09 abril 2006

Análise táctica ao Sporting versus Porto




Olá!
Ontem tivemos o jogo do título.
Ao FC Porto uma vitória selava um campeonato, ao Sporting CP um empate adiava a decisão e uma vitória poderia ser o início de uma época mágica, pois recuperar da forma como o fizeram e acabarem campeões, seria realmente mágico.

Mais 1 vez fui ouvindo que se esperava muitos golos e muito ataque. Mais 1 vez discordei.
O Sporting teria que jogar para ganhar, sem arriscar demasiado porque uma derrota afastaria o clube do leão do campeonato, por outro lado, o FC Porto poderia actuar de forma cautelosa e “matreira” pois até o empate servia.
Foi um duelo táctico interessantíssimo, e ao contrário do jogo da taça, tivemos um vencedor nos bancos.
Analisemos tacticamente o jogo.

As equipas actuaram nos seguintes esquemas tácticos:


Sporting CP

Paulo Bento, como vem sendo hábito não apostou em nenhuma surpresa. O mesmo esquema, a mesma dinâmica e estranhamente a mesma filosofia.
Talvez acreditando no erro do Porto, o Sporting jogou pragmático e á procura do erro adversário, num jogo em que teria e deveria assumir as “despesas” do jogo, e não o fez.
Assim, uma defesa de 4, com Abel a titular (ao contrário do que se verificou no duelo entre estas 2 equipas na taça), depois Custodio como pivot defensivo, Carlos Martins, Moutinho e Sá Pinto no meio campo, jogando o capitão do Sporting como centro campista mais declaradamente ofensivo, e na frente os “sempre mexidos” Liedson e Deivid.

Paulo Bento apostou num 4-4-2 em losango, muito pragmático e a “jogar no erro adversário”.

FC Porto

Adriaanse, como era esperado, abdicou ,mais uma vez, (no derby entre estas 2 equipas…) do 3-3-4, reforçando o meio campo com mais uma unidade.
Assim, sem surpresas uma defesa composta por 3, P Assuncao como pivot, Lucho e Raul Meireles como médios interiores e Jorginho como vértice ofensivo. Na frente, Quaresma á esquerda, Benni como ponta de lança declarado e Lisandro mais á direita.
Um onze realista mas ofensivo.

Adriaanse apostou num 3-4-3, de ataque..mas sempre com marcações zonais muito fortes no meio campo.

Dinâmicas e encaixes tácticos:

No duelo defesa portista versus ataque leonino, ao contrário do confronto na taça, Adriaanse jogou com Pepe mais ao centro e P Emanuel mais á esquerda, o que provocou mais agressividade no centro da defesa e menos oportunidades para os avançados leoninos receberem a bola.
Deivid e Liedson, actuaram muito móveis com constantes movimentações para as alas..para assim fugirem ás marcações.
No entanto, o Porto respondeu com os habituais 3 defesas (Bosingwa, Pepe, e P Emanuel), jogadores esses, que actuaram numa defesa á zona e sempre na tentativa de antecipação.

No centro do terreno, mais uma vez se notou um encaixe tal, que ambos os meios campos se foram anulando constantemente.
O Sporting actuou com Custódio a policiar o vértice ofensivo do Porto Jorginho, Carlos Martins como interior esquerdo sem grandes hipóteses no duelo com o interior direito Portista Lucho, que conseguiu muitíssimas recuperações de bola.
Do lado oposto J Moutinho e R Meireles anularam-se e poucas vezes apareceram no jogo.
Por fim, Sá Pinto como jogador mais adiantado do meio campo, foi “vagueando” sempre na tentativa de aparecer nas costas dos pontas de lança ou até em movimentações pelo meio, aproveitando o arrastamento dos defesas portistas pelos avançados leoninos, no entanto P Assunção ,o pivot do Porto, concedeu-lhe poucos espaços. A expulsão de Sá Pinto facilitou a tarefa a Assunção.

Por fim, no duelo defensiva leonina, ataque Portista, Adriaanse fez actuar Quaresma pela esquerda. Abel foi um lateral atento mas nem sempre eficaz a travar a “magia” do cigano.
No centro da defesa Tonel e Polga estiveram impecáveis a marcar Benni. Do lado direito apareceu Lisandro, muito devido á capacidade de luta e devido também á facilidade com que o Argentino fecha o meio campo…quando necessário. No entanto, “Licha” não teve um jogo feliz e foi facilmente anulado por Caneira, no que toca a jogo ofensivo.
De notar ainda, que na 2ª parte Adriaanse para confundir as marcações leoninas fez aparecer Lisandro mais no centro, quase a “invocar” o 3-3-4, com Jorginho mais á direita, mas foi apenas por breves minutos.

