28 abril 2006

Disciplina (Diário de Observador)




Hoje regresso ao meu diário de observador, para falar de algo que a mim me parece vital, na formação de atletas e sobretudo na “educação” de atletas. A Disciplina!

Como é obvio, quando falamos em formação falamos em melhoramento e desenvolvimento de capacidades motoras, técnicas, etc … para fazermos do potencial de um miúdo, um atleta de alta competição, capaz de responder a todos os “desafios” que um jogo lhe proporciona.
No entanto, o Futebol e a formação não se trata apenas e só de formar atletas. Existe algo mais, algo mais importante do que isso.

Em 1º lugar, e não entrando directamente no assunto, penso que o Futebol como desporto colectivo que é, torna-se vital para a capacidade de socialização dos miúdos. Ou seja, penso que os miúdos enquanto pequenos devem praticar desportos colectivos, como forma de se tornarem mais sociáveis e alegres, pois actualmente vivemos numa “Era” da Informática, e muitos miúdos passam horas e horas em casa, tornando-se autênticos “bichos”, dando apenas e só importância aos computadores.
Portanto, o desporto em si, e o desporto colectivo especificamente é sem dúvida particularmente importante na infância dos miúdos.

No entanto, o que me leva a escrever este texto não é isso.
Se tivermos a noção que a formação engloba miúdos dos 8 aos 18 anos, percebemos que o futebol de formação “apanha” a faixa etária em que os miúdos estão a crescer, a formar-se como homens e a expandir horizontes.
Assim sendo, não deve haver apenas e só a preocupação, por parte dos profissionais da formação, de formar atletas mas sim de formar Homens, capazes de vingar no Mundo “lá fora”.
E para formar Homens é necessário criar-se um código de conduta, regras de educação e impô-las em cada momento.

O Futebol Nacional é marcado por alguma indisciplina e sobretudo por maus exemplos, quando vemos jogadores experientes a insultar árbitros ou a adoptarem posturas agressivas perante os mesmos. (temos como ultimo caso..o Sá Pinto).
Ou então jovens irreverentes com pouco respeito por adeptos rivais ou até da sua selecção (como exemplo tempos o Cristiano Ronaldo frente ao Benfica e pela Selecção). E temos ainda os atletas que em festejos das vitórias nos campeonatos decidem insultar o clube rival (exemplo: jogadores do Porto e Benfica em anos consecutivos).
São estes os exemplos que passam para os mais novos.
São estes ídolos que os mais novos pretendem imitar, não distinguindo o bem e o mal nas suas imitações, limitando-se a “copiar” todas as acções dos jogadores profissionais.
Ora se os exemplos que temos no Futebol Profissional não são os melhores, e se o Futebol Nacional enfrenta o problema da disciplina diariamente, então a educação e os bons exemplos têm de aparecer na base, ou seja, na formação.
Conclui-se então que é na formação que a disciplina em todas as suas vertentes deve ser imposta.
Regras rigorosas que impeçam os miúdos de desrespeitar a autoridade em campo (árbitros), adversários e adeptos devem ser criadas e cumpridas à risca, de forma a criar um código de conduta forte e sempre presente na cabeça dos jovens atletas.
É a única forma de amenizar a indisciplina existente nos dias de hoje, e por outro lado, uma das formas de criar melhores “Homens” e Homens respeitadores para o futuro.
Todos os treinadores gostam de disciplina táctica dos seus jogadores e do cumprimento por cada atleta, das suas funções específicas em campo, mas por vezes esquece-se algo ainda mais importante, a disciplina como comportamento.
E mais grave se torna quando, por vezes, são os treinadores os principais focos de indisciplina.. na forma como protestam com os árbitros, se dirigem aos próprios jogadores ou até aos adversários.
Tem de existir, nos profissionais da formação, sempre a consciência de ser o exemplo, mas ser exemplo pela positiva e nunca ao contrário.

Todo este texto surge de uma atitude louvável que vi numa recente observação minha a um jogo do Sporting.
Um atleta leonino teve 1 entrada feia sobre um adversário não demonstrando arrependimento, e minutos depois protestou com o árbitro.
No minuto seguinte, e apesar do atleta estar a ser um dos melhores em campo, o treinador retirou-o do jogo e teve uma conversa séria e “educativa” com o atleta já em frente ao banco. Estou certo, que o atleta teve ali, naquele momento, uma lição para toda a vida!

Portanto, deixo o apelo a todos os profissionais da formação, para terem mais em conta a disciplina e a educação, como icons chave de uma boa formação de atletas e Homens.

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