25 março 2006

José Mourinho, The Special One




Acabei de ler um livro escrito por 4 Licenciados em Alto Rendimento do Desporto, livro esse sobre José Mourinho e a sua forma de abordar o treino.
Ao contrário de outros livros sobre esta figura, este é mais específico denotando mais complexidade na compreensão, pois aborda o treino e suas especificidades de forma profunda.
No entanto, depois de “devorar” o livro, em vez de ficar a pensar unicamente no que aprendi sobre o treino e como treinar, fiquei a pensar na seguinte premissa:
O que é preciso para considerarmos alguém um génio?

Bom, as respostas a esta pergunta são imensas e vastas.
No entanto, vou dar-vos a minha.

Para atingirmos a genialidade precisamos de “Criar” algo. Esse algo terá que ser forçosamente inovador, “belo” e arrebatador.
Einstein criou a teoria da relatividade, Beethoven algumas das mais fabulosas peças musicas, e a lista alongava-se ….

O que me leva a “juntar” génios a Mourinho?
Bom, penso que é simples.
Poucos são os comuns mortais existentes com uma autoconfiança e uma força mental tal que lhes permita, no seu interior refutar as verdades, dadas por verdades absoluta e adquiridas da nossa Sociedade. O risco de sermos considerados ridículos, “tolos”, a forma como nos auto convencemos que essas chamadas “verdades absolutas” são as únicas existentes, o medo que nós mortais temos em confrontar aquilo que foi aceite por todos… leva-nos, claramente, a aceitar e assumir um papel de espectador passivo numa Sociedade que pensa ter chegado ao fim da linha e onde reina o pensamento de que “tudo o que havia para ser inventado...já o foi”.

E é com esta definição do que é a nossa Sociedade, que chegamos à forma como “aparecem” os génios.
Ser génio não é mais que ser um “tolo” visionário, que belo dia se lembrou de acreditar em algo que parecia impossível aos olhos de todos os outros e que depois de ridicularizado e “gozado” acaba por provar que afinal criou algo de novo, algo com uma validade extraordinária, algo realmente palpável e “inteligente”.

A pergunta que eu ponho..no remoinho de pensamentos que me consomem uma grande energia cerebral é: Será Mourinho um génio?

Nunca escondi que sou um admirador de Mourinho, não só pela sua capacidade como treinador de Futebol, mas também pela sua extraordinária capacidade de liderança e de motivação de Homens e sobretudo admirador da sua personalidade confiante, convicta e sem medo de admitir que é realmente bom.
Mas se alguém é realmente bom e o prova todos os dias, porque não pode afirmar sem medo que realmente é bom? Sou apreciador da Humildade, mas quando somos bons não temos que ter problemas em o dizê-lo e admiti-lo…pois não é um sinal de vaidade e muito menos de presunção, é sermos reais connosco e com os outros que nos rodeiam.
Ora, é através da personalidade e auto confiança de José Mourinho, que eu entendo onde está o sustento que o levou à genialidade. Seria necessário um grande carácter para refutar “verdades absolutas” e ousar ,numa Sociedade Hipócrita e crítica, criar algo nosso e demonstra-lo ao Mundo.
Se transportarmos estes “podres” da nossa Sociedade para o Futebol, rapidamente percebemos que se criou um “Sentimento” que tudo no Futebol estava criado e que portanto nada haveria a alterar.
No entanto, Mourinho atreveu-se a discordar. Atreveu-se a refutar estas “verdades” e a criar as suas próprias com a convicção própria de um génio, que um dia mostraria ao Mundo que tinha razão.

Assim, ao fazermos uma leitura sobre o livro é nos dada uma visão tradicional daquilo que é o treino e como ele é encarado pelos técnicos quer nacionais quer internacionais.
Apesar das diferenças nos discursos destes, no fundo todos eles assentam os seus princípios nas mesmas premissas e nas mesmas realidades.
Nota-se claramente, uma falta de convicção e sobretudo de “visão” para refutar algo que estava aceite no meio, caindo no risco de parecer ridículo ou não ser compreendido.

