o qual puderá ser Alan, Diogo Valente (parte em desvantagem), Tarik ou o surpreendente Vieirinha, que tem demonstrado qualidades para garantir desde já a titularidade.

Chegamos por fim ao ataque.
Muito se falou na necessidade de contratar um novo ponta de lança, mas com a saída de Adriaanse essa necessidade parece desaparecer.
Em primeiro lugar, porque a saída do Holandês “garante” duas novas opções para o ataque portista. Hélder Postiga foi reintegrado e Lisandro terá finalmente a hipótese de jogar na sua posição de raíz. Por outro lado, existe ainda Adriano e a revelação Bruno Moraes, que tem dado mostras de puder ser uma opção credível. O clube conta ainda com Sokota.
No fundo são 5 opções para ,possivelmente, um lugar. É verdade que nenhum destes jogadores parecem ter a qualidade de Benni McCarthy, mas creio que dão garantias de qualidade e de competitividade no ataque do Porto.
E mesmo que a opção de Jesualdo passe por 2 avançados, cinco opções para duas vagas é o ideal.

Concluímos portanto, que Jesualdo Ferreira tem um longo trabalho pela frente. Em primeiro lugar terá que ganhar a confiança do grupo e assumir a sua liderança, posteriormente terá que moldar a sua equipa lentamente e sem cortes radicais súbitos com o passado, de forma a incutir o seu modelo de jogo sem criar quebras de rendimento na equipa, que mesmo assim irão existir.
Adivinha-se que a filosofia de jogo dos portistas será alterada substancialmente, pois em primeiro lugar o esquema apresentará 4 defesas e em segundo pois Jesualdo é um treinador mais realista, pragmático e trabalha as suas equipas a partir de trás.
O Porto deverá apresentar-se com um figurino perto do 4x3x3 clássico, 3 defesas, 1 trinco, 2 interiores, 2 extremos e um ponta de lança. Assim sendo, as alterações posicionais não serão muitas e o reajustamento da equipa poderá ser conseguido de forma tranquila e sem grande turbulência.
Resta então saber, como Jesualdo e a direcção Portista, resolverão as lacunas defensivas do seu plantel e de que forma jogadores como Raul Meireles e Ibson aceitarão o banco sem patentearem desmotivação e descontentamento.

Será um trabalho aliciante e sobretudo um desafio para o Professor Jesualdo, e será sem dúvida uma caminhada bastante interessante de assistir, por parte de quem se interessa por todas estas questões de organização de uma equipa e pela implantação de um novo modelo de jogo.

4 comentários:

Futebol Formacao disse...

Boas.. Olha concordo com tua observação, mas tb nao descarto a hipotese de jogar em 3:3:4 ou 3:4:3 visto que nao temos defesa para jogar em 4:4:2 ou 4:3:3, ja que o Pepe nao se adapta a jogar com alguem ao lado. Outra situaçao que nao colocas e eu coloco, sera Helton o Guarda Redes? uhm, eu dou ate a 4 ou 5ª jornada e penso que vai aparecer o Baia:) se nao aparecer ja!!!

Nelson Oliveira disse...

Bom, não és a primeira pessoa a dizer-me que o Pepe não se adapta a um esquema de 4 defesas.
Mas qual é a lógica? É algo que ando curioso de perceber, porque não entendo muito bem.

Se é pelo passado dele, relembrar que ele é muito novo e que explodiu tal como outros explodiram..e vai continuar a subir até atingir o topo, porque ele é claramente de topo.

Se é pela análise ao jogador em si, a minha análise é que é um defesa inteligente, muito rapido e ágil, posiciona-se bem, tem boa técnica, e peca um pouco por ser algo intempestivo.
Ora..julgo então que tem caracteristicas para jogar de que qualquer forma, e até como lateral direito..onde gostei mt de o ver..frente á Academica (se não me engano).
Agora posso concordar que num esquema de 3..um bom defesa central possa ter a oportunidade de aparecer mais e brilhar mais, o que não invalida que num esquema de 4..possa continuar em grande nível, mas sem aparecer tanto.


Sobre a questão guarda-redes, é algo que ontem o Rui Santos na Sic..também falou.
Eu devo ser o fan numero 1 do Baia, é o meu jogador de sempre.
No entanto, creio que o Helton está em grande forma, é um grande guarda-redes, é um activo importante do clube, e portanto creio que a sua continuidade na baliza terá mais lógica.
Até porque o Baia está provavelmente na sua ultima epoca como profissional, e não criou celeuma por ir para o banco.

Riscar dos titulares o Helton, poderá desmoraliza-lo e criar clima, pois as suas exibicoes..garantem a titularidade.
Além do mais, cada vez mais...no Brasil se faz pressão para ele ir á selecção..o que seria uma grande justiça.
Se por outro lado, é para dar ao Baía uma despedida em grande do futebol profissional, como adepto para mim seria optimo, mas pensando no grupo ..não seria a solucao ideal.

Mas quem sabe?

Futebol Formacao disse...

O Pepe, nao é tao eficaz tendo um colega ao lado, sente-se perdido na defesa, nao sabendo bem como actuar, se te lembrares do Pepe quando chegou ao FCP rapidamente te recordas disso. Sim ele pode ter evoluido, mas eu continuo a nao acreditar, nunca senti confiança nele a nao ser no esquema de 3 defesas. É um jogador mt impulsivo.

Nelson Oliveira disse...

Temos uma opinião distinta.

Creio que o Pepe chegou ao Porto muito verde e imaturo.
Com o Adriaanse conseguiu explanar o seu potencial e atingir um patamar muito acima da média, e conseguirá ainda mais.

Não creio que seja uma questão de jogar só ou acompanhado, mas sim um trabalho sobretudo em relação ao seu temperamento..pois agora é raríssimo ver o Pepe ir de primeira a uma bola.

Na minha opinião, aconteceu com o Pepe o que aconteceu com o Quaresma, o Adriaanse conseguiu incutir-lhes alguma "experiencia" sobretudo muito jogo tactico.
A partir daqui, de ano para ano vai subir de rendimento e chegar ao top. Não tenho duvidas...