14 julho 2006

Balanço geral do Alemanha 2006

Chegamos ao fim!

O mundo do Futebol, despede-se da Alemanha, com um Arriverdeci.
Depois de um mês de muito futebol, muitas discussões, polémicas, e emoções é tempo de fazer um balanço e de procurar encontrar o que de mais positivo e negativo se constatou no Mundial.

Campioni

Este balanço não poderia começar sem falarmos dos campeões.
A Itália sagrou-se campeã Mundial, num jogo muito sofrido, que acabou resolvido através da marcação de penalties.
Após uma avaliação criteriosa ás 32 selecções e á forma como actuaram no Alemanha 2006, penso que será unânime considerar a Itália uma justa vencedora, muito embora, a forma como a França foi crescendo ao longo da prova, poderia também justificar o 1º lugar.


Os Italianos apresentaram-se fortes mentalmente, fortes fisicamente e unidos colectivamente. 3 factores chave para o sucesso em qualquer desporto colectivo.
Se é verdade que chegaram ao Mundial, arrasados pelo CálcioCaos, com suspeitas de corrupção a recaírem sobre alguns jogadores, seleccionador e outros tantos jogadores com o futuro por resolver, face á iminência de descida de 3 ou 4 das principais equipas Italianas, a verdade é que a Itália nunca acusou qualquer tipo de debilidade e foram á procura da felicidade.

Para tal muito contribuiu a prestação do seleccionador Lippi, que abandonou o típico Cattenaccio, optando por um futebol mais afoito, mais ofensivo, mas mantendo o pragmatismo e a forma letal e silenciosa como os Italianos resolvem os jogos.
Para além da boa organização colectiva, teremos ainda que referir algumas prestações individuais de jogadores Italianos que acabaram por ser decisivas: Buffon, Cannavaro, Zambrotta ou Pirlo.

O título é da Itália!!


O palco de todas as emoções

A Alemanha foi seleccionada como país organizador da prova.
Poucos duvidavam da capacidade organizativa dos alemães, mas a verdade é que poucos esperavam um Mundial tão bem preparado e organizado.
Terá sido, provavelmente, o melhor Mundial de sempre, contando com Estádios cheios, pouca violência e extrema organização.
Beckenbauer e os alemães estão de parabéns!

No entanto, o sentimento geral dos adeptos, é o de que foi um Mundial de poucas emoções nas ruas.
Portugal, teve em 2004, um folclore futebolístico diário nas ruas, com festas de manha á noite e com alegria e contacto entre povos de diferentes pontos da Europa.
Na Alemanha, o Futebol foi vivido de forma mais fria e menos intensa. As razões não são fáceis de encontrar, mas provavelmente a personalidade fria e séria dos alemães terá contribuído decisivamente.


Em termos de organização, penso ,ainda, que será justo salientar a excelente qualidade dos Estádios.
Fomos brindados com Estádios de grandes dimensões, bastante estéticos e com muita qualidade. Quando assim é, o Futebol e os espectadores saem claramente a ganhar.


O Futebol

O Mundial 2006, brindou-nos com um Futebol realista, pragmático e algo fechado. Poucos foram os grandes espectáculos, poucas foram as selecções marcadamente ofensivas e poucos foram os seleccionadores audaciosos.
Os jogos foram algo enfadonhos, com poucas oportunidades de golo e em termos tácticos poucas ou nenhumas inovações foram dignas de registo, embora nesse campo específico pouco se estaria á espera.
Concluímos portanto, que não foi um Mundial do espectáculo, mas sim o Mundial das equipas realistas e compactas.


Primeiras surpresas e desilusões



Com o termino da fase de grupos, deparamo-nos com algumas surpresas e desilusões.
No lote das desilusões temos a Republica Checa, que chegou ao Mundial rotulada de possível outsider para o título. Sérvia, Croácia também desiludiram e não representaram da melhor forma os países balcânicos. Por outro lado, os Estados Unidos, prepararam-se durante meses, e acabaram por “tombar” facilmente.

Em termos de primeiras surpresas, penso que Africa foi muito bem representada neste Mundial.
A Costa do Marfim mostrou muito bom futebol, audácia e capacidade técnica dos seus jogadores. Angola de quem não se esperava nada conseguiu 2 pontos. O Gana, brilhantemente atingiu os oitavos de final, apresentado um futebol ofensivo, audaz, e sobretudo muito bem orientado. E só o Togo, não conseguiu disfarçar a ingenuidade característica das selecções Africanas.
Por outro lado, a Austrália, muito bem orientada por Gus Hiddink, demonstrou a raça e o querer típicos de campeões, e acabaram por voltar a casa, devido a um penalty fantasma.


A Juventude

Muito se esperava de talentos como Messi, Cristiano Ronaldo ou Rooney.
A verdade é que nesse campo, não há grandes destaques a fazer, pois os jovens Mundialistas acabaram por registar participações algo irregulares e modestas, em termos gerais.
Messi nunca foi aposta, Rooney acabou por manchar o seu Mundial depois de uma expulsão justa, entre outros que nunca se chegaram a afirmar.
Como destaques positivos, salientam-se Valência do Ecuador, Cristiano Ronaldo de Portugal e Podolski e Schweinsteiger da Alemanha.


Destaques positivos

Depois de salientar alguns destaques positivos como as selecções Africanas teremos que falar de algumas outras.

Portugal
A selecção lusa, apesar de grangear alguma popularidade no panorama Internacional, partia para a Alemanha com o objectivo de atingir os quartos de final.
A verdade é que atingiram as meias finais, deixaram pelo caminho grandes selecções, e no âmbito do marasmo futebolístico que se assistiu na Alemanha 2006, Portugal acabou por ser uma das mais empolgantes selecções.


