02 março 2006

Os problemas/erros de Adriaanse

Os problemas/erros de Adriaanse.


Adriaanse chegou ao Porto, rotulado de disciplinador e de meste táctico.
Depois de uma pré temporada atribulada, onde teve que dispensar vários jogadores denotou logo uma tendência para jogar no risco, actuando sem um trinco puro.
Esta tentativa, valeu-lhe alguns dissabores em termos de resultados, e alguns lenços brancos.

Até que, o Porto começa a actuar em 4-3-3, com P Assunção como trinco, e a equipa ganha automatismos, consistência e as peças de maior valor no plantel ganham o seu espaço no 11 do FC Porto, á excepção de Ibson (o patinho feio do plantel do Porto).
O Porto começou uma série de resultados positivos, até escorregar na Amadora.
Nada faria prever o que veio a seguir: uma nova revolução.

O FC Porto abandonava o 4-3-3 e passava a actuar num 3-3-4. Adriaanse voltava a apostar no risco, apostando num sistema que precisa de grandes rotinas e de jogadores certos para o sistema funcionar.
O que seria de esperar deste sistema? Muitos golos marcados mas também sofridos. Terá sido assim? Não!

O Porto contra a Naval e já com o 3-3-4, vence por 1-0 num auto-golo, mas sem convencer. Muitos jogadores em poucos metros de terreno, um autêntico atropelo dos jogadores mais avançados e muita confusão. Conclusão: O Porto dominava a posse de bola de forma esmagadora..mas não conseguia rematar á baliza, face ao aglomerado de jogadores em frente á mesma. Na defesa a equipa mostrava solidez e Pepe começava a dar nas vistas.
Contra o Rio Ave, mais do mesmo mas um empate.
No entanto, frente ao Braga, apareceu em campo um Porto diferente. Maiores rotinas, maior entruzamento, mais eficácia no passe e mais perigo a rondar a baliza do adversário.
A defesa continuava implacável.
O empate não materializou a excelente exibição do Porto.
Apartir deste jogo 2 vitórias, primeiro frente ao Belenenses num jogo muito bem conseguido, depois 1 vitória suada num jogo francamente mau frente ao Marítimo.

Chegou o derby de todas as emoções e o Porto actuou de forma diria quase nula, frente a um Benfica que também pouca qualidade demonstrou, mas que acabou por justificar a vitória..com um golo de Laurent Robert.

Após termos a noção de como tem evoluído o sistema 3-3-4 no FC Porto, chegamos rapidamente a várias conclusões:
-O Porto com mais avançados marca poucos golos
-O Porto com menos defesas sofre poucos golos
-As exibições não são regulares.

O que estará a falhar neste sistema táctico? Será totalmente desadequado?
Bom, em primeiro lugar penso que o 3-3-4 é demasiado arriscado e “parte” demasiadamente a equipa em defesa e ataque.
Não é o facto de actuar com 3 defesas que faz da equipa de Adriaanse um alvo frágil, pois as compensações têm sido bem conseguidas e os espaços têm sido bem fechados.
O problema está na utilização de 2 trincos (bastante móveis..como é o caso d P Assunção, que sem a posse de bola fecha com defesa central), de um único médio volante (Lucho) e depois de 4 jogadores 30 metros mais á frente. Cria-se um fosso enorme entre defesa e ataque, mesmo jogando com a linha defensiva bem á frente.
Como se fazem então as transições defesa ataque? Ou em bolas bombeadas, ou através de Lucho (se este tiver liberdade) ou então através do recuo de Adriano entre linhas, para receber a bola…segura-la fazendo o compasso de espera para os trincos subirem no terreno.

E foi aqui que residiu o grande problema do FC Porto na Luz. Aliás, é exactamente nas transições onde está o grave problema desta dinâmica táctica do Holandês Adriaanse.

Koeman estudou bem o Porto, pediu marcação cerradíssima a Lucho e pediu pouco espaço a Adriano. Conclusão? O Porto não conseguiu sair da defesa para o ataque, pois os elementos das transições estavam anulados, e só os extremos através de rasgos individuais poderiam conseguir “empurrar” a equipa para a frente.

Concluo portanto que um dos grandes problemas e um dos grandes causadores de irregularidade neste sistema é a previsibilidade nas transições e a dependência num Homem apenas para as fazer-Lucho. Ora se o Argentino for anulado os problemas do Porto aumentam e de que maneira.
Como resolver o problema?