Mourinho arriscou. Pegou nas “realidades tradicionais” do treino, rasgou-as e criou as suas, de uma forma coerente e sobretudo inteligente.
Se compararmos a nossa sociedade à publicidade, rapidamente percebemos que, no fundo, comemos aquilo que nos levam a comer, usamos aquilo que nos induzem a usar, etc, etc etc.
No entanto, José não queria ser mais 1, manobrado por uma Sociedade e, no caso específico, por um Mundo Futebolístico viciado, e foi à procura das suas realidades, das suas certezas e das suas convicções.
Resultado? Uma nova forma de abordar o Jogo, e especificamente o Treino. Uma nova forma de abordar as especificidades do treino, sem perder qualidade ou consistência, muito pelo contrário.
Mourinho acaba de revolucionar o treino e o Futebol Internacional. O seu sucesso comprova que a sua coragem para “refutar”, esteve na base de um legado que deixará ao Mundo.
Não irá ganhar sempre, puderá não vir a ser o treinador mais titulado da História do Futebol, mas uma coisa é certa: transformou o Jogo!

Quantos treinadores no Mundo se podem “gabar” da mesma coisa?


Pois…é!!! Mourinho é de facto um Génio!

7 comentários:

Anónimo disse...

Rica prosa. Gostei. Também eu li e leio muito acerca da genialidade. A conclusão é que o génio vê antes de todos os outros, mas por vezes não consegue concretizar a visão.
Quanto ao senhor em causa, tenho para mim que o melhor ainda está para vir. o Chelsea está a jogar com um esquema quase totalmente novo, um losango móvel. Acho que estamos perante a materialização da realidade virtual: do computador para o revaldo. Melhor do mundo e arredores, não duvido !

Nelson Oliveira disse...

Caríssimo leitor (não sei o seu nome), estamos plenamente de acordo.

Mais do que a qualidade actual, penso que o Mourinho é um treinador em constante "Actualizacao" e evolução...pois basta olharmos o seu trajecto de Leiria...a Londres, e notamos cada vez mais perfeição no seu trabalho.
Há uma preocupacao constante do José em materializar o que ainda está naquela cabeça..e não saiu cá para fora.

Daí repetir, estamos plenamente de acordo.

ps: resta saber se a mentalidade do Futebol se "abrirá" um pouco..absorvendo os metodos de Mourinho, começando a aproximar-se do metodo do mesmo.
Só o futuro..o dirá!

Anónimo disse...

Visionário vs Génio

Nélson,

Depois de ler atentamente o teu texto, devo dizer que não concordo com as conclusões a que chegaste. Muito sucintamente para mim a definição de génio vai de encontrar a uma espécie de "divino partilhado", algo de extremamente belo que nós humanos não temos capacidade para explicar. Para te dar um exemplo saliento o exemplo da música: Mozart com 3 anos compunha óperas, fazia recitais, criava sinfonias...tal como se alguém(Deus ou qualquer entidade metafísica)as estivesse a criar por ele. Noutros grandes compositores como Beethoven, Bach, Vivaldi ou Rachmaninoff podes ver um talento sublime, único, mas que ainda assim não se consegue equiparar ao de Mozart. Falta ali "um bocadinho assim".
Como tal, e fazendo a ponte para o futebol, considero Mourinho um visionário. Alguém que conseguiu mudar a forma de se analisar o futebol graças a um novo método que congrega, sobretudo, o elemento determinante que dá pelo nome de inteligência emotiva.É um "tolo visionário", é certo, mas até certo ponto consegue ser explicado...mas daí a génio....
Talvez se procurarmos mais no interior do campo...ou na Argentina, certo?
Abraço

Nelson Oliveira disse...

Olá Gil!

Pá acho que isso depende um pouco do sentido que se dá a génio ou genialidade.

