03 abril 2006

Penso eu de que! (semana 5)




Mais uma semana futebolística, e mais uma vez com poucas surpresas.
No plano Nacional os ditos grandes venceram e mantiveram tudo como estava.
Lá por fora o Chelsea denota uma quebra ligada ,em grande parte, a aspectos motivacionais, e necessita de uma ruptura forte, para evitar o acomodamento de certos jogadores que já se sentem campeões.
Em Espanha fomos brindados com um Barca - Real, a meio gás, com pouco por decidir e sobretudo com pouca velocidade. Lá como cá, os árbitros também falham…


Ao contrário da estrutura que tenho vindo a apresentar nesta crónica, esta semana vou abordar em mais profundidade alguns temas e menos resultados e informação mais óbvia.

Plano Nacional

Em primeiro lugar começo por abordar Adriaanse e o FC Porto.
O Holandês recebeu em mãos um FC Porto despedaçado, com uma política de contratações á deriva, vários casos de indisciplina e uma equipa muito fraquinha, para aquilo que nos vem habituando.
Cedo se percebeu que o Holandês foi contratado para disciplinar a equipa e enraizar um modelo de jogo, como forma de acabar com sucessivas alterações de modelo face aos treinadores que vieram e foram (e relembro que foram 3 numa época).
Pouco conhecedor do Futebol Português demorou algum tempo a perceber a forma de jogar dos adversários e sobretudo as potencialidades e características dos seus próprios jogadores, algo bem visível nas constantes trocas de sistema táctico e sobretudo dos considerados jogadores “base”. Relembro que Quaresma, P Assunção, Meireles ou até Pepe..começaram como “cartas fora do baralho”.
As trocas e indecisões do técnico levaram a grande contestação por parte dos adeptos, no entanto, Pinto da Costa decidiu “segurar” o técnico, talvez por se ter lembrado do sucedido na época anterior, talvez por acreditar nas qualidades do Holandês.
Hoje em dia, o técnico Portista respira confiança, a equipa posiciona-se e movimenta-se harmoniosamente e de forma extremamente mecanizada.
O técnico sabe onde colocar os jogadores (não que essa utilização esteja isenta de crítica) e sabe perfeitamente o que esperar de cada atleta.
Cada vez mais, o Porto é mais pragmático e menos “aventureiro”, algo que fica bem patente nas substituições mais defensivas para segurar uma vantagem.

Enfim, é um Porto mandão, muito sólido defensivamente, com um excelente colectivo, alguns valores individuais fantásticos e que procura conseguir a vantagem o mais cedo possível para depois a gerir da melhor forma.

Este é o FC Porto que ninguém acreditava que Adriaanse conseguisse criar.
Assim, tiro aqui o meu chapéu á forma como o holandês fiel ás suas ideias e convicções acreditou no seu trabalho e na sua filosofia e vai provando semana após semana, que com trabalho e fé tudo se consegue.
Acredito que, mesmo que o FC Porto escorregue frente ao Sporting e perca o campeonato na recta final, este holandês irá ficar pelo menos mais uma temporada, e com uma estratégia já implementada e absorvida pelos jogadores e com alguns ajustes no plantel de forma a dotar este mesmo de jogadores mais apropriados para o 3-3-4, o Porto para o ano irá estar muito forte.


Em segundo lugar quero falar do Sporting.
Já aqui elogiei o trabalho de um grande Senhor chamado Paulo Bento. Já aqui elogiei a forma como se sente o “rugido do Leão” em campo, através da alma e da garra com que os jogadores se entregam a cada partida.
Mas tenho que falar mais uma vez na cantera.
Moutinho é um jogador em plena evolução. Tem garra, está a crescer em termos posicionais, tem uma disponibilidade física assinalável e apesar de jovem actua com grande personalidade. Vem da cantera…
Nani apareceu esta época. Logo de início denotou grande velocidade, o que por si só poderia não chegar. Mas Nani é um virtuoso. “Inventa” jogadas com a sua qualidade técnica e velocidade, ginga por entre os adversários e acaba por ser um desiqulibrador nato. Vem ca cantera…..

Estes são apenas 2 exemplos de uma política de formação com vários anos, já bem enraizada no Futebol Nacional e muito eficiente e profissional. No entanto, a forma como esta eficiência e profissionalismo são aproveitadas posteriormente no Futebol Profissional é prova de uma grande audácia.
Só falta o último passo. Saber gerir o timing certo para deixar partir estes jovens. Não podemos exigir que eles fiquem para sempre no Clube, pois nem seria bom para eles, mas a gestão do timing de saída é extremamente importante para rentabilizar da melhor forma a aposta nos jovens, com vendas milionárias e com proveitos desportivos assinaláveis…enquanto eles cá estão.


Ponto Negativo da Semana:


A falta de aposta do Benfica nas suas camadas jovens.
António Carraça chegou ao clube da Luz, e depois de alguma confusão, foi apontado director de formação do clube.
Criou um projecto vencedor, de qualidade e digamos “visionário”, no sentido, de apostar em “estratégias” capazes de eliminar desde já os problemas que irão existir, com a alteração de regras por parte da Fifa (irá haver a obrigatoriedade de apostar mais nos jogadores vindos da formação), e por outro lado, “estratégias” essas que permitirão que o Benfica ganhe “kilometros de distância” ás políticas de formação dos restantes clubes. (criação de acordos com diferentes colectividades e associações internas e externas, de forma a ter um controle vasto e forte em relação aos futuros miúdos com qualidade…deste país e extra portas, utilizando o nome Benfica como chave).
No entanto, para que a política de formação e investimento na mesma possa ter sucesso e possa ser considerava necessária, tem que ter uma “ponte” entre futebol jovem e o futebol profissional, caso contrário serão muitos milhares de euros gastos sem aproveitamento desportivo ou financeiro pelo futebol profissional do clube.
E aqui reside o grande problema do Benfica!
Não há, para já, uma ponte entre futebol de formação e futebol profissional.
A aposta é diminuta, o desperdício é uma realidade e a equipa técnica contratada, que segundo o projecto, deveria ter uma “veia formadora” não se mostra minimamente interessada em lançar jovens jogadores, mesmo com um calendário tão apertado, e com algumas deficiências no plantel tão evidentes.

