12 junho 2006

Breve análise ao Portugal-Angola




Pontapé de saída de Portugal no Mundial!




Confesso que aguardava com alguma curiosidade e cepticismo esta estreia de Portugal. Não por não acreditar no valor dos nossos jogadores, ou na superior qualidade da selecção das quinas em relação aos palancas, mas sim pela discórdia que tenho em relação a opções do seleccionador, e principalmente discórdia em relação a aspectos de índole de personalidade que Scolari foi vincando, gravemente, nas insinuações que foi fazendo na imprensa.

Mas vamos ao que interessa, Futebol.
Pessoalmente mantinha e esperança de Portugal actuar com a selecção que muito bem representou Portugal no Euro2004, á excepção da ausência de vulto (e que no futuro da competição nos puderá vir a ser fatal) de Jorge Andrade.
É verdade que há dúvidas em relação á forma física de Costinha e Maniche, e também é verdade que ,se de facto, existir falta de ritmo destes 2 atletas, Portugal, que não tem um lote alargado de escolhas para a selecção, terá imensas dificuldades em manter a competitividade que patentiou no Euro, pois na minha opinião não há substitutos á altura para estes dois grandes jogadores.
Será que a ausência de Jorge Andrade e as dúvidas em relação a Costinha e Maniche não serão ,por si só, factores que nos possam arredar de mais altos voos?

A verdade é que Scolari, decidiu abdicar de Deco (então Scolari diz q se o jogo fosse 6ª Deco tinha hipóteses de jogar, e ontem coloca-o no banco? Estranho, no entanto penso que até foi melhor assim, como forma de preservar o luso-brasileiro), colocando Figo como organizador.
Opção correcta como mais tarde, com o desenrolar do jogo, se veio a verificar, fazendo Simão actuar na faixa esquerda. Conclusão desta opção? Hugo Viana é claramente um jogador excedentário e uma terceira opção em qualquer posição que seja utilizado.

No entanto a grande surpresa surge na titularidade de Petit e Tiago.
Scolari testou várias duplas para o meio campo e talvez a que tenha insistido menos é a que aparece como titular.
A mim surpreendeu-me e de que maneira a aposta nestes 2 elementos, que pouca rotina tinham ganho entre os dois (face á pouca utilização dos dois em simultâneo nos jogos da selecção).
A base de sucesso do Euro 2004 começava assim o Mundial 2006 de fora, as rotinas criadas no FC Porto não era utilizadas, a mecanização e harmonia do meio campo eram preteridas. Conclusão: Scolari voltava a cair no mesmo erro que cometera no jogo de abertura do Euro 2004.


O jogo começou e Portugal entrou de forma avassaladora e fantástica, marcando um golo numa excelente iniciativa individual de Figo e com um excelente trabalho de movimentação de Pauleta que concluiu sem dificuldades (Pauleta que aos 20 segundos falha uma oportunidade clara de golo).
Percebia-se a lentidão dos centrais Angolanos e aos jogadores nacionais caberia explorar essa lacuna bem patente nos palancas.

Se é verdade que Portugal dominou a 1ª parte, e até teve ocasiões para dilatar a vantagem, não é menos verdade que o meio campo de Portugal foi inexistente.
Mateus, Figueiredo e André tiveram metros de espaços quer em comprimento quer em largura para construir e organizar o futebol ofensivo Angolano.
Seria tudo fruto da qualidade dos Angolanos?
Creio que não. Petit e Tiago apareceram excessivamente perto um do outro, pois Tiago na primeira parte jogou bastante recuado e descoordenado de Petit. Não está em causa o esforço e empenho dos dois, mas as rotinas não apareciam, o pressing também não e a verdade é que Angola começou a ganhar o duelo de meio campo.
Figo, um 10 adaptado..aparecia bem no ataque e nas movimentações para as laterais como forma de fugir ás marcações, mas cavava um fosso entre meio campo defensivo e meio campo ofensivo, o que, como já citado, permitiu a Angola ganhar confiança e partir com a bola controlada para o ataque, tentando sem grandes dificuldades a meia distância.
A opção de Scolari abria “falência”, e embora Petit e Tiago sejam dois jogadores de elevado nível, denotaram em Colónia falta de entendimento (apesar de no Benfica terem jogado juntos) e sobretudo falta de inteligência posicional, que com Costinha e Maniche seriam “ganhos” evidentes.

No que toca a transições ofensivas, Angola com Zé Kalanga e Mendonça (embora ineficazes ofensivamente) prenderam e bem os laterais Portugueses, que poucas vezes conseguiram subir de forma confiante e decisiva.
E sem Tiago para coordenar as transições, pois jogava muito recuado, Portugal viu-se obrigado a abusar do recuo dos extremos para virem buscar jogo e através das alas canalizarem todo o processo ofensivo Português, não aproveitando portanto a lentidão dos centrais angolanos.
Figo fez uma primeira parte gigante, pois apercebendo-se da necessidade de apoiar as faixas laterais, insistiu diversas vezes no apoio quer a Simão quer a Ronaldo como forma de criar 2 x 1 ou 2 x 2.