Para mim, todo e qualquer individuo que tenha a ousadia de refutar dados adquiridos, e criar algo novo...e sobretudo "belo", ou com sucesso. É um génio.

Bill Gates é um génio..no sentido que revolucionou a informatica.
É certo, que já existiam computadores...e também se consegue de certa forma explicar o pké do sucesso do Bill, mas a forma como criou um fenomeno é ,de facto, de génio.

Ou seja, no fundo o Bill G, tb é um visionário...mas genial de qq forma.

No fundo penso que é uma questão de interpretacao e da interpretacao que damos ao termos visionário ou genio.

Compreendo o teu ponto de vista e acho-o 100% legítimo, mas também penso que é relativo..pois a interpretacao que cada 1 dá aos 2 termos em questão...influencia a forma como avaliamos essa dicotomia.

Anónimo disse...

Caro Nelson

Já visito este site há bastante tempo e gosto muito do que leio por aqui. Penso até que temos muito em comum pois temos aprox a mesma idade,tb eu sou um apaixonado por futebol, sou finalista universitario, sou observador de um grande clube e treinador d futebol.No entanto, desta vez, não consigo concordar com o que escreveu. Concordo que o Mourinho é sem duvida muito bom mas daí a ser um génio....Ele, não foi o criador da periodização tactica, apenas a consegui aplicar melhor que os outros. Ainda o Mourinho, não era "O Mourinho" e já o Carlos Carvalhal tinha escrito um livro sobre isso,livro esse tb tem citaçoes do mourinho ainda no Barça. Tb eu li com atenção esse livro e devo confessar que me desiludiu um pouco. Não veio acrescentar muito a quem já conhecia a "periodização tactica" e apenas puseram citaçoes do mourinho e do rui faria e constactaram o facto dos treinadores em Portugal não saberem treinar....Podem perceber mt de futebol mas se não conseguem fazer com que os jogadores façam aquilo que eles querem, não lhes adianta perceberem mt do JOGO em si......

Nelson Oliveira disse...

Caro Anónimo hehehe, pedia-lhe que da proxima se identificasse..pois é sempre mais fácil debater com alguem q tem um nome.


Depois de ler o que escreveu, tenho que lhe dar alguma razão.
De facto, conheco o livro que citou...e sei que a periodização táctica não é algo completamente novo.

De qualquer forma parece-me é que a aplicacao da mesma é algo de novo, e daí ter que admitir que talvez me tenha precipitado no meu texto ao encarar o trabalho como algo de novo.
Para lhe ser o mais sincero possível, nem pus a hipotese de a periodização tactica já existir, e de facto já existe.

De qualquer forma...a forma como ele a sistematiza e aplica e a forma como gere a parte motivacional..é algo de extraordinário.

De qq forma, porque não me referi a isso...da forma como me estou a referir agora, admito que tenha exagerado e ,portanto, dou-lhe razão.

Já agora, disse-me q era treinador.
Está a tirar o curso relacionado com Alto Rendimento? Eu gostaria muito de ter a hipotese de trabalhar directamente com camadas jovens, ou seja, não ambiciono ser treinador ou adjunto de uma equipa sénior, mas sim de camadas jovens. No entanto, segui outro rumo em termos de curso..de forma a acautelar o futuro, pois o Mundo do Futebol é um mundo de conhecimentos e algo fechado.
Se quiser trocar algumas ideias... nelsondoliveira@gmail.com . Fica com o meu mail...pois nunca é d+ trocar informações ou criar debates com gente ligada ao Futebol.

Abraço!

Carlos Miguel disse...

