04 março 2008

Que Benfica para o presente e futuro?

Esta é a pergunta que faço após o Sporting – Benfica que acabou em empate e que garantiu alguma tranquilidade aos encarnados rumo a um lugar na Champions.

De qualquer forma ,e apesar do empate, o SL Benfica voltou a não convencer e voltou a praticar um futebol feio, pouco coeso, desorganizado e sofrível. Estou certo que as ausências de jogadores como Luisão, Petit, David Luiz, Nuno Gomes, etc fazem diferença, mas a verdade é que as exibições do Benfica têm sido sempre mais do mesmo, os discursos de Camacho resumem-se à bola que entra ou não, ao terem dominado sem que em campo tenham feito algo para isso, etc, etc, etc.

Análise ao actual plantel

Avaliando de forma muito resumida o plantel actual, constato que falta uma opção na lateral direita para dar competitividade a Nelson (Luis Filipe terá forçosamente que sair no final da temporada), uma opção para central (Só David Luiz e Luisão não chega, pois Edcarlos e Zoro não convencem) e na esquerda ainda é cedo para avaliar Sepsi.

No meio campo as opções também não são as melhores. Jogar com Petit e Katsouranis juntos implica um meio campo com menor capacidade criativa, com menor capacidade de sair em transições rápidas. Por vezes dá mesmo a sensação que Petit e Katso andam aos empurrões, uma vez que ocupam o mesmo espaço. Na minha opinião ou Camacho decide utilizar um e consegue resolver o "mal estar" que irá resultar de ter que colocar um dos dois nomes que falei no banco, ou arrasta Katsouranis para central.

Em relação aos interiores a coisa complica-se ainda mais. Binya é um jogador com margem de progressão e útil ao plantel, Nuno Assis é demasiadamente irregular para ser opção, Maxi é extremamente esforçado e polivalente mas falta-lhe talento. Sobra Cristian Rodriguez (também opção para terrenos mais adiantados), provavelmente um dos mais talentosos jogadores do Benfica. E sobra ainda o maestro Rui Costa que num 4-3-3 poderá jogar uns metros mais recuado abdicando da posição 10 passando a desempenhar as funções de um 8.

Para as alas aparecem os miúdos Adu e Di Maria. Dois jogadores ainda em fase de adaptação, dois jovens que estão a maturar e a optimizar as suas capacidades, dois jovens que têm saído algo prejudicados por não jogarem nas suas posições de origem. De qualquer forma não são extremos puros e dificilmente serão os elementos certos para municiar as “twin towers” do Benfica.

Na frente temos Cardozo que parece ser de longe a melhor opção para a frente de ataque do Benfica, o possante Makukula, Nuno Gomes e ainda o intermitente Mantorras. Tenho algumas dúvidas que Makukula tenha qualidade para ser titular (embora seja um jogador interessante para lançar em determinados momentos do jogo), Nuno Gomes continua a ser fustigado por lesões, e continuam as dúvidas sobre a capacidade do “mágico” Mantorras.

O desenho táctico

Outra das questões que se colocam é relativa á forma como o Benfica se deveria dispôr em campo.

4-4-2 clássico

Se o objectivo passa por jogar com Cardozo e Makukula juntos na frente, só fará sentido jogar em 4-4-2 clássico. Ou seja 2 alas bem abertos, dois medios centro e dois pontas de lança na frente com Cardozo mais móvel e Makukula mais fixo na área.

Para jogar desta forma falta claramente ao Benfica flanqueadores, jogadores capazes de utilizar bem as faixas e capazes de municiarem da melhor forma os pontas de lança. Outra questão que se levanta será o papel de Rui Costa neste figurino táctico. Não me parece que o Maestro encarnado terá a frescura física para actuar numa posição que irá exigir grande desgaste em recuperações de bola e depois raids de 30,40 metros para transportar a bola para o meio campo ofensivo.

4-4-2 Benfica

4-3-3

Se por outro lado a opção passar pelo 4-3-3, com um pivot defensivo e dois interiores, Makukula ou Cardozo, um deles, terão forçosamente que ser relegado para o banco.

Partindo do princípio que o treinador optará por Petit ou Katsouranis para pivot defensivo, faltará um medio interior de qualidade que garanta eficácia nas transições ofensivas e que permita dar maior dinâmica ofensiva ao meio campo encarnado. A batuta ficaria sob a responsabilidade de Rui Costa, que continua a evidenciar boa forma.

