13 janeiro 2006

Falta de publico nos Estádios

Existe um claro divórcio entre espectadores e Futebol Português.
Alias, basta pensar na média de espectadores por exemplo do União de Leiria. Uma equipa que por vezes tem 1000 espectadores num Estádio com excelentes condições e feito de propósito para um Europeu, denota bem o estado do nosso Futebol, no que toca a assistências.
Alias até o Histórico Belenenses, nos brindou recentemente com 1000 espectadores no seu estádio.

Ora se estamos numa altura, em que se fala sobretudo de crises financeiras nos clubes, perceber o porquê dos adeptos andarem arredados dos Estádios torna-se obrigatório, pois as receitas podem ser um bom dinamizador económico destes clubes, que se encontram quase em falência.
Porque será que os adeptos não vão aos Estádios? Será falta de condições? Será mau Futebol? Sinceramente, não me parece. É algo mais do que isso! E é algo que se pode mudar, mas que para já não se vê qualquer esforço para o fazer.

Em primeiro lugar e para perceber esta temática temos que traçar o perfil tipo de um adepto Português de Futebol.
O típico adepto Português é o adepto comodista, que não aceita apanhar chuva ou frio, e que troca um espectáculo de Futebol ao vivo (com toda a envolvencia fantástica que isso acarreta) pelo seu sofá, umas cervejas e uns coiratos.
O típico adeptos Português é o adepto dos chamados 3 grandes. É típico vermos um adepto dizer “sou do Braga” ou “Sou do xpto”, mas depois essa equipa defronta um dos grandes, e o adepto torce pelo grande. Ou seja, não existe a cultura do adepto do clube da cidade, ou da região. Existe a cultura dos 3 grandes, e pouco mais. Exceptuando 2 ou 3 clubes, que demonstram ter adeptos fieis, poucos são os outros que se podem gabar de tal feito.

Assim concluímos, que no perfil tipo do Adepto Português existem características que contribuem para a falta de publico nos Estádio, tais como o comodismo, o facto de haver adeptos de apenas e só 3 clubes(e depois os adeptos do Benfica da cidade do Porto, por exemplo, certamente não vão ver os jogos da sua equipa a Lisboa, e também não se sujeitam a pagar para ver jogos do seu “2º clube”…como o extinto Salgueiros, por exemplo.), e o facto dos adeptos não estarem dispostos a pagar para ver clubes pelo quais têm simpatia, mas não paixão.


Mas será que o problema da pouca afluência aos Estádios se deve única e exclusivamente ao perfil do adepto?
É obvio que não!

A primeira grande razão para haver pouco publico é claramente o Poder económico do adepto típico Português.
O povo Português é um povo sem grandes recursos económicos, habituados a poupar tostão a tostão, e a viver de empréstimos e de “apertões no cinto”. O salário médio Português é bastante baixo, o salário mínimo um dos mais baixos de toda a Europa, e a taxa de desemprego sobe a olhos vistos.
Ora baseado nesta realidade, percebemos que o Poder de compra dos Portugueses é muito baixo, e portanto todos os gastos chamados “desnecessários” são eliminados -jantares fora, compra de roupa, bilhetes para cinema, teatro ou Futebol, etc.
A triste realidade Portuguesa é que não há dinheiro no bolso dos Portugueses para gastarem em algo que não seja comida e as contas lá “de casa”.
Conclusão, por si só o “apertão no cinto” que os Portugueses são sujeitos é um factor que contribui em grande escala para a ausência do público nos Estádios, mas a existe um outro factor associado, que para mim é um factor gravíssimo.

Se o poder de compra é baixo, a realidade do preço dos bilhetes, deve acompanhar a outra “realidade”, a realidade da crise económica pelo qual a sociedade Portuguesa se rege.
Ora se o dinheiro para gastos “supérfluos” já é pouco, não se entende a política dos clubes em colocar preços de bilhetes a 30,40 e 50 euros, muitas vezes 1/7 do que o adepto ganha mensalmente pelo seu trabalho.
É algo inconcebível, e se a desculpa para estes preços é a crise…certamente que não ter ninguém nos Estádios ainda acentua mais as crises dos clubes. Se é para evitar que adeptos “forasteiros” venham apoiar a sua equipa, é uma violação ao Jogo de Futebol (que pressupõe adeptos dos 2 clubes), á festa do Futebol e uma grande falta de respeito em relação aos adeptos.
Se é por outro tipo de razões, que coloquem as cartas na mesa e as expliquem, porque sinceramente não vejo explicação para esta situação.

A Federação, Liga ou até o Estado têm que criar uma legislação para criar preços máximos dos bilhetes, de acordo com a realidade do Poder de Compra dos Portugueses, como forma de haver possibilidade de o típico Português, trabalhador para outrém, que ganha o seu salário baixo, puder ter a hipótese de apoiar o seu clube no Estádio, o que seria bom para todos e para o Futebol em si.
Numa altura em que se fala de tectos salariais para os jogadores, também se deveria pensar nos adeptos e criar leis que protejam os direitos dos mesmos.