Caro Nelson

Sou jogador de Futebol, estudante de Educação Física (falta-me só 4 cadeiras e estágio+monografia) e estou em Salvador da Bahia desde Agosto de 2006, num intercâmbio com a minha faculdade (FCDEF-Coimbra), onde vou apresentar um trabalho sobre Periodização Táctica num seminário que vai haver dia 26 de Maio organizado pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Desporto. Vai ser novidade para eles porque aqui no Brasil trabalha-se claramente segundo as metodologias do analítico e do integrado.
Sou apaixonado pela área do Treino, principalmente no Futebol, que é o que pretendo seguir, mas ao contrário de ti, quero trabalhar no Alto Rendimento.
Todos os livros publicados que falam sobre a figura do José Mourinho eu li. Confesso que tenho uma grande admiração por ele porque realmente a forma como ele venceu não fica indiferente a ninguém. Avançando...
O anónimo antecipou-se, ao afirmar que realmente o modelo da Periodização Táctica não é da autoria do Mourinho, apesar de ele a ter aplicado muito bem. Tinha conhecimento desse trabalho do Carvalhal, porque tenho um tio da geração desses dois técnicos (seu nome Francisco Carvalho, ex adjunto do João Carlos Pereira na Académica) e ele falou-me desse trabalho.
Relativamente à questão da genialidade, não sei se é génio se não. Chamem-lhe o que quiserem, mas, questões metodológicas à parte, porque realmente já se falava em Periodização Táctica antes do “Mourinho ser o Mourinho” como foi referido, o homem mexeu com aquilo que estava institucionalizado Futebol. Não se deixou misturar com a “baixaria”, e provou ser superior em todos os aspectos. O seu sucesso deve-se em grande parte à metodologia dele, ou seja, à forma de treinar e jogar, mas também à sua postura no meio futebolístico. Realmente a mim provoca-me urticária aquele clima de palmadinhas nas costas do Futebol Português. Enquanto jogador, por exemplo, quando há problemas com treinadores ou dirigentes, e sei que falam mal de nós nas costas, e há um clima de hipocrisia por trás de tudo, a pior coisa que me podem fazer é após um jogo me virem dar palmadas nas costas, quando durante o decorrer do mesmo estão a dizer mal e a torcer para que corra mal. Só para dar um exemplo da postura do Mourinho no Futebol: não há cá palmadas nas costas. Mete-me raiva, aqueles que pensam que ganham mais a frequentar boates e casas de alterne e a conviver com árbitros e com a máfia toda, numa amizade podre, quando assim que puderem são os primeiros a espetar a faca. Mesmo nas divisões secundárias é incrível a quantidade de casos destes. Não foi difícil realmente uma pessoa como o Mourinho se impor.
Agora, que estamos em Maio, e o Mourinho foi eliminado da Champions, acho que estamos numa nova fase da era Mourinho. Há que reconhecer que parte do fracasso dele esta época (porque fracassou claramente não só devido aos resultados mas ao futebol praticado) começou antes da própria temporada começar. Ele é um homem de decisões e atitudes arriscadas ou mesmo super arriscadas. Até agora tinha tido sempre sucesso nas suas decisões mas esta época ao decidir ter um plantel mais curto, embora com um núcleo composto por nomes mais consagrados, não contou que tivesse tantas lesões ao longo da época. Pois é, aconteceu, e o Chelsea não foi o mesmo de outras épocas e mais uma vez não ganhou a Champions. Vamos ver como será daqui para a frente porque, de facto, o Mourinho mudou o Futebol, e vamos ver se o feitiço não se muda contra o feiticeiro. Ao ver o jogo Liverpool- Chelsea constatei que cada vez que um jogador do Chelsea possuía a bola, tinha, próximo de si, 3 a 4 jogadores do Liverpool, num pressing asfixiante, com a equipa toda a realizar um constrangimento espaço-temporal brutal sobre o Chelsea, comparável àquilo que há umas épocas era uma das grandes armas do Porto do Mourinho. O pressing zonal alto.
Estou ansioso para ver como o Mourinho se vai safar desta, porque até ele próprio deverá estar a pensar que já não é assim tão fácil...

O meu mail é carlos_miguel10@hotmail.com

Se quiserem trocar ideias força

Grande abraço e parabéns pelo post