Parece-me a mim que a maneira mais fácil de tentar resolver este problema, será abdicar de um avançado colocando mais 1 médio em campo, ou seja, passar do 3-3-4, para o mais “normal” 3-4-3.
Em termos defensivos a dinâmica e o posicionamento ficariam iguais, mas em termos de ataque e de posse de bola, a possibilidade de actuar com um chamado “10”, capaz de fazer as transições, procurar o ultimo passe, aparecer nas costas do Ponta de lança para finalizar..traria grandes benefícios ao Porto.

No entanto, caímos aqui no 2º problema deste Porto.
Para actuar como número 10, temos (segundo as contas de Adriaanse) um único jogador: Diego.
Será Diego o jogador ideal para ocupar esta função dentro da realidade que é este sistema táctico? Não.
Diego é um jogador com lacunas em termos de movimentação sem bola, denota ainda um problema estereotipado Brasileiro que é alguma lentidão no passe. Não é um jogador que apareça na zona de finalização e sobretudo é um jogador com fracos índices físicos, o que provoca que nas 2as partes acabe por desaparecer do campo.
Que outras alternativas teria Adriaanse?
Lisandro já foi testado nessa posição e não convenceu, pois é claramente um jogador de diagonais e de aparecer nas costas do ponta de lança para finalizar.
Anderson é um jovem, e Adriaanse ainda está em fase de laboratório com ele, o que antevê que não seja opção nos próximos jogos.
Resta-nos o mal amado Jorginho. O Brasileiro é um jogador em claro défice de confiança, face aos constantes assobios da massa adepta Portista.
É verdade que teve exibições deploráveis, mas também é verdade que denota características interessantes.
No Porto é utilizado invariavelmente no corredor direito. E no Setúbal? Pois, no Setúbal era utilizado como vagabundo do meio campo ofensivo Sadino, ou então a descair um pouco na esquerda. Tinha a liberdade para se movimentar á procura de espaço para receber, embalar e finalizar.
Não será este tipo de jogador que o Porto precisa como número 10? Não vou responder que sim, pois Jorginho tem actuado muito mal, mas penso que é merecedor de uma oportunidade na posição onde disparou para a notoriedade e que lhe valeu um contrato com o Futebol Clube do Porto.

Por fim, falar da utilização de Jorginho, leva-me a um último problema na gestão de Adriaanse: a utilização dos jogadores errados, nas posições erradas.
Em 1º lugar. Cech num sistema de 3 defesas não é compatível, pois é débil em termos defensivos.
Adriano é utilizado numa função que não é a sua. Veio rotulado de goleador para o Porto, jogou em Portugal sempre como numero 9 puro, e no Porto é obrigado a jogar entre linhas.
Ivanildo tem potencialidades, tem qualidade técnica, mas é 0 em termos tácticos, raramente procura as desmarcações e diagonais para a sua velocidade, e tem um défice enorme de jogo colectivo. É verdade que o Porto não tem esquerdinos, mas existem outras adaptações mais viáveis para esta posição.

Ibson é um jogador de enorme talento desaproveitado. Adriaanse não gosta do brasileiro a defender? E que tal testa-lo um pouco mais á frente? Tem técnica, tem visão, tem qualidade de passe, porque não?

Por fim Bosingwa, tem características para ser um jogador de enorme talento, mas falta-lhe o principal…inteligência. Complica jogadas fáceis, denota falta de visão de jogo…e denota sobretudo intranquilidade. Não é o atleta ideal para este sistema de 3 defesas. Talvez R. Costa, desse ao Porto maior tranquilidade defensiva.


Finalizo, dizendo que o Sistema táctico utilizado por Adriaanse não é o seu pecado capital, pois face á realidade do campeonato Portugues e forma de actual de algumas equipas até tem a sua lógica abdicar de um defesa.
No entanto, penso que alguns jogadores estão a ser utilizados em posições indevidas, provocando menor rendimento em campo. Por outro lado, outros jogadores não são utilizados, jogadores esses com qualidade e que podem “emprestar” á equipa outro tipo de soluções.

Faltam poucas jornadas para o fim, e a verdade é que Adriaanse ainda não encontrou o seu 11, o seu sistema táctico e a sua dinâmica. Tempo a mais……
Veremos se estas hesitações serão ou não fatais..na tentativa de conquista do campeonato.

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