Moreira e Nereu estão tapados por Moretto, apesar de ambos demonstrarem grandes qualidades. De facto, o Benfica debateu-se com lesões “pouco habituais” na baliza, mas comprar 1 guarda-redes não foi a melhor opção. Quim, estava perto da recuperação, Nereu merecia mais oportunidades e ainda outros guarda-redes tem o Benfica na formação (Ricardo Janota, Bruno Costa).
Contratou-se um brasileiro, que teima em não convencer, relegando um internacional portugues (inexplicavelmente) para o banco, e tapando claramente 2 valores Portugueses… com muito futuro.
Na lateral esquerda, Tiago Gomes, jovem de grande valor é desaproveitado, mesmo não havendo no plantel um 2º lateral esquerdo de raiz.
João Coimbra um jogador com uma personalidade fantástica, com grandes atributos futebolísticos é abandonado, mesmo sendo merecedor de oportunidades (já foi convocado, falta a aposta).
E depois as contratações de Marco Ferreira ou Manduca são absolutamente inexplicáveis. Jogadores de qualidade “inferior”, que chegam ao clube apenas para fazer número, tapando claramente oportunidades a jovens de brilhar.
Assim não, Benfica!


Panorama Internacional:

Hoje falo do Chelsea.
É feio e triste, vermos comentadores e “fazedores de opinião” saírem da toca quando o Chelsea tem um período menos bom, ou é eliminado da Champions por outra grande equipa Europeia.
É mesquinho aproveitar-se um momento mau para atirar “pedras”, quando o passado e até mesmo o presente denotam sucesso e bom trabalho.

Eu não sou assim, e tenho gosto em dizer que sou um grande fan de José Mourinho.
José, é um grande treinador que mecaniza as equipas de forma suberba e que lê o jogo muitíssimo bem.
É fabuloso no Treino…onde obtem dos jogadores máximo rendimento e os dota de máximas capacidades para darem o seu melhor em cada jogo.
Mas é sobretudo no plano psicológico e mental que reside a grande força de Mourinho.
Mourinho cativa os jogadores, motiva-os e torna-os autênticos guerreiras, como alias Drogba fez referência.
Apela á necessidade de títulos para os jogadores provarem que são de facto vencedores, apela ao orgulho de cada 1 deles, ao sentimento de dever cumprido, ao sentimento de irmandade, etc.
No entanto, este jogo psicológico de Mourinho para com os jogadores exige dos últimos uma concentração e uma “adrenalina” altíssimas…que se vai desgastando aos pouco, principalmente com a chegada de títulos e mais títulos, de certa forma conquistados com alguma “aparente” facilidade.
Existe uma tendência para os jogadores aos poucos se irem acomodando, irem encarando a necessidade de correr mais do que os outros como algo cada vez menos “essencial”, e provoca que este sintam que começam a ganhar um determinado estatuto..que não os obriga a serem guerreiros e tão combativos.
Esta acomodação aos poucos enraíza-se, e Mourinho bem, através de rupturas e “choques” vai evitando que ela se imponha totalmente na mentalidade dos jogadores.
Mas a exigência psicológica que é feita aos jogadores é de tal forma intensa que é “provável” que não dure para sempre.

Assim, penso que se começa a constatar que o “efeito” Mourinho pode ter um prazo de “validade”. Não em termos de qualidade, mas sim em termos de efeitos psicológicos.
No Porto, Mourinho esteve 2 épocas e meia cheias de sucesso.
No Chelsea prepara-se para completar a 2ª época, e será que o efeito psicológico que Mourinho retira dos jogadores manter-se-á uma 3ª ou 4ª época?
É um grande desafio ao treinador Portugues, e algo interessante para os amantes do Futebol observarem.

Por fim, queria só realçar, que o período pós-Mourinho pode ser bastante traumático e difícil para uma equipa.
Com a saída do técnico os jogadores perdem um líder com o qual se identificam e criam laços fortes, perdem métodos de trabalho inovadores e motivantes e perdem um pouco da “mentalidade” vencedora incutida por Mourinho.
Problemas de falta de motivação são uma constante, e como prova…fica a forma como Costinha e Maniche (2 dos “fabulosos” de Mourinho, encararam a época pós-Mourinho).

Este 2º factor até pode ser algo contraditório com o 1º, mas não o é, pois apesar de eu considerar que o “efeito” Mourinho não seja tão forte numa 3ª ou 4ª época no mesmo clube e com os mesmos jogadores, também é verdade que o efeito não deixa de se sentir, e a forma como mourinho “exige” dos seus jogadores…acaba por criar laços que quando quebrados podem ser nefastos para um grupo.

A ver vamos, se Mourinho mais 1 vez demonstra toda a sua potencialidade e consegue manter a mesma exigência .que é seu apanágio, em relação aos jogadores e seu empenho.


Esta semana fico-me por aqui.
Até para a semana!

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