08 maio 2006

Tensão, desespero e angustia!

Ontem assistimos a um Domingo de todas as decisões.
Depois de uma grande noite na queima das fitas no Porto, e depois de um Porto - Benfica em juvenis …praticamente de directa, decidi não dormir e dar um salto a Guimarães, para assistir ou não, a um milagre Vitoriano.

Á partida esperava um ambiente tremendamente hostil e tenso, com fortes medidas policiais.
A verdade é que á chegada vi muito gente com a sua camisola e bandeira do Vitória e alguma esperança, no entanto, percebeu-se que a crença já era pouca pois o Estádio ficou com muitas cadeiras vazias e muitos dos adeptos dirigiram-se ao Afonso Henriques apenas para pedir explicações.

Foi com muito gosto, que me sentei na bancada dos sócios vitorianos e vi o jogo calmamente e sem grandes ondas “violentas”.

Os jogadores entraram em campo e logo se avistou uma enorme faixa de incentivo ao clube da cidade Berço, faixa essa que rodou todo o Estádio numa grande demonstração de apoio.
Mas este apoio, parece-me a mim, era apenas fogo de vista, pois os adeptos do Vitória mostraram-se divididos. Uns assobiaram, outros insultaram a equipa e outros decidiram apoiar e esperar pelo milagre.

O jogo foi decorrendo, o golo não aparecia, e a tensão aumentava.
Os jogadores eram assobiados sempre que erravam, salvo algumas excepções. Notou-se claramente que 2 ou 3 jogadores do Vitória ainda têm o apoio da massa associativa (Moreno, Saganowski e Cleber).

As primeiras palmas e celebrações surgem quando se soube que o Leiria estava em vantagem no marcador.
Eram ás centenas as pessoas munidas com um pequeno rádio para ter na hora as notícias dos outros jogos.
É neste ambiente que o árbitro apita para o intervalo e sente-se pela primeira vez uma assobiadela geral, e um clima hostil para a equipa.

Na 2ª parte o Vitoria entra com garra, deixando no balneário a imagem de resignados com que brindaram os adeptos na 1ª parte.
Os adeptos empolgaram-se, o golo esteve perto mas Paulo Lopes e alguma falta de “inspiração” dos jogadores vitorianos não permitiram os festejos dos adeptos da cidade Berço.

O tempo ia passando, os outros resultados da Liga punham o Vitória na 2ª e as pessoas começaram a “acercar-se” do relvado, já pensando numa possível invasão para pedir explicações aos jogadores.
Foi nessa altura que a polícia de choque interveio e criou um perímetro de segurança em torno do relvado.
De qualquer forma adivinha-se o pior, e os adeptos do Vitoria estavam mesmo nervosos.

É no momento do golo do Estrela que o ambiente aquece para não mais arrefecer.
As claques insultavam o Presidente Vitor Magalhães, os jogadores eram chamados de “palhaços”, os assobios eram uma constante e esperava-se o apito final, adivinhando-se o pior.

O jogo termina os jogadores correm para o balneário,e os adeptos começam a “ameaçar” a invasão, mas o policiamento existente impediu que tal acontecesse.
Os vidros da vedação foram partidos, a porta para o relvado da bancada nascente foi arrombada e de repente começam-se a ver cadeiras voar para a relva, em direcção aos policias que passaram a ser o alvo da ira dos adeptos.
Felizmente ainda há adeptos conscientes que começaram a recriminar tais actos, pois estava-se a destruir património do clube, e depois de alguma confusão entre adeptos os ânimos serenaram um pouco, e já 10 minutos depois do jogo terminar vem o momento mais bonito de toda esta tarde futebolística.
Ouve-se alto e em bom som toda uma falange de apoio vitoriana, a cantar “Vitória até morrer”, admito que até me arrepiou e não tive qualquer problema em bater palmas a este momento de rara beleza, numa tarde marcada pelo clima tenso, de angústia e de desespero por parte dos adeptos Vitorianos.

De qualquer forma soava nas bancadas que “lá fora” seria um "Texas", e que todos os adeptos vitorianos se deveriam concentrar na porta por onde saiem os jogadores, para serem pedidas explicações.

Juntaram-se centenas ou até mesmo milhares de pessoas naquele “cantinho”, preenchendo jardins, ruas, rotundas, etc.
O ambiente era hostil, a tensão era grande, o “povo queria sangue”, mas os jogadores teimavam em não sair.
Depois de tanto esperar (1 hora), alguns adeptos mais “infelizes” decidiram brindar a polícia com petardos e a tensão entre adeptos-policia aumentou. Felizmente a polícia de choque teve um comportamento exemplar nunca retaliando com violência e fazendo da sua arma a intimidação, foi aumentando a zona controlada por eles de forma a que os intervenientes pudessem sair do Estádio.

Esperou-se 1 hora, 2 horas…o “povo” não arredava pé e de repente chega um reforço enorme de policiamento, de forma a dispersar as pessoas para abrirem caminho até á entrada para a auto-estrada para que o Estrela de Amadora pudesse seguir caminho.
Mais uma vez o bom sendo da polícia imperou e apenas usaram a intimidação e a calma para conseguirem progredir e criarem uma zona segura para o Estrela passar.

É passado bastante tempo e já em ruas algo distantes do Estádio, que avisto a camioneta do Estrela que ao contrário do que se poderia esperar, foi brindada com uma enorme salva de palmas.
Reparei na cara do Manu algo espantado com a recepção dos adeptos vitorianos á camioneta do clube da Amadora e a verdade é que foi salutar e de um grande desportivismo esta atitude dos adeptos de Guimarães.

Depois de esperar e desesperar, as pessoas começaram a dispersar e a camioneta do Vitoria nem ve-la.
Há quem diga que os jogadores saíram em camionetas da polícia dissimulados de agentes de autoridade. Mas a verdade é que não existiram certezas de nada.

Decidi ir jantar a um café próximo e eram já 23 30 quando passo em frente ao Estádio e ainda adeptos do Vitoria se mantinham nas ruas talvez ainda incrédulos com a situação do clube.
Tive ainda oportunidade de falar com um elemento do VitoriaSempre e da claque dos Insane, o Paulo Roberto (já o conheço á bastante tempo), e notou-se na sua cara, desalento, desilusão tristeza e sobretudo angústia. Admito que até eu fiquei triste com toda esta situação, pois adeptos como o Paulo Roberto que vivem para o clube talvez não merecessem passar pelo que estão a passar.


Em conclusão, senti um clima de tensão, mas que acabou por ser pacífico dentro dos limites que eram possíveis.
Estragos, apenas algumas cadeiras e um ou outro vidro, não existiram confrontos com a polícia e os jogadores do Vitória ao que sei puderam chegar a suas casas tranquilamente.

A lei e ordem acabou por reinar!

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