27 outubro 2005

Ser ou não ser um treinador de Top!

Após a explosão do fenómeno Mourinho, muito se tem discutido sobre a qualidade dos treinadores Portugueses e se esta, está neste momento ligada aos treinadores da “nova escola”, ou seja, os treinadores que se licenciam em Alto Rendimento no Futebol e, estão assim, dotados de maiores conhecimentos académicos.

O Futebol tal como em tudo na sociedade, evolui e a cada dia que passa, torna-se mais complexo. As regras evoluem, os sistemas tácticos evoluem, os métodos de treino evoluem, e cada vez mais os pormenores são fundamentais para ganhar.
Mourinho marca uma geração. E porquê? Porque aborda o seu trabalho com um rigor ímpar, por procurar sistematicamente novos métodos, novos conhecimentos. É um treinador com muita atenção ao detalhe, com uma mente aberta…onde procura noutros desportos “características” que podem ajudar a evoluir o futebol das suas equipas, etc.
Mas a sua qualidade não se resume aos conhecimentos e aplicação dos mesmos. Há toda uma postura, toda uma filosofia, e sobretudo toda uma maneira de interagir com jogadores, imprensa e sociedade que o fazem ser um treinador de top.
E é neste aspecto específico- postura- que eu me quero debruçar.

Deixando o “Special One” Mourinho de lado, é interessante avaliar os treinadores que emergem na Liga Portuguesa e tentar perceber se estes têm qualidade ou não para voos mais altos.

Como método de avaliação penso que é estritamente necessário focarmo-nos em dois pontos:
- Primeiro é necessário avaliar os conhecimentos e métodos técnico/tácticos do próprio treinador, que passam pela metodologia de treino, pela qualidade táctica, e por todo um número de aspectos relacionados a 100% com o jogo. É essa avaliação que nos irá permitir distinguir um bom treinador de um mau treinador.
Mas, um bom treinador não será necessariamente um treinador de top! Para distinguir um bom treinador de um treinador muito bom, somos forçados a debruçarmo-nos no aspecto postura.
De facto, temos na nossa “praça” bons treinadores, mas para se ser realmente bom é necessário um certo tipo de postura. Esta postura, passa quer pela postura/relação treinador-jogadores, treinador-adeptos quer pela postura treinador-imprensa e treinador-sociedade.
A postura que um treinador adopta para com os jogadores é fundamental para a disciplina no balneário reinar e é sobretudo importante para o mesmo conseguir um nível motivacional e um nível de sacrifício por parte dos jogadores na sua abordagem aos treinos e jogos. Isto é fundamental!
Por outro lado, um treinador tem que abordar todo o seu discurso, até mesmo em pequenas conferencias de imprensa e nos detalhes, de forma a cativar o interesse do adepto, para este se tornar um apoio efectivo á equipa..jogo após jogo, e por outro lado para conseguir deste uma simpatia que se traduzirá em tranquilidade para que o treinador possa exercer o seu ofício sem grandes pressões e com o apoio incondicional dos adeptos.
Esta “Cativação” do apoio do adepto, passa muito pela postura que um treinador adopta para com a imprensa, pois é através desta que o treinador “dialoga” com o comum adepto. Para isso, é necessário que o treinador estude as suas respostas e reacções ao pormenor, e que tenha a “Sensibilidade” de através de respostas conseguir obter exactamente as perguntas que quer. Pode parecer complexo, mas é todo um “mind game”, que o treinador necessita dominar, para criar a imagem de si e da sua equipa que deseja, para provocar no adversário o sentimento que mais convier à sua equipa e para que os adeptos passem a reagir da forma que o treinador considere mais importante para os seus jogadores. Hoje em dia, esta dicotomia Treinador-Imprensa é fundamental, até porque cada vez mais os mass media ganham um papel decisivo na opinião das próprias pessoas e nas reacções das mesmas.
Por fim, temos a postura de um treinador para com a sociedade. Para um treinador conseguir expandir ainda mais a sua “imagem” e o seu “carácter” é necessário que o treinador revele princípios e valores e que sejam reveladores de uma preocupação para com as questões que afectam a sociedade. Cada vez mais, o Futebol puderá ocupar um papel de sensibilização das populações em relação aos problemas que afectam o globo, e o treinador como figura proeminente e de destaque no Futebol, deverá ter a preocupação de o fazer…não como ponto obrigatória, mas sim como ponto de honra.