Estes 2 factores são factores que influenciam e de que maneira, a ausência de publico nos Estádios. Mas existe 1 outro importantíssimo.


O adepto Português é comodista por natureza. Mas se por ventura tiver um jogo de Futebol da sua equipa por exemplo a um sábado ás 4 da tarde, até é capaz de pensar em levar a família toda ao Futebol, passando um bom serão.(isto já pensando que os preços dos bilhetes estão de acordo com o poder de compra Português)
O adepto Português comodista, se tiver jogos de Futebol a horas decentes, em que o frio não aperta e em que a sua deslocação ao Estádio não influenciará o numero de horas de sono que este vai ter para se preparar para mais 1 dia de trabalho no dia seguinte, certamente até terá gosto em ir ao Estádio.
Dito isto, como é possível termos jogos na 1ª Liga Portuguesa, as 21 ou 21 30 de um Domingo á noite ou de uma 2ª feira á noite? Não será gozar com os adeptos?
O adepto é obrigado a apanhar muito mais frio, é obrigado a chegar tardíssimo a casa para no dia seguinte ter que acordar cedíssimo para trabalhar, e todos estes sacrifícios muita vezes para ver jogos de fraca qualidade.
É verdade que o dinheiro das transmissões televisivas é importante, e é o maior influenciador destes horários dos jogos, mas que eu me recorde em Inglaterra..as transmissões televisivas são feitas na mesma, mas os jogos são jogados ás 3 da tarde. Ou seja, é preciso aguentar as pressões das Televisões e fazer exigências, pois elas acabarão por ceder.
É de facto uma tremenda falta de respeito, marcar-se jogos para as horas e dias que se marcam, e é um dos factores que mais influenciam a falta de público nos Estádios.
É também um dos factores que não permitem que o Futebol seja um espectáculo para toda a família, pois nenhum pai leva uma criança para um Estádio de Futebol as 21 30 da noite, com muito frio, sabendo que o miúdo no dia a seguir tem escola bem cedo.

É preciso também aqui, uma alteração profunda. É necessário que os clubes se sentem á mesa com as “Televisões” e até com o Estado como intermediário…para encontrar soluções que agradem a todos…mas sempre defendendo os adeptos pois são eles que “absorvem” o fenómeno Futebol, e são eles que apoiam e pagam cotas..dos seus clubes.
Se o Futebol é um espectáculo de interesse publico, é necessário defender quem o faz subsistir e quem mais contribui para o Estatuto deste mesmo fenómeno.

Assim, se percebem os grandes problemas causadores da fraca adesão de publico aos Estádios, o que por sua vez influencia a crise financeira dos clubes e a , por vezes, má imagem que o Futebol Português tem lá fora.
É preciso respeito pelos adeptos, pelas suas necessidades e sobretudo pelas suas dificuldades.

Se existe a consciência que os espectáculos Futebolísticos em Portugal nem sempre são da melhor qualidade, se existe a consciência que o dirigismo em Portugal nem sempre é o melhor, se existe a consciência que até as arbitragens não são do nível desejado, então perceba-se também que os adeptos devem pagar preços condizentes com os espectáculos que lhes são proporcionados e sobretudo preços condizentes com aquilo que os próprios podem pagar.

1 comentário:

Johnny Lino disse...

acabas-te de dizer todas as razões que eu estou farto de referir nas minhas conversas com outras pessoas sobre o tema. De facto a cultura dos três grandes ainda esta bem presente na nossa sociedade... Já fui a varios estádios de clubes de menor dimensão, e deparei-me sempre com mais adeptos do meu clube, que do clube da casa.... Em Aveiro sucede isso, em Barcelos sucede isso, em Coimbra tambem sucede isso, entre outros... Mas ha clubes que devido as suas prestações estão a emergir, e a criar uma bagagem de sócios e adeptos que "só" são do Braga, ou do Vitória de Guimarães, só a titulo de exemplo... Neste momento sou sócio de dois clubes, um é o Benfica, o outro é o Dragões Sandinenses, e por vezes da-me mais alegria, pagar os 5€ de sócio dos Dragões Sandinenses, que os 100€ anuais do Benfica. Inclusivé quando os Dragões Sandinenses foram a Luz para a taça de Portugal, esse foi o único jogo em que desejei arduamente que o Benfica perdesse...
De facto ver futebol em Portugal é muito caro... nos estádios não se vai ver o clube por menos de 20€... Este ano no Dragão paguei 40€.... Se quiser ver na tv, são 20.80€ e vai aumentar... falo claro da Sport Tv... Na sexta se quiser ir a Barcelos serão no minimo 20€, e se ainda houver bilhetes a esse preço... É demais... alguem tem que agir nesse sentido, e tudo passa decerto por uma imposição maxima aos clubes do preço dos bilhetes... senão ainda nos arriscamos a voltar a ter preços como os do Salgueiros- Sporting e Gil Vicente-FC Porto, no ano do fim do jejum dos leões, em que os bilhetes andavam entre os 40 e os 60.. contos...