03 fevereiro 2008

Um FC Porto campeão ao som do tango Argentino

A “dinâmica” do FC Porto
Mais do que a diferença pontual no Campeonato, aquilo que me impressiona neste FC Porto é a sua dinâmica de jogo.
Quem teve a oportunidade de assistir a um jogo do FC Porto ao vivo (na televisão não se tem a mesma perspectiva) perceberá ao que me refiro.
Em termos ofensivos assistimos a uma espécie de carroussel. Os jogadores em constante movimento, a aparecer em zonas que teoricamente não seriam suas, uma dinâmica tal que destrói qualquer sistema defensivo contrário e que leva ao aparecimento de atletas com espaço para finalizar. Os interiores não raras vezes aparecem nas faixas ou em zona de finalização, o trio da frente está constantemente em trocas posicionais, os laterais dão muita verticalidade ao jogo ofensivo, etc. Enfim, um grande espectáculo.
Deixo aqui uma palavra de elogio ao professor Jesualdo Ferreira pois montou uma “máquina” muito bem oleada. Apenas lhe aponto o excesso de zelo na forma como aborda os jogos ditos “grandes”.

O tango argentino
Não posso contudo deixar de frisar a importância extrema que dois Argentinos têm na equipa: Lisandro e Lucho.
Quanto ao Lisandro já disse tudo num post anterior. Tem raça, tem qualidade, tem killer instinct e consegue jogar sem grandes oscilações de qualidade na ala ou no centro do ataque.
Lucho é um jogador de classe pura, de requinte. Posicionalmente diria perfeito, tem uma grande visão de jogo, uma grande qualidade de passe e o perfume de génio.
Quando chamado a defender preenche muito bem os espaços, efectua dobras, recupera bolas. Mas é no momento da transição ofensiva (as transições rápidas do FC Porto) em que Lucho potencia a sua qualidade. Recebe de forma elegante, levanta a cabeça e procura a melhor solução. Lançado o ataque acelera e procura espaço nas imediações da área (seja na zona central, seja em zonas laterais) abrindo linhas de passe, arrastando marcações ou pura e simplesmente aparecendo sozinho para finalizar (em Alvalade apareceu 5,6 vezes em situação de finalização). É classe pura.
Contudo para dançar um tango são precisos dois e quando Lisandro e Lucho jogam juntos..o futebol espectáculo está garantido. Capazes de jogar de olhos fechados um com o outro, efectuam maravilhosas jogadas a um dois toques..com o avançado Licha a procurar movimentos de ruptura para aparecer nas costas da defesa.

A "tecla" que faltava
No início da temporada chegou ao FC Porto Ernesto Farías, um avançado com grande estatuto na Argentina mas que havia falhado no futebol europeu tapado por um senhor chamado Luca Toni. 4 milhões de euros pelo passe.
O azar bateu á porta do Argentino e o tempo de adaptação a uma nova realidade e de afirmação de qualidade esfumou-se, Farías lesionava-se ( uma ruptura muscular) o que o levaria a parar 1,2 meses.
O que toda a gente se esqueceu na altura é que uma ruptura muscular em altura de pré-epoca afecta de forma bem vincada o rendimento de um jogador durante uma boa parte da temporada (um bom exemplo foi a paragem de Adriano na época passada por um problema semelhante..e que acaba por arrebentar e conduzir o Porto ao título a partir de Janeiro). Mais ainda, e como já foi citado, se o jogador tiver vindo de uma realidade diferente e como tal a precisar de adaptação.
A imprensa foi cruel com Farías, a SAD Portista foi criticada pela aposta, mas sempre tive o feeling que estavamos perante um jogador de qualidade (não porque o conhecia muito bem, mas por algo que me dizia que o jogador tinha qualidade). Num jogo da Liga Intercalar tive a oportunidade de dizer a quem estava comigo que apesar do Argentino ter rubricado uma exibição de fraca qualidade, parecia-me ter a estética e a “pinta” que distinguem os bons jogadores.
Curiosamente ou não ,pouco tempo depois, Jesualdo começa a dar oportunidades ao Argentino e o “tecla” Farías começou a comprovar valor. Um golo ao Braga, outro ao Aves, duas excelentes oportunidades para marcar frente ao Sporting e mais um hattrick no jogo de ontem (discutível se o primeiro golo deveria ser atribuido a Bosingwa ou Farías).
Aquilo que mais aprecio no Argentino é toda a sua movimentação sem bola. Apesar de ter baixa estatura e um porte ,á partida, insuficiente para se impor aos centrais, é um jogador venenoso, pois em constantes e rápidas movimentações aparece em situação de finalização. Tem faro pelo golo, consegue “explodir” no espaço e vai certamente continuar a marcar golos.
Muitos ditos “entendidos” de Futebol como é o caso de Ricardo Lemos, jornalista do Jornal O Jogo, arrepender-se-ão de avaliar um jogador sem o conhecerem primeiro.
Será que outro clube qualquer teria a paciência que o FC Porto teve com Farías? Ou até com Lisandro? A resposta parece-me óbvia.

Nota: Podem encontrar uma análise táctica ao FC Porto elaborada por mim na revista Futebolista do mês passado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boas,

Concordo com o que disseste em relação ao Farias. É de facto verdade que o jogador esteve limitado e necessitou de algum período adaptativo. Lamento é que tenhas usado a expressão "tecla", que é a mesma usada pelo Rui Santos, cuja qualidade de análise considero bastante discutível.
Lanco-te um desafio! Porque não analisares o Mariano Gonzalez? Será que é assim tão "flop" como dizem? Eu sinceramente acho que não...

Abraço

Gil

Nelson Oliveira disse...

:)

O termo "tecla" deriva do nome que carinhosamente lhe deram por ter partido um dente (ainda era ele juvenil).

Quanto ao Mariano, aceito o desafio e em breve falarei desse e de outros jogadores que estão apagados.

Mas adianto que dificilmente o Mariano conseguirá vingar no Porto.
Em primeiro lugar pq os adeptos perderam a paciência, em 2o pq está visto que Jesualdo lhe dará muito poucas oportunidades na sua posição de origem e por ultimo pq me parece um jogador destruído psicologicamente. Mudar de ar irá fazer-lhe bem...mt embora continue a pensar que é um jogador com capacidade.