Scolari precisava de atenuar os erros causados, quiçá, pelas suas opções iniciais.
E depois do intervalo, terá pedido a Tiago para se soltar mais e para controlar mais a posse de bola.
A verdade é que Tiago apareceu mais confiante e ofensivo, e Portugal começou a mostrar algum atrevimento.
E não é que, devido á entrada de Mantorras, Scolari decide “amputar” de velocidade e largura o ataque Português abdicando de Ronaldo?
É verdade que Ronaldo não estava bem, mas também não é menos verdade que saíram dos seus pés e cabeça as duas melhores oportunidades de Portugal após o 1º golo.
Entrava o ministro Costinha, funcionando como apoio aos centrais e como primeira “muralha” defensiva, de forma a proteger a defensiva Portuguesa.
Petit é reposicionado, mas nunca foi o chamado “número 8”, pois nunca foi capaz de assumir as transições ofensivas.
Tiago passou a jogar na posição 10, com alguma qualidade, e Figo apareceu nas alas embora sempre com tendência para procurar diagonais interiores.

Os problemas diagnosticados ao longo da partida mantinham-se: dificuldade na posse de bola, transições lentas e excessivamente dependentes dos alas, e falta de conexão entre defesa e ataque.
Scolari no banco denotou algum receio dos Angolanos
, e só assim se explica a aposta em 2 trincos em simultâneo.


Já com alguns assobios e falta de imaginação patente, eis que Scolari coloca Maniche no lugar de Petit(Angola apesar da entrada de Mantorras nunca se soltou de alguma “inferioridade psicológica” com que encarou esta partida, e Scolari apercebendo-se disso lança Maniche).
A entrada do ex jogador do Chelsea teve resultados imediatos. Maior preenchimento dos espaços, incutimento de velocidade, futebol ao primeiro toque no meio campo Português e ainda maior pressing ofensivo, com Tiago em alguma evidência.
Portugal voltava a dominar o jogo, e é o próprio Maniche que testa o remate de meia distância quase atraiçoando o guardião João Ricardo.

A partir daqui o jogo foi caminhando para o fim, e a entrada de Hugo Viana para o lugar de Tiago, explica-se com a necessidade de Portugal manter a posse de bola e também devido ao evidente cansaço de Tiago.


Portugal vence justamente, mas apresenta várias lacunas.



Conclusões sucintas

*Scolari, ao abdicar totalmente do meio campo que tanta qualidade demontrou no Euro 2004, amputou Portugal de rotinas e mecanizações quer no processo ofensivo, quer nas transições, quer até no pressing alto.

*Petit e Tiago “atropelaram-se”, jogando ambos muito recuados (especialmente na 1ª parte), originando espaço e tempo para os Angolanos pensarem todo o seu jogo ofensivo.

*O “bloco” Português pareceu partido, e foi necessário recorrer excessivamente aos alas para se conseguirem transições ofensivas com a bola no pé.

*Ronaldo, abusou mais uma vez do jogo individual e dos “bonitos”. Não foi exactamente isso que apontaram a Quaresma para não fazer parte da selecção?

*A defesa portuguesa pareceu segura, mas Meira denota ainda dificuldades em termos de rotinas com R Carvalho.

*Pauleta e Figo, 2 símbolos da Selecção..apareceram em grande e com muita vontade e frescura física.

*Deco é insubstituível e que falta fez no jogo frente a Angola.

*Scolari falhou nas substituições, criando apenas impacto positivo com a entrada de Maniche.

*Hugo Viana, parece-me ser um jogador excedentário e fica-me dúvidas quanto a uma futura utilização de Boa Morte.

*3 pontos muito importante. Portugal cumpriu e já não está muito longe de cumprir o objectivo obrigatório..passar de grupo.



Espero que o Futebol da selecção das Quinas melhore e se torne mais fiável, e espero que Scolari mostre mais convicção nas suas escolhas.
Fazer experiências durante o Mundial pode ser fatal.

Força Portugal!!

4 comentários:

Joel Rogerio disse...

Aguardei com certa expectativa a estréia da "equipo" do fantástico Figo e do menino Cristiano Ronaldo( "equipo" é assim que falam os portugueses?). A emissora de Tevê, A Globo, disse através do seu comentarista Casagrande, ex-jogador, que já jogou pelo POrto FC e pelo selecionado Brasileiro, que o problema de Portugal, historicamente, não é a falta de qualidade dos seus jogadores, e sim a falta de sentido de coletividade, de equipe. Disse ele, ainda, que a vaidade tem atrapalhado Portugal e não acredita que Felipão tenha resolvido isso.Mas, estamos daqui, do outro lado do mar, a torcer por Portuga, lnão só no futebol, mas em qualquer cometimento.

Nelson Oliveira disse...

Olá Joel!

Agradeço o teu comentário e o apoio.
Eu tenho laços familiares com o Brasil, e gosto muito quer do Futebol brasileiro quer do povo brasileiro.

Penso que o problema de Portugal não passa pela falta de colectivo (algo que agora até têm bastante..pelo menos desde o euro2004), o problema passa mais pelas lacunas que temos em algumas posições da equipa, e também por exigir-mos e pressionarmos a selecção de mais, pois exigimos sempre o máximo a uma selecção que não conquistou nada até hoje, excepto nos escalões jovens.

Abraço!!

Golo de Letra disse...

Boa reflexão do jogo de Portugal, é óbvio que a nossa seleção não esteve ao nivel que se esperava mas não é o fim do mundo, foi de facto uma exibição QB que me faz pensar que neste mundial, em que as seleções ditas candidatas estão a cumprir, Portugal provavelmente ficará pelos Quartos de final provavelmente, acredito na equipa mas vamos ver.
Quando alguns dizem que o nosso pais não tem muitos jogadores capazes de jogar a este nivel concordo e sublinho mas também digo que ficaram jogadores de fora que 'encostavam' claramente algusn que lá estão mas não quero ser demasiado critico e mal interpretado, estamos todos ao lado da seleção não é verdade?
[[]]

AS

Nelson Oliveira disse...

Pois, estamos de acordo..sem duvida.