Para puder jogar neste sistema táctica faltará ainda um extremo puro aos encarnados. Um jogador forte no um para um, desiquilibrador e com qualidade no cruzamento.

Na outra faixa, como falso extremo, Rodriguez poderia ser a solução. Um jogador em constantes diagonais da linha para dentro, um jogador capaz de aparecer várias vezes como segundo ponta de lança e com o talento necessário para marcar golos.

4-3-3 Benfica

4-2-3-1

E temos ainda o 4-2-3-1. Este desenho táctico permitiria a utilização de um duplo pivot defensivo, desta forma Petit e Katsouranis apareceriam juntos no meio campo dando liberdade a Rui Costa para operar em terrenos mais juntos á área adversária.

O grande problema (e bem visível em Alvalade aliás) é a falta de soluções para assegurar com eficácia e rapidez as transições ofensivas.

Petit e Katsouranis revelam grande dificuldade em construir, em jogar para a frente. Ora se o duplo pivot não é capaz de assegurar as transições, também não será Rui Costa (a jogar mais perto do ponta de lança) que irá garantir o transporte de bola, sob risco de acumular grande desgaste e como tal desaparecer nas segundas partes dos jogos.

A jogar desta forma o Benfica torna-se extremamente previsível na primeira fase de construção, permitindo ás equipas mais arrojadas.. um pressing alto que coloca e irá continuar a colocar grandes dificuldades ao Benfica para sair a jogar (como se viu em Alvalade).

4-2-3-1 benfica

Conclui-se portanto que ao Benfica faltam soluções para jogar em qualquer um dos sistemas tácticos que foram referidos.

A falta de interiores com capacidade para assegurar as transições e de extremos capazes de potenciar o jogo nas faixas castram o Benfica de maior imprevisibilidade e de maior vocação ofensiva.

Estas lacunas baixam claramente o ritmo de jogo encarnado, tornam o seu futebol algo previsível e extremamente dependente de 1,2 jogadores.

O futuro

Para o futuro conclui-se portanto que para além da falta de soluções para algumas posições chave no terreno, falta também ao Benfica uma plena definição da forma como irá actuar.

Mas não são apenas estes dois os problemas do Benfica para a próxima época.

Se é de opinião geral que falta qualidade á equipa do Benfica, o cenário agrava-se ainda mais quando constatamos que 3 dos principais jogadores encarnados poderão estar de saída.

Leo, quanto a mim e apesar da idade, é provavelmente o melhor lateral esquerdo da Liga. Rodriguez é um jogador versátil, com carácter e com talento. E Rui Costa tem sido o grande impulsionador do jogo encarnado, o grande suporte da equipa.

Todos eles poderão estar de saída. Se a qualidade do plantel já deixa um pouco a desejar, ao subtrairmos as três peças agora citadas a situação torna-se dramática.

Nomes

O futuro director desportivo e o departamento de prospecção sob a liderança de Rui Aguas estarão, certamente, a preparar a próxima época e a avaliar os atletas que podem reforçar o SL Benfica.

Como opinião pessoal deixo três, quatro possibilidades:

Para reforçar o centro da defesa (pois só Luisão e David Luiz não chegam) tentaria garantir Geromel, um central jovem, veloz, com uma forte personalidade e com grande margem de progressão. Para a lateral esquerda e apenas como opção (não me parece que seja o jogador certo para ser titular) contrataria Rodrigo Alvim ao Belenenses. Por fim e de forma a preparar já a retirada de Quim e a mais que provável saída de Butt contrataria Beto, guarda-redes do Leixões.

A estas opções internas juntariam mais 2,3 atletas ex juniores (como forma de rentabilizar o trabalho efectuado na formação) e recorreria ao mercado externo para contratar 2,3 jogadores de qualidade sobretudo para as posições em campo (médio interior, extremo) onde em termos internos não abundam opções de qualidade.

Só o futuro dirá se a classe dirigente do Sport Lisboa e Benfica terá a arte e o engenho de construir um plantel sólido, capaz, que garanta soluções e dotado de uma identidade muito própria.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nelson parabéns por esta análise ao Benfica que está muito bem feita. De salientar que no teu esquema 4-3-3 é muito parecido ao que apresentei no meu blog, até a dinãmica de jogo seria parecida mas com alguns nomes diferentes...

abraço e saudações desportivas