Espanha
Selecção habituada a fracassar nas grandes competições, a Espanha apresentou bom futebol, excelentes valores individuais e muitas “ganas” de vencer.
Eliminados pela França dignificaram o Futebol Espanhol até ao fim.

Alemanha
A manchaft era vista com bastante cepticismo pelos adeptos alemães. Klinsmann era um treinador sobre pressão, e previa-se a desilusão total.
A verdade é que a Alemanha ultrapassou a “crise do libero”, implementou um novo sistema de jogo e novos princípios, e fruto da versatilidade do seu meio campo e a audácia do seu lateral Lahm, foram uma das selecções mais consistentes de todo o Mundial.
Klinsmann e os seus jogadores estão de parabéns.

Argentina
Pekerman procurava o título. Contava com um lote de 23 jogadores de enorme talento.
A Argentina conseguiu seduzir os adeptos em determinados jogos, mas a inconsistência do seu jogo foi-se revelando á medida que o cansaço dos jogadores foi aumentado.
A Argentina veio para casa cedo, mas deixou na Alemanha uma imagem de futebol ofensivo e audaz que em poucas selecções se viu.


Destaques negativos

Brasil
Os adeptos brasileiros partiram para este Mundial certos que iriam vencer novamente a “Copa”.
Parreira decidiu criar um sistema de forma a colocar em campo todas as suas estrelas.
Mas o futebol actual não é feito de individualidades mas sim de força colectiva, e a verdade é que o Brasil desiludiu desde o primeiro minuto. Jogadores em posições contra-natura, lacunas defensivas, dificuldade nas transições, enfim um enorme numero de erros que custará a cabeça de Parreira.
O Brasil despediu-se da Alemanha sem glória e mais uma vez passando a imagem que a palavra “galácticos” não se traduz em vitórias.


Inglaterra
A Inglaterra apostava tudo neste Mundial.
Dotada de uma forte defesa e meio campo, foram á procura da glória.
Mas cedo se percebeu que apesar da coesão defensiva, os golos não iriam abundar e os Ingleses conhecidos pelo elevado número de golos que se marca nos seus campeonatos, passaram a imagem de uma equipa incapaz nos processos ofensivos.
Também eles se despediram da Alemanha sem convencer.


O Adeus

Au Revoir Zidane
Zizou, um dos mais brilhantes jogadores de todos os tempos, acabou por se despedir do Futebol da pior maneira, após agredir um adversário.
Mas para a história fica a forma estóica e valente como liderou a França á final do Campeonato do Mundo, maravilhando o Mundo com toques de genialidade e de maestria, e a forma fria e calculista como liderou (como se de Napoleão se tratasse) todo o colectivo francês.


A Arbitragem

A FIFA estabeleceu critérios demasiado rígidos, e quando os jogos ganharam emotividade e luta (nos jogos já a eliminar) sentiu-se claramente os excessos dos árbitros, que no entanto, se limitavam a cumprir aquilo que lhes foi pedido.
É descabido e cobarde, que posteriormente o Presidente da Fifa critique os árbitros por estes cumprirem apenas e só o que o próprio Presidente e seus compinchas lhes exigiram.
Salienta-se também, a diferença nos critérios disciplinares pré jogo Portugal – Holanda e pós esse jogo.
Como balanço final, creio que a arbitragem foi regular.


Paradigma Futebol Defensivo/Equilíbrio

A opinião sobre o Futebol defensivo praticado no Mundial (em cima referido) é unânime.
No entanto, alguns críticos questionaram se a verdadeira razão para um futebol tão equilibrado, estratégico e zeloso não se deveria a uma questão de equilíbrio entre as 32 selecções do Mundial, ou uma grande parte delas.
A verdade é que vimos neste Mundial, selecções debutantes a demonstrar bom futebol e competitivo, selecções menores com grande espírito de luta. E entre os eternos candidatos, o equilíbrio foi também dominante.
Não se tratará de uma questão de equilíbrio? Penso que este será o grande paradigma deste Mundial.


As estrelas


Guarda Redes: Buffon, Ricardo, Lehmann ou Cech, foram gigantes.
Defesas: Miguel, Zambrotta, R Carvalho, Thuram, Cannavaro, Lúcio, Gallas, Lahm ou Grosso, foram garantias de solidez defensiva.
Médios: Vieira, Zidane, Makelele, Pirlo, Maniche, Maxi Rodriguez, Frings, Zé Roberto, foram maestria e solidez
Avançados: Klose, Wanchope, Podolski, Robben, Torres, foram fantasia e golos.

E nomes como Valência, Tymoschiuk, Salcido entre outros, deram-se a conhecer verdadeiramente neste Mundial.


O Mundo despediu-se de mais uma Copa do Mundo. Só daqui a 4 anos, teremos de volta a competição mais fascinante do Mundo, a seguir ,talvez, aos Jogos Olímpicos.
Assistimos, a jogos de garra e empenho, a um equilíbrio notório, e um Futebol cada vez mais cínico, zeloso, estratégico e “alérgico” ao risco.
Não fomos brindados com grandes novidades tácticas, mas assistimos a alterações históricas na forma de jogar da Itália ou da Alemanha.
Novos treinadores nasceram para o estrelato (Klinsmann), outros sucubumbiram ás trevas (Parreira), outros são já ídolos (Scolari).
Novos jogadores se fizeram notar, outros partiram das competições de selecções. Desilusões foram várias, mas a verdade é que o Futebol continua a ter aquilo que o faz especial: a imprevisibilidade.

Adeus Alemanha, que venha de lá a Africa do Sul

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