Guerra dos bancos:

Com o jogo equilibrado, P Bento foi o primeiro a mexer tirando o amarelado (e em risco de expulsão) Carlos Martins, apostando na velocidade e virtuosismo de Nani. O esquema manteve-se. No entanto, a faixa esquerda ganhou outra dinâmica e profundidade que não foi ainda mais notória devido á expulsão de Sá Pinto, poucos momentos depois.
Aos 70m o apagado Deivid deu lugar a Douala. Esta substituição procurava maior velocidade ofensiva e sobretudo aproveitar a expulsão de Bosingwa e a menor velocidade de R Costa (que entrou para o seu lugar).
Por fim e já em desespero de causa, o Sporting, necessitado de vencer, coloca Koke no lugar de Abel tentando actuar apenas com 3 defesas, fazendo actuar Custódio um pouco á imagem de P Assunção, ou seja, um trinco com missões de central quando o Porto aparecia na frente de ataque, substituição essa que acabou por ser fatal.

Do lado do Porto, Adriaanse percebeu o nervosismo de Quaresma (o melhor do Porto até então), patente em lances duros e maldosos, e retirou-o do campo lançando Alan exactamente para o mesmo local.
Aos 69m, Lisandro ,até então muito apagado, foi substituído por Ricardo Costa, pois era necessário colmatar o “buraco” na defensiva portista derivado da expulsão de Bosingwa. R Costa foi completar a linha de 3 defesas, passando o Porto a actuar apenas com 2 avançados.
Foi pedida maior mobilidade aos mesmos, e foi pedido a Jorginho que começasse a aparecer mais perto dos dois avançados (onde até teve uma ocasião flagrante de golo).
Por fim, o fatigado Benni saiu dando lugar a um jogador fresco, Adriano, que acabou por ter o passe de “morte” para o golo.

Conclusão:

Num jogo em que empate e vitória serviriam ao Porto, exigia-se um Sporting a assumir o jogo e a jogar mais no risco.
No entanto, foi o Porto que entrou a assumir e a jogar ao ataque, cabendo ao Sporting aos poucos..equilibrar o jogo, mas sem nunca ter arriscado o suficiente.
O pragmatismo leonino tem dado excelentes resultados, no entanto, as características deste jogo exigiam um Sporting mais mandão e autoritário.
Por outro lado, o Porto poderia jogar em contenção para o empate, mas simplesmente recusou-se a faze-lo, assumindo o jogo… sem nunca “partir” a equipa ou perder a lucidez defensiva, mostrando claramente que os jogadores tinham ordens para resolver o campeonato já em Alvalade, mas sem perder noção da realidade. De louvar…mesmo sem termos assistido a uma grande exibição, por parte dos azuis e brancos.
Salienta-se ainda a montagem de maneira inteligente do 11 portista.

Neste duelo particular de técnicos, salienta-se ainda a clara vitória de Adriaanse na guerra dos bancos.
A coragem com que abdicou de Quaresma, evitando a expulsão do cigano, e a forma como foi lendo o jogo leonino e arriscando ,passo a passo, causou uma óptima impressão deste técnico aos olhos dos adeptos portistas.

Curiosamente o jogo fica sentenciado numa “jogada de bancos”, no momento em que P Bento arrisca o tudo por tudo numa defesa de 3 (não sei se de forma inteligente, pois um empate acalentava esperança para o resto do campeonato, mas uma derrota acabava com o sonho).

O Porto aproveitou bem e a falta de rotinas de Custódio na dupla função de trinco – defesa central, acabou por ser fatal…acabando por aparecer Jorginho (cuja marcação cabia a Custodio) isolado frente a Ricardo.
O Sporting perdeu no exacto momento em que tentou utilizar um esquema semelhante ao que Adriaanse aplica no Porto.

O Holândes do porto saiu vencedor, pois esteve irrepreensível e acabou por ser a peça chave na vitória do Porto.
Ao fim de vários anos de profissão, finalmente está a um pequeno passo de vencer um título…quem diria para alguém, que chegou a ser vítima de ameaças e agressões.

O Porto é praticamente campeão!

4 comentários:

Anónimo disse...

Nelson
Infelizmente não pude ver o jogo, mas mesmo assim, com toda a certeza que este artigo tal está mt bom como mts outros. Deixo aki um comentario só para tentar iniciar uma discussao em torno do adriaanse.Na minha opinião, e depois de ver alguns jogos no dragao, este sistema,nunca antes visto por estas bandas,tem algumas deficiencias, e na teoria não é um "grande" sistema. No entanto, como estudante de gestão,dou por mim a pensar se o adriaanse andou a estudar a "Teoria dos jogos", que numa das suas interpretaçoes diz que uma estratégia optima não é akela que na teoria é a melhor, mas sim uma estrategia que vai induzir uma resposta nos concorrentes, resposta essa que nos beneficia mais do que na primeira estrategia( que em teoria é melhor) Na minha opiniao,este sistema do adriaanse tem dado resultados pq os adversarios não sabem adaptar-se a ela. Se o adriaanse teve essa capacidade de antecipar essa reacção dos adversarios e optou por este sistema em função disso, então eu digo que ele é mt inteligente. Claro está que qd alguem explorar as deficiencias deste sistema, o treinador do porto tera que voltar a provar que é inteligente sob pena dos resultados voltarem a não ser os melhores.