Assim, só posso concluir, que a distinção entre um bom treinador e um mau treinador se faz obrigatoriamente, na análise aos conhecimentos técnico tácticos.
Mas para dos bons, se distinguirem os de top, temos que analisar toda uma postura e toda uma “sociologia” do treinador quer para com os seus jogadores e adeptos, quer para com a imprensa e sociedade!

Neste contexto, consigo distinguir dos bons…2 ou 3 treinadores com um patamar ainda mais elevado. Carvalhal (treinador em ascensão no Belenenses), Luís Castro, que embora ainda tenha que provar o seu valor técnico/táctico ao adepto mais distraído, tem uma postura coerente e um discurso que me parece muito realista, e por fim Manuel Machado, com uma personalidade mais reservada mas com um trabalho deveras impressionante…brilhante na formação do Guimarães, brilhante ao subir o Moreirense ao mais alto patamar do futebol Português, brilhante ao aguentar as pressões em Guimarães apurando-os para a Europa e brilhante no seu início como treinador do Nacional da Madeira.
Por fim temos ainda, Vítor Pontes que pela sua postura e até pelos seus conhecimentos e qualidade, em breve terá sucesso.

Enfim, fica aqui a minha opinião de como se distingue um treinador de top dos restantes!
Talvez seja uma "visão" idealista sobre este assunto...mas é realmente aquilo que penso.

1 comentário:

Nelson Oliveira disse...

De facto existe quase um factor comum nos treinadores que citei, o insucesso no passado recente.
E compreendo e concordo que de facto a imprensa pode "fazer" um treinador, mediante vários aspectos.

No entanto, também sou obrigado a falar de aspectos extra-qualidade, na carreira recente destes treinadores.

Em relação ao Carvalhal, penso que houve uma clara precipitação no seu despedimento. O Belém começou mt bem, passando pouco tempo depois por 1 período mau. Mas não terá sido uma versão Guimarães a epoca passada? A mesma equipa que no fim da epoca se apurou para a Europa?
Sinceramente concebo o Carvalhal como um excelente tecnico de futebol.

Em relação ao Luis Castro, penso que acima de tudo ha um grande handicap na estrutura dirigente do Penafiel. O Presidente Oliveira já pouca influência no rumo dos acontecimentos tem, pois tem estado permanentemente ausente..segundo se diz devido a doença. Os restantes dirigentes parecem-me pouco produtivos. Digo isto, pq as políticas de gestão e as políticas de contratações do Penafiel têm sido um desastre. E este ultimo exemplo do Ndoye é um bom exemplo. O jogador teve uma proposta muito interessante no fim da epoca para se transferir para o Alavés, foi-lhe pedido que ficasse e sairia antes em Janeiro. Á pouco tempo nova Proposta do Alavés um pouco mais baixa rejeitada, e acaba na Academica (rival do penafiel na luta pela despromocao)por um valor muito inferior.
Tenho o Luis Castro..como um bom técnico, mas no clube errado. E todos sabemos que os projectos podem limitar a "imagem" de um treinador.

Já o Vitor Pontes, é uma incognita. Denota no seu discurso conhecimentos cientificos, tem um currículo bastante agradável. No entanto, tarda em se impor. No Leiria não esteve bem, e em Guimarães terá grandes dificuldades em impor a sua filosofia de jogo...pois requer trabalho e tempo.

Mas como nem tudo desculpa os maus resultados, vamos la ver se não estarei enganado nas minhas análises a estes técnicos.