Nelson Oliveira disse...

Olá Ricardo!
Bom também eu estou familiarizado com a teoria dos jogos, pois também eu a estudei hehehe.

Concordo contigo, quando dizes que esta táctica tem algumas fragilidades e principalmente quando dizes que os adversários não sabem explorar as mesmas.
Vou-te dar um exemplo muito simples mas que se aplica aqui: O Adriaanse está a tirar partida da mesma coisa que eu tiro..quando me reuno a jogar futebol com uns amigos..e devido a uma lesão..vou para a baliza e jogo como guarda-redes adiantado. É engraçadissimo ver como ninguem sabe defender ou explorar o facto de eu sair da baliza e utilizar a minha capacidade de passe na frente....deixando a baliza vazia.
Não imaginas a quantidade de jogos que ja ganhei ao apostar sempre no mesmo, e ao ver sempre a mesma reacção..desconhecimento e dificuldade na adaptacao.

Voltando ao "mundo real".
Os treinadores Portugueses estão habituados a um tradicionalismo tal, que um 3-4-3 ou um 3-3-4 é algo muito dificil de perceber e explorar.
Além disso, nota-se nas equipas pequenas ..muito pouco estudo em relação aos adversários, caso contrario, teriamos assistido a estrategias diferentes..dos clubes "menores" em relação á forma como o Porto joga.
Só Koeman..que vem do país que "inventou" o 3-4-3, é que soube explorar as fraquezas deste sistema do Adriaanse.
Portanto por aí, se percebe que é um problema de algum desconhecimento.

Mas depois podemos partir para outra discussão.
Será que este sistema táctico tem assim tantas falhas?
O 3-3-4 julgo que sim, a equipa é obrigada a queimar etapas, perdendo ligacao entre os sectores.
Mas o 3-4-3 que o Adriaanse apresentou em Alvalade (e anteriormente na taça) parece-me a mim uma tactica bastante mais equilibrada que a anteriormente citada.
Cruyff (o criador do sistema) chegou a considerar o 3-4-3 a tactica perfeita, muito embora também tenha sentido a necessidade de a converter num 4-3-3.
Mas a verdade é que tivemos um campeão europeu a jogar em 3-4-3.

Eu, apesar, de concordar contigo..quando dizes que poucos são os tecnicos portugueses que conseguiram explorar as deficiencias desta táctica, considero que a mesma cada vez mais oleada e com peças (jogadores) com as caracteristicas necessárias para este sistema, podem levar o Porto a uma temporada 06/07 avassaladora.
Ou será que assistiremos a uma adaptação dos técnicos nacionais á forma de actuar do Adriaanse? tenho serias duvidas..que isso aconteça.

Será interessante debatermos as falhas deste sistema e a forma de o explorarmos...
Quem sabe o treinador x..não vem cá...buscar umas dicas. hehehe

Nelson Oliveira disse...

Ps: esqueci-me de referir um pormenor:

Esta forma de jogar, este desenho táctico só terá resultados para consumo interno, pois tenho muitas dificuldades em acreditar que contra equipas com igual ou superior valor individual, o porto consiga aguentar os adversários.

Mas a ver vamos...pois não me parece que vá abdicar deste sistema.

Anónimo disse...

Tens razão Nelson. Qd dizia que este sistema tem algumas deficiencias referia-me ao 3-3-4(tirando contra o sporting o porto jogou sempre assim).Tb tou curioso para ver as reacçoes de alguns treinadores a este sistema, e penso que mais cedo ou mais tarde essas deficiencias vao ser exploradas. Quanto ao 3-4-3, é um sistema mais equilibrado, com menos problemas que o 3-3-4 mas eu, ainda assim prefiro o 3-5-2. Jogar com 3 defesas é dificil, principalmente em paises onde os jogadores não estão habituados a jogar assim e onde este sistema é visto como algo lírico, que só os teoricos holandeses usam. Estão habituados a pensar que esse sistema não funciona e isso já é meio caminho para "ele" não funcionar. Qd os jogadores nao acreditam nakilo que fazem a derrota é mt mais provavel. Para mim enquanto "treinador" jogar com 3 defesas não será uma opção apesar de achar que o 3-5-2 como eu o imagino ser mt bom. No entanto, acima de tudo axo que não há sistemas perfeitos, há uns que funcionam melhor com uns sistemas e outros que funcionam